The Economist em matéria sobre o Acre (O novo boom da borracha)

Tradução (Narinha Braña) O primeiro boom brasileiro da borracha, provocado pela invenção do carro, terminou abruptamente com o cultivo bem-sucedido da seringueira nas plantações da Ásia. O segundo, fornecendo aos aliados na  depois que o Japão cortou as suas fontes de borracha durante a Segunda Guerra mundial, mal sobreviveu à luta. Os milionários nesse processo foram os exploradores/seringalistas e os seringueiros (e quase-escravos) que manejavam o látex não prosperaram. Agora, em regiões mais remotas da Amazônia, a borracha está fazendo um retorno provisório. Desta vez, os seringueiros estão tentando escrever o roteiro.

Assassinado por fazendeiros em 1988, Chico Mendes, que liderou a luta dos seringueiros “contra os madeireiros e pecuaristas”, selou uma aliança com os ambientalistas. Ele também plantou sementes da mudança no Acre, estado de origem de Mendes, que avançou no governo auto-proclamado “governo da floresta”, que começou em 1999. O Governo da Floresta ajudou Extrativistas e moradores da floresta a colher produtos sustentáveis e formar cooperativas, além de diversificar as culturas tradicionais de borracha e castanha do Brasil e buscar novos mercados.

[Amazônia Brasileira]

[O estado brasileiro do Acre é pioneiro em abordagem no desenvolvimento que busca tirar o máximo da floresta

[Dezembro/2012 | Xapuri, Acre | a partir da edição impressa]

O objetivo, diz Tião Viana, governador do Acre, é fazer com que a floresta em pé seja mais valiosa do que exploração madeireira e a pecuária, de modo que o Acre possa proteger árvores sem sacrificar o desenvolvimento. Desde 1999, o Estado foi mapeado e zoneado, com grande parte de sua floresta protegida como parques e reservas para os índios ou Extrativistas. Alguns, principalmente em pequena escala, os agricultores ainda “limpam” (queimam) florestas ilegalmente. Mas as regras para o desmate foram amplamente endurecidas pelo governo federal. Algumas áreas anteriormente desmatadas devem ser replantadas, alguns podem ser utilizados para agricultura de baixo impacto, e outros são utilizados para produtos florestais-industriais. “Nós não precisamos desmatar mais”, diz Tião Viana. “Mas não estamos com medo de usar o que já foi liberado para o desenvolvimento”.

Em Xapuri, cidade natal  de Chico Mendes (ver mapa), uma fábrica que leva seu nome seleciona e empacota nozes (produtos da floresta como castanha) selvagens do Brasil. Ela é dirigida pela Cooperacre, uma cooperativa de mais de 2.000 pequenos produtores. Próximo dali tem a Natex, o único fabricante de preservativos do mundo a utilizar látex de seringueiras selvagens.. compra matéria-prima de 700 famílias. A empresa paga um pouco mais do que o valor de mercado e o governo do Acre acrescenta um subsídio em reconhecimento de seu papel na proteção da floresta. O governo federal compra toda a produção da fábrica de 100 milhões de preservativos por ano, como parte de seu programa anti-Aids nacional.

Seringal Veneza, uma reserva de seringueiros perto de Feijó, fica distante da empresa Natex para fornecer matéria prima para a fabricação de preservativos. Mas um grupo de 32 famílias de lá está usando técnicas desenvolvidas na Universidade de Brasília para processar látex no local. As folhas de borracha resultantes são mais fáceis de armazenar e transportar, e buscar um preço muito mais elevado. Veja, uma empresa de calçados francesa, é um cliente e Flavia Amadeu, um designer com sede no Rio de Janeiro, está treinando os seringueirosa para tingir e dar textura às folhas a serem feitas em jóias.

Estradas levam moradores rurais aos postos de saúde e escolas e produtos para o mercado extrativista. Mas elas (estradas) também facilitam para trazer as motosserras. Sr. Viana (governador) está concluindo o último trecho da estrada que liga o Acre ao resto do Brasil, e tenta limitar o seu impacto sobre a floresta. Próximo à cidade de Feijó, áreas cultivadas servem de resguardo entre a estrada e terra virgem: em 2000, o Estado concedeu 4,5 hectares (11 acres) parcelas de pastagem degradada ao longo da estrada para os agricultores familiares. Aqueles que reflorestaram e evitaram a uso do fogo para limpeza receberam sementes, treinamento, ajuda para encontrar compradores e um subsídio de 500 reais (240 dólares) por ano.

Com castanha, borracha e açaí (uma fruta amazônica) uma família pode ganhar até 2.000 reais por mês, estima o WWF-Brasil, um grupo de conservação que trabalha com o governo do Acre e os Extrativistas. Que a renda poderia ser impulsionada pela adição de mais culturas, como outras frutas e sementes de jarina, que parecem de marfim, e da apicultura. A piscicultura é promissora: o pirarucu, uma grande espécie amazônica, obtém preços elevados e oferece uma fonte de proteína para substituir a carne.

Há espaço, também, para o registro de marca: A emissão dos preservativos encomendados pelo governo através da Natex vem em embalagem simples para que nada distraia de sua mensagem de sexo seguro. Uma linha comercial sugerida poderia vender aos amantes a chance de proteger a floresta, bem como a si mesmos.

Por mais de uma década a taxa de crescimento econômico do Acre superou a média brasileira. Suas escolas e serviços de saúde melhoraram, pobreza e analfabetismo caíram, muito mais rápido do que a média, também. Mas a intensificação de políticas sob medida do estado do desenvolvimento sustentável em toda a região paternalista seria difícil, assim como caro. O Acre é pequeno apenas 3,5% da Amazônia (embora ainda maior que a Inglaterra). E pouco dele está dentro do “arco do desmatamento”, a fronteira entre a terra existente e floresta, onde a agricultura de corte-e-queima é mais tentadora. Isso tornou mais fácil para resolver disputas de terra e fazer cumprir as leis de zoneamento. Talvez a lição mais importante para outros estados do exemplo do Acre é simplesmente que as politicas sejam amigáveis para árvores e para as pessoas também.

[Tradução para oestadoacre.com: Narinha Braña]  – Matéria original em inglês aqui

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