Coluna da Angélica Paiva (confira)

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oestadoacre reproduz nesta sexta a coluna política da jornalista Angélica Paiva publicada no Acre em Foco…confere aí:

-Risco n’água

-Falando sobre a CPI da Educação, o governador Gladson Cameli (PP),diz que quem não deve não teme. Tendo por base esta frase, pode-se deduzir que ele está morrendo de medo. Se não estivesse atemorizado não diria que vai suspender os contratos das empresas terceirizadas e que quer estender a investigação aos governos passados. A declaração soa como ameaça e retaliação e de fato é, na avaliação dos deputados de oposição e do grupo dos independentes. Fagner Calegário (Podemos) é representante das terceirizadas no parlamento. Daniel Zen e Edvaldo Magalhães foram gestores nos governos do PT. Quem não deve não teme…nem ameaça.

-Até o limite

O escudeiro do governador, Moisés Diniz (PP), afirma que Gladson apóia a CPI, mas pelas declarações do governador parece que ele pretende retomar a CPI dos Limites. Ir ao limite da criação do Acre. O jornalista João Roberto Braña brinca que a CPI da Educação pode querer retroceder até Luiz Galvez e José Plácido de Castro. Mas do jeito que a coisa vai, a CPI made in palácio do governo pode chegar a requisitar documentos do padre Gaspar de Carvajal. Pelo tamanho do recuo no tempo se pode medir o tamanho do medo. Contam que durante os seqüestros e desaparecimentos de pessoas no período mais violento da ditadura militar, o locutor de uma rádio, periódicamente repetia: “reina a mais absoluta calma no país”. Parodiando o radialista de antanho, Moisés Diniz anuncia que reina a mais absoluta calma nos corredores, labirintos e calabouços do poder no Acre.

-Viagem

É o que se pode deduzir da “ameaça” do governador de investigar as ações da Secretaria de Educação nos governos passados e as obras do Programa Ruas do Povo, mirando os deputados Daniel Zen (PT) e Edvaldo Magalhães (PCdoB). Gladson não vai colocar as empresas da família dele na roda. Até onde se sabe as empresas da família do governador pegaram a maioria das obras do programa Ruas do Povo. Se retroceder à década de 1990, quem garante que não vai encontrar algo envolvendo seu tio Orleir Cameli? Quem procura, acha, já diz o batido jargão.  Em 15 anos de vida pública, o governador não aprendeu que agir por impulso é jogar um bumerangue que pode lhe acertar a cabeça.

-Morta viva

Moisés Diniz disse que esta onça (CPI da Educação), está morta. Edvaldo Magalhães respondeu que na Floresta da Educação há dezenas de onças bem vivas, sedentas e famintas, caçando como se não houvesse amanhã. O jornalista Léo Rosas jogou mais lenha na fogueira. Segundo ele, a Secretaria de Educação virou uma “escolinha da corrupção”. Moisés Diniz pode ser definido com a música Quem te viu, quem te vê de Chico Buarque. Seus companheiros da época do PCdoB cantam: “quem jamais esquece não pode reconhecer”.

-Chantagem

Os deputados que assinaram o pedido de CPI, encaram a declaração do governador Gladson Cameli de suspender os contratos com as empresas terceirizadas como chantagem explícita sobre o deputado Fagner Calegário, representante das terceirizadas. O governador já cometeu esse erro com o vice-governador, tirando-lhe tudo. O homem mais perigoso é o que já não tem mais nada a perder, alertava Malcolm X lá pelos idos dos anos 1960. Quem conversou com Calegário disse que ele está valente e prometeu resistir a todo o cerco.

– Exercício

O pedido de uma CPI para investigar irregularidades na Secretaria de Educação foi protocolado on-line pouco antes da meia noite. Justamente para impedir que outros pedidos de CPI dessem entrada antes. A instalação obedece a ordem de chegada. Foi uma jogada de mestre. Além disso, foi protocolada com 9 assinaturas. Uma além do número mínimo exigido. Por esse motivo para impedi-la, o governo do estado terá que convencer dois deputados a retirarem a assinatura. O deputado Neném Almeida (Solidariedade), anda meio sumido, meio calado, mas quem conversou com ele disse que está firme. Aguardemos.

-…difícil

Não pode ser descartada a possibilidade de algum deputado retirar a assinatura do pedido de instalação da CPI, mas não será tarefa fácil. No próximo ano tem eleição e os deputados terão que prestar contas às suas bases. O risco é grande demais para não ser levado em conta, mas em cada cabeça uma sentença. Seja como for, a oposição e os independentes pegaram gosto e com ou sem CPI, encontraram o caminho, e em política, todos os caminhos levam ao governo. Outro dia me citaram uma frase atribuída ao ex-deputado Narciso Mendes: “oposição não tem que ser responsável. Oposição tem que ser oposição”.

– Fervura

Os bastidores estão fervendo. A tal ponto que o sono foi adiado para depois de terça-feira. O grupo da CPI vem sendo alimentado por funcionários de diversas pastas. Os deputados atiraram no que viram e acertaram no que não viram. Informações que chegam a eles, apontam para indícios de escândalos na elaboração de projetos e contratos. Ao que parece o trem foi colocado em movimento e será muito difícil pará-lo.

-MDB

O senador Márcio Bittar (MDB), não deu um pio sobre a CPI da Educação, a pasta que reivindicava de “porteira fechada” e que se for esperto não aceitará mais nem de porteira escancarada. Flaviano Melo (MDB), a quem Gladson teria chamado para disputar o senado na chapa Gladson governador, recolheu-se. O governador optou pela ala do MDB que não tem votos na Assembleia. O grupo de Vagner Sales, Mazinho Serafim e Roberto Duarte se fortaleceu perante a opinião pública e principalmente junto aos trabalhadores da Educação, a maior categoria do estado. Dentro do MDB há quem aposte que os três grupos vão marchar com a candidatura de Petecão (PSD).

– Defesa

O senador Márcio Bittar se pronunciou apenas sobre a invasão da fazenda do empresário dono da Uninorte e dos supermercados Mercale. O empresário Ricardo Leite, o Rico, como o apelido informa, é Rico, nem precisa de advogado de defesa no senado. Quem precisa, senador, são os milhares de produtores que estão à míngua no estado que o elegeu e que só têm  direito a um pedaço de terra para produzir quando morrem e são enterrados, como já dizia João Cabral de Melo Neto em Morte e vida Severina. O poema foi escrito em meados da década de 1950 e mostra que em cerca de 70 anos quase nada mudou. Nem no campo, nem na política. Além disso, aquela área de Vista Alegre do Abunã-RO, é conhecida pela falta de documentação das áreas de terra. Não sei se é o caso da área em questão, mas muitas vezes a “propriedade privada” é privada de legalidade.

(Angélica Paiva)

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