O papel da Petrobras no desenvolvimento do país foi tema de discurso nesta quarta-feira, 13 de março, no Congresso. O vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), subiu ontem à tribuna para cobrar coerência dos tucanos. Ele lembrou que desde a chegada do PT à Presidência da República, a Petrobras quadruplicou seu faturamento e seus investimentos em 10 anos, dobrou seus lucros e o quadro de pessoal (veja quadro abaixo).
O senador disse que os tucanos cometeram muitos equívocos quando estavam no poder, desde a tentativa de privatizar a estatal até a gestão catastrófica que gerou prejuízos para o país. Jorge Viana mostrou o memorando do governo brasileiro para o FMI, de 8 de agosto de 1999, onde Fernando Henrique esboçava plano de privatização parcial do Banco do Brasil, da Caixa e da Petrobras, e a privatização integral de Furnas. “Queriam vender a Petrobras e agora falam em reestatizar a empresa”, questionou.
“O passado do PSDB à frente da Petrobras não é bonito”, criticou o petista, ironizando a “gestão técnica” dos tucanos na empresa. “O país assistiu em 2001 ao maior desastre da história da Petrobras, com a morte de 11 funcionários da estatal e o afundamento da plataforma P-36”, disse. “Um prejuízo de R$ 1,5 bilhão para o país”.
Na terça-feira, o PSDB realizou em Brasília o seminário “Recuperar a Petrobras é nosso desafio”, apontando o que seriam graves problemas de gestão da estatal. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) chegou a falar em “reestatizar a Petrobras”, que estaria “partidarizada excessivamente” pelo PT. Aécio esteve antes de Viana na tribuna e reiterou as críticas à presidenta Dilma Rousseff.
“Os tucanos falam do passado recente da Petrobras, sob a gestão do PT, mas nenhum comenta a experiência do PSDB na Petrobras”, acusou Viana. “Aécio fala em reestatizar a Petrobras. Reestatizar? No governo FH a palavra de ordem era privatizar!” Em aparte, o líder do PT, Wellington Dias (PI), advertiu para o estranho jogo de interesses nas críticas feitas aos investimentos promovidos nos últimos anos pela estatal. “A forma é como se pudessem enganar a maioria do povo brasileiro”, disse.
Adversários
Jorge Viana defendeu a gestão de Graça Foster e seus antecessores, José Gabrielli e José Eduardo Dutra, e criticou duramente os adversários. “A Petrobras quase passou a ser chamada de Petrobrax no segundo governo de Fernando Henrique”, disse. “Há 12 anos, o país viu a uma das piores gestões da nossa estatal”. Ele comentou que, entre 1998 e 2001, 86 trabalhadores da Petrobras morreram vítimas de acidentes em plataformas de petróleo. Em 2002, outros dois acidentes mataram cinco operários.
“Em menos de 48 horas, no Natal de 2000, a Petrobras perdeu a letra S, virou PetroBrax e voltou a ter o seu nome original de batismo. Foram gastos nada menos que R$ 2,3 milhões. Isso é gestão técnica?” O petista comentou que o governo tucano só recuou da idéia de privatizar a estatal por causa da pressão popular.
Jorge Viana lamentou, ainda, que apenas em 2001, o país assistiu a quatro acidentes da Petrobras na Bacia de Campos, na região norte do Estado do Rio. O mais trágico aconteceu na madrugada de 15 de março daquele ano, quando ocorreram três explosões sucessivas em um tanque de óleo e gás da plataforma P-36, instalada no Campo do Roncador, no litoral norte fluminense.
Na época, a empresa chegou a montar uma megaoperação de resgate da plataforma, mas não teve sucesso: cinco dias depois, a estrutura de 40 mil toneladas afundou do mar. “A P-36 era a maior e a mais avançada plataforma semi-submersível do mundo”, observou. “Essa era a gestão técnica?” O custo da P-36 foi de R$ 750 milhões.
Segundo o senador petista, na época “da gestão técnica do PSDB”, a ordem era enxugar o quadro de pessoal, prática continuada e imposta pelos sucessivos governos à Petrobras desde o início dos anos 90. “Dos 60 mil funcionários que a empresa tinha em 1990, restavam em 2001 apenas 34.100”, destacou Viana. “Em 2013, na gestão da presidente Graça Foster, a Petrobras tem 85 mil funcionários”.
“Estranho quando o PSDB fala em reestatizar a Petrobras. Não é o que o praticou no governo”, comentou. “Isso mostra as diferenças entre PT e PSDB. O PSDB quebrou o país e recorreu ao FMI. O governo do PT, do presidente Lula, quitou os empréstimos com o FMI”, destacou.
Petrobras na gestão tucana e petista
|
2002 |
2012 |
Receita |
R$ 69,2 bilhões |
R$ 281,3 bilhões |
Lucro líquido |
R$ 8,098 bilhões |
R$ 21,18 bilhões |
Investimento |
R$ 18,9 bilhões |
R$ 84,1 bilhões |
Valor de mercado |
US$ 15,5 bilhões |
US$ 126 bilhões |
Produção de óleo no Brasil |
1,5 milhão de barris/dia |
2 milhões de barris/dia |
Pessoal |
46,6 mil trabalhadores |
85 mil trabalhadores |
Reservas provadas * |
11 bilhões de barris de óleo equivalente |
15,7 bilhões de barris de óleo equivalente |
Volume de vendas de derivados no Brasil |
1,6 milhão de barris/dia |
2,285 milhões de barris/dia |
* Cálculo exclui 14,5 bilhões de barris estimados no Pré-Sal