No texto, Rabelo destaca o significado das manifestações populares do dia 13 de março, organizadas pela CUT, CTB, MST, UNE e outras entidades, em defesa da democracia e do mandato da presidenta Dilma. E denuncia o caráter direitista das manifestações do dia 15.
Leia abaixo a íntegra da nota:
Unir o povo em defesa da democracia e do Brasil
Serenidade e firmeza diante da batalha das ruas
Nos dias 13 e 15 de março, a acirrada luta política em andamento no país desembocou no leito das avenidas de capitais e de algumas outras grandes cidades.
As expressivas manifestações do dia 13, constituídas sobretudo de trabalhadores, estudantes e de outras camadas do povo, marcaram firme posição em defesa da democracia, do mandato constitucional da presidenta Dilma Rousseff, contra o golpismo; pela salvaguarda da Petrobras; defesa dos direitos trabalhistas; contra a corrupção e pelo fim do financiamento empresarial das campanhas. O dia 13 foi organizado pelas centrais sindicais, como a CUT e a CTB, pelo MST e por entidades como a UNE. O povo foi à rua enfrentando o boicote, e mesmo hostilidade da grande mídia, e apenas com recursos de seus movimentos.
Já as manifestações do dia 15, reconhecidamente numerosas, em especial a de São Paulo, contaram com o poder de comunicação da grande mídia, de um esquema profissional nas redes sociais, que as disseminaram por dois meses. Os grandes veículos da mídia desde as primeiras horas do dia 15 fizeram um verdadeiro chamamento à população para que ela se deslocasse ao local dos atos. Atos que também tiveram a interveniência e o suporte de grandes grupos econômicos.
É falsa, portanto, a avaliação disseminada de que o dia 15 é obra pura e simples de pequenos grupos que se proclamam “apartidários”. Realmente surgiu uma militância e grupos de direita e extrema-direita – produtos do acirramento da luta política – da cultura do preconceito e da intolerância alastrada desde a campanha eleitoral dos tucanos, que hoje se infiltram e procuram surfar no descontentamento no seio do povo, proclamando serem a anti-política.
Essa situação ganhou uma dimensão maior pela pregação e manipulação exaustiva e prolongada da grande mídia contra a presidenta Dilma e o PT. Essa interferência ostensiva galvanizou a presença de largas camadas da sociedade revoltadas com os escândalos de corrupção e impactadas com os efeitos do baixo crescimento da economia.
Desse modo, exatamente quando, no dia 15, se comemorava os 30 anos da conquista da democracia e da liberdade pós-regime ditatorial, predominou nas manifestações ou a pregação de um impeachment fraudulento contra uma presidenta legitimamente recém-eleita, ou tacanhos e obscuros clamores por uma “intervenção militar”. Provavelmente parcelas daqueles que ali estavam, mas que têm sentimento democrático, se sentiram incomodados ou pessimamente acompanhados.
Impulsionar a contraofensiva, constituir a frente ampla democrática e patriótica
Se, por um lado, é preciso tirar as consequências do inegável impacto dessa manifestação do dia 15 numa conjuntura já turbulenta, por outro, precisamos manter a serenidade, repelir com desassombro a provocação, o golpismo o revanchismo da direita e seguir firmes na resistência e impulsionando com sagacidade a contraofensiva. É hora de lutar inspirados na sabedoria que o povo e as forças avançadas acumularam ao longo de históricas jornadas políticas.
Essa sabedoria nos ordena a construir uma frente ampla com todas as forças possíveis do campo democrático e patriótico, interessadas na defesa da democracia, da economia nacional e da retomada do crescimento. A oposição neoliberal desde a campanha eleitoral agregou por inteiro o campo político e social conservador e reacionário, sob a orquestração da mídia hegemônica a serviço de poderosos interesses da oligarquia financeira. Somente uma frente ampla que una as forças patrióticas, progressistas e democráticas da Nação será capaz de enfrentar, isolar e derrotar esse consórcio da oposição que se dedica ao quanto pior, melhor e trama o retrocesso.
Em nossa opinião, essa frente ampla, nas atuais circunstâncias, irá se constituir a partir de bandeiras que respondam aos anseios mais vivos e sentidos por todos aqueles que têm compromisso com o Brasil e lutam por mais conquistas: Defesa da democracia, da legalidade, do mandato legítimo e constitucional da presidenta Dilma; defesa da Petrobras, da economia e da engenharia nacional; combate à corrupção, fim do financiamento empresarial das campanhas; e pela retomada do crescimento econômico do país e garantia dos direitos sociais e trabalhistas.
Construir a frente ampla, agora e já, é uma tarefa das lideranças do conjunto dos partidos da base aliada, e mesmo de personalidades da sociedade civil que apoiem ou não o governo, mas que tenham afinidade com as bandeiras acima assinaladas, dentre outras. A esquerda, sem abdicar de sua pauta, deve se empenhar ao máximo por esse empreendimento mais candente.
A frente ampla se constituirá, também, pela iniciativa da presidenta Dilma, de uma ação constante – apoiada em núcleo político plural consoante ao perfil heterogêneo da coalizão – para pactuar uma recomposição da base política que assegure ao governo maioria no Congresso Nacional. De igual modo, cabe à presidenta liderar a reaglutinação da base social que apoiou sua reeleição, nomeadamente trabalhadores e empresários do setor produtivo, buscando, inclusive, ampliá-la.
Quanto à batalha das ruas, que ao que tudo indica terá novos capítulos, temos que, sobretudo, alargar nossas forças, nos empenhar no engajamento de crescentes camadas do povo, dos trabalhadores, da juventude e mesmo de outros setores da sociedade. Ampliar as articulações, preparar bem as novas iniciativas para manifestações oportunamente mais amplas e vigorosas.
São Paulo, 17 de março de 2015.
Renato Rabelo
Presidente do Partido Comunista do Brasil – PCdoB