Autor: Miguel do Rosário
O Cafesinho
Todos os golpes de Estado da direita, no Brasil e no resto do mundo, usam a luta contra a corrupção como desculpa.
É a desculpa mais fácil de ser aceita, porque existe, de fato, corrupção, em todo governo.
Num governo democrático, a corrupção é mais visível, porque há oposição livre, há imprensa livre, e o governo não tem controle sobre os braços autônomos do Estado, como Judiciário e Ministério Público.
No caso do Brasil, já constatamos que a PF também se tornou um órgão autônomo, o que não seria de todo mal, não fosse a vergonhosa e desavergonhada partidarização que invadiu a corporação.
O governo tem culpa, naturalmente, por não ter feito a luta política na comunicação, deixando que o envenenamento tomasse conta do próprio aparelho do Estado.
Agentes da PF também lêem a Veja e assistam ao Globo.
No caso da Petrobrás, o golpe é fácil de ser dado. Porque é evidente, infelizmente evidente, que um setor cuja magnitude dos investimentos passaram da ordem de bilhões para centenas de bilhões, atrairia todo do tipo de picaretas, oficiais ou clandestinos.
O golpe acontece porque a investigação é midiatizada, e orientada politicamente.
Confira a manifestação dos advogados dos executivos presos.
A Justiça não divulga o processo sequer a seus advogados, de maneira que eles nem sabem do que estão sendo acusados.
Por muito menos, a mídia acusou a PF de “espetacularização”, quando começou a prender os amigos de Daniel Dantas, e o próprio.
O objetivo é simples: intimidar e forçar os executivos a darem declarações que possam ser usadas politicamente pela mídia de oposição.
Daí começarão os vazamentos seletivos, feitos em interrogatórios conduzidos por agentes que já manifestaram suas intenções políticas nas redes sociais.
Já falam até em “Operações Mãos Limpas”, o espetáculo inventado pela mídia italiana que resultou em 25 anos de Berlusconi.
Um dos advogados dos presos, Alberto Toron, inclusive já sacou o jogo:
Toron conta que colocou os executivos da UTC/Constran à disposição da Justiça há cerca de um mês. “Não dá para entender por que houve a prisão. A prisão parece ter-se tornado um modo de constranger e obter delação. É um processo kafkiano, que não faz o menor sentido em um Estado democrático.”
Observe bem, não há condenação, e os executivos se colocaram a disposição da Justiça há mais de um mês.
Sergio Moro quer delação premiada, porque este é o instrumento do golpe.
Para isso estão usando a mão pesada do Estado para constranger, intimidar, ameaçar.
Se os agentes da PF e os procuradores estão sob suspeita de orientarem politicamente todo o processo investigativo, como podemos estar seguros de que o interrogatório será feito de maneira republicana e imparcial?