Breno analisa a situação do momento – PSDB deslizou para o reacinarismo e atua em todas as trincheiras para deslegitimar o governo Dilma.
autor: Breno Altman
A esquerda e o petismo estão um tanto perplexos com a nova estratégia da direita. Afinal, ao contrário do que se passou em pleitos anteriores, o bloco conservador trocou o recuo para acumulação de forças, que naturalmente se segue a derrotas eleitorais, por escalada agressiva e militante contra o governo.
Amparados pela artilharia fornecida pelo baronato da mídia, os liberais-democratas do PSDB deslizaram para o território do reacionarismo e passaram a comandar ofensiva contínua, em todas as trincheiras do Estado e da sociedade, com os objetivos de deslegitimar, sabotar e desestabilizar o oficialismo.
O caldo de cultura é semelhante a outros momentos de nossa história, como as crises de 1954 e 1964, mas a situação concreta difere profundamente. Tanto as circunstâncias internacionais quanto as internas não colocam, no horizonte visível, o risco de saída anticonstitucional propiciada por intervenção militar.
O ambiente, contudo, é parecido.
Estas similitudes, por sua vez, estimulam o surgimento de teorias conspiratórias, devidamente banhadas por atitude alarmista, natural entre aqueles que desejam barrar a maré montante do conservadorismo.
Antigamente setores de esquerda tinham a esperança de encontrar a revolução logo na esquina. A mesma ansiedade parece levar, nos tempos presentes, a que se veja trama golpista em cada canto.
O problema desta embocadura não é de pouca relevância. Quando se permuta a crítica e a informação do processo político pela denúncia à exaustão de episódios isolados, sem provas contundentes e insofismáveis, fica-se dependente de um fato mágico.
Caso o cenário confabulado não se materialize, zero e vezeiro nas teorias da conspiração, costuma sobrevir uma enganosa sensação de alívio, como se o processo estivesse interrompido porque a previsão catastrófica foi frustrada.
Tampouco este procedimento tem utilidade razoável no período precedente ao golpe previsto. Normalmente paralisa e atemoriza parte das forças ameaçadas, pois o discurso dramático, para ser convincente, apresenta a manobra como bem engendrada e inevitável.
Além disso, por conta do perigo supostamente real e imediato que estaria em curso, agitam-se os que querem interditar qualquer debate sério sobre problemas e erros na política que eventualmente prevalece no campo progressista.
Qualquer dissidência, nestas horas, costuma ser considerada ato de traição.
A experiência mais recente com este tipo de alarmismo ocorreu nesta semana, durante o julgamento das contas de campanha da presidente Dilma Rousseff.
Estabeleceu-se, em certas frações da esquerda, particularmente na blogosfera, a certeza que a bala de prata do conservadorismo seria a rejeição da contabilidade petista.
O ministro Gilmar Mendes lideraria operação para impugnar o relatório de Dilma, dividindo ou conquistando o pleno do TSE, de quebra aludindo vínculos com a Operação Lava Jato, e fixando caminho jurídico para a interrupção do mandato presidencial.
Nada disto aconteceu.
O togado preferido dos tucanos estrebuchou, mas aprovou as contas dilmistas, acompanhado pela unanimidade dos integrantes da corte eleitoral.
Muitos daqueles que acreditaram nesta conspiração, como é de praxe, agora celebram com entusiasmo a derrota do golpe que não houve.
Reiteram que teria acabado o terceiro turno, permitindo ao país dias mais amenos, de volta à normalidade.
Depois da ilusão catastrófica, a cândida fantasia.
O golpismo, porém, continua vivo e respira.
Trata-se de estratégia que busca bloquear o governo petista, encurralando-o e solapando sua capacidade de ação, para desidratá-lo e desossá-lo antes da primavera de 2018.
Podemos nos referir a essa política como golpista porque pretende, no limite, articular instrumentos institucionais que se contraponham à soberania das urnas e interrompam a segunda administração de Dilma Rousseff.
Talvez tomados de surpresa, o PT e o governo tentam esboçar orientação para sair da defensiva e retomar as reformas, em clima de alta densidade político-ideológica e radicalização do conflito distributivo.
O alarmismo não ajuda neste esforço.
Retesa músculos e nervos das forças progressistas ao redor de supostos acontecimentos épicos.
Reduz a concentração no que realmente importa: a reconstituição dos trabalhadores e seus aliados como protagonistas da vida política, com um novo programa de mudanças e suas próprias formas de ação, dentro e fora das instituições.