Crônica do Dandão: Soco no ar

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Soco no ar

Francisco Dandão

Na segunda metade da década de 1970, grande parte dos meninos e adolescentes espalhados pelo vasto espaço territorial brasileiro queria ser craque de futebol. O Brasil havia sido tricampeão mundial, no México, uns anos antes, e um jogador de destaque recebia muita grana e igual atenção.

Havia candidato a estrela que treinava até imitar os seus ídolos. Eu lembro de menino que só andava na ponta do pé, sem deixar o calcanhar tocar no chão. Dizia-se, à época, que essa prática servia para fortalecer as panturrilhas e que craque mesmo se podia reconhecer pelo jeito de andar. Rs.

Foi por esse tempo que o meu amigo Antônio Augusto Martins Freire, conhecidíssimo nas melhores peladas de veteranos do ramo, nos dias atuais, por Toninho Bill, resolveu seguir os passos de alguns colegas de bairro e foi tentar a sorte no elenco do time juvenil do glorioso Atlético Clube Juventus.

Toninho Bill, dizem testemunhas oculares, rebentava num campinho de terra batida que ficava nas imediações do Hospital Infantil. Afirma-se que ele jogava com desenvoltura no meio dos adultos, driblava como gente grande e que gostava de comemorar seus gols com violentos socos no ar.

Quando chegou ao Juventus, Toninho se candidatou a uma vaga na lateral-esquerda. A escolha se deu depois de alguma análise. É que Antônio Maria, titular do time principal, estava prestes a pendurar as chuteiras. E o titular dos juvenis, o Cara Rachada, não lhe pareceu jogar muita coisa não.

Treina daqui, treina dali, Toninho Bill foi admitido para fazer parte do time juvenil. Mas com uma condição: teria que esperar sua vez para entrar em campo. Havia uma questão de hierarquia por antiguidade. E, nesse caso, o Cara Rachada já estava no clube há mais tempo e seguiria como titular.

Tranquilo, Toninho Bill aceitou esquentar o banco de reservas, jurando que quando entrasse não sairia mais. Para isso, passou a aprimorar a mania de atacar. E o fez com tanta volúpia que não faltou quem o comparasse com o Marinho Chagas, lateral do Botafogo que detestava ficar na defesa.

Um belo dia, num jogo contra o arquirrival Rio Branco, na hora de vestir o uniforme para ir à campo, eis que o titular Cara Rachada não aguentou calçar as chuteiras, dizendo que naquela manhã, ao pisar em falso na beira de uma calçada havia “desmentido” o pé. Estava fora de combate!

O jeito foi o técnico Jesus Lima escalar o Toninho. Este, na primeira oportunidade, subiu ao ataque e fez um gol de peixinho. E comemorou socando o ar. Quando se acalmou, viu que o bandeira Porco Russo marcara impedimento. Frustrado, Toninho pendurou as chuteiras na mesma hora!

Francisco Dandão – professor, poeta, escritor e jornalista.

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