Crônica do Dandão: Goleiros, estilos e manias

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Por Francisco Dandão

Sábado passado, assistindo pela televisão o goleiro Weverton brilhar na disputa dos pênaltis que determinaram a vitória do Palmeiras sobre o Corinthians, na decisão do título paulista deste ano de pandemia, eu fiquei
lembrando o quanto o futebol acreano já teve goleiros de altíssimo quilate.

Naturalmente, Weverton, por tudo o que conquistou até aqui em nível nacional, pode ser apontado como o maior de todos os goleiros nascidos no Acre. O título paulista foi só a conquista mais recente. Mas ele
tem até uma medalha de ouro olímpica. A primeira conquistada pela seleção do Brasil.

Independentemente, porém, da qualidade dos goleiros acreanos, o que eu quero ressaltar mesmo nesta crônica de hoje é o estilo e as manias que alguns desses caras mostraram para os torcedores das suas épocas.
Desde uns que passavam breu nas mãos até o que treinava pegar pênaltis de costas!

A história de passar breu nas mãos começou com um goleiro que chegou ao Acre para trabalhar numa serraria atrás do Colégio dos Padres (hoje Meta). Chamava-se Pope e foi defender o Juventus. Como não
existiam luvas, o breu servia para amortecer os chutes e grudar a bola nas mãos.

A mania do Pope naquele início da década de 1970 não pegou assim de forma tão massiva. Mas rendeu pelo menos um seguidor. Ninguém menos do que o meu querido amigo João Petrolitano.

O João era suplente do Benevides, no Vasco. Mas não descuidava do breu, mesmo na reserva.
No caso do sujeito que treinava defender pênaltis de costas, ele se
chamava Espanhol. Jogou no Rio Branco entre 1971 e 1972.

Ele ficava de costas para o batedor e alguém avisava quando a bola saía dos pés deste. E
aí ele virava para tentar pegar a bola. Dizia que era para apurar os reflexos!

Esse dito Espanhol (apelido alusivo ao país de origem dele), que morava numa casinha de madeira atrás das arquibancadas do estádio José de Melo, costumava passar duas horas, diariamente, deitado no meio do
campo, entre 11h e 13h. Dizia que era para se acostumar com o sol da Amazônia!

E teve o Pituba, um negro baixinho, mas de elasticidade espantosa, morador do bairro da Capoeira, que durante longos anos ajudou a escrever a história do glorioso Andirá. A mania do Pituba era comemorar os raros
gols do “time morcegueiro” com saltos mortais: dois para a frente e dois para trás.
É por aí.

Que o Weverton continue por muito tempo a sua carreira de pleno brilho. Enquanto isso eu fico por aqui tentando lembrar as histórias dos goleiros acreanos que já aposentaram as suas respectivas luvas. As
histórias são as mais pitorescas possíveis. Qualquer dia eu conto outras!

(Francisco Dandão, escritor, poeta, professor, jornalista)

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