O que combater: o terror ou caminhão de ódio?

Fernando Brito
Tijolaço

Foto: AFP

A melhor denominação dada ao que se fez na carnificina de Nice foi dada pelo Papa Francisco,  condenando ” as manifestações de loucura homicida, de ódio, de terrorismo e qualquer ataque à paz“.

Porque são a loucura e o ódio que, misturados, formam o caldo de onde emergem os monstros.

Porque é isso que se trata, pois até agora, a não ser por uma generalização da provável origem tunisiana do motorista assassino do caminhão, desconhece-se qualquer ligação entre ele e qualquer grupo terrorista organizado, assim como muito pouco disso se encontrou no norte-americano descendente de afegãos que produziu, dias atrás, o massacre da boate Pulse, na Flórida.

A origem árabe diz quase nada. Há milhões de franceses de origem árabe, muitos deles tunisinos, sobretudo no Sul do país. A Tunísia foi, até 50 anos atrás, colônia francesa na África.

O que se tem até este instante é uma pessoa que agiu como quem joga um destes videogames brutais onde se sai atropelando pedestres. O arsenal de “fuzis e  granadas” encontrados na caçamba do veículo, falsos ou “de brinquedo” reforça a impressão que se trata de uma louca morbidez em ser visto como parte de um grupo “terrorista”.

Chegou-se, por toda a parte, inclusive aqui – ainda que em escala menor, felizmente e por enquanto – a um grau de ódio generalizado, que faz com que sociopatas cheguem a ações deste tipo.

A necessidade de rotular e “criminalizar” pessoas por sua origem, religião, ideologia, gênero é uma compulsão desenvolvida pela mídia e pelo conservadorismo ajuda, também, a que haja o mesmo em sentido inverso. O ódio é função direta da discriminação e a discriminação é a perda de reconhecer no outro a sua mesma condição humana, em essência.

O embrutecimento social produz as figuras nefastas como a que guiou o caminhão de Nice.

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