Crônica de Dandão: Malandragens e que tais

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Malandragens e que tais

 

Francisco Dandão – Depois de ler a minha crônica sobre a confraria etílica formada por jogadores que batiam ponto no Boteco do Mané com Sono, recebo uma ligação do Toinho Bil para me lembrar de dois outros fatos protagonizados por “atletas malandros”, pra cima do saudoso presidente Almada, do Vasco.

Um dos fatos diz respeito a um atacante do Time da Fazendinha, na segunda metade da década de 1970, que todos as sextas-feiras, depois do último treino da semana, aparecia com uma receita médica nas mãos pedindo ao presidente um dinheirinho extra para comprar os remédios prescritos.

Na sua santa ingenuidade, e por ter muitas tarefas para dar conta, inclusive as providências para os jogos dos finais de semana, o professor Almada nem conferia o que estava escrito no pedaço de papel apresentado pelo seu jogador. Simplesmente metia a mão no bolso e dava a grana.

Sorridente, o “atleta”, que era tido como um atacante perigoso, daqueles de partir pra cima dos laterais (ôpa, dei uma pista!), saía direto da Fazendinha para o Boteco do Mané com Sono, onde o dinheiro dos “remédios” era transferido para a caixa registradora do estabelecimento.

Essa história, de acordo com o Toinho Bil, durou vários meses. Só deu problema quando o papel apresentado pelo craque começou a se desfazer e as letras da receita tornaram-se quase ilegíveis. A trama teve fim no dia em que o professor Almada resolveu botar os óculos na cara e não leu foi nada.

O outro fato, sempre de acordo com a narrativa do Toinho, um dos meus maiores informantes dos bastidores da bola acreana, aconteceu com um também atacante, mas este vindo do interior do estado, depois de uma temporada de artilharia em campeonatos suburbanos e de fundo de quintal.

Acontece que o tal artilheiro era acostumado a jogar descalço. Quando chegou à Fazendinha e foi obrigado a calçar uma chuteira (pra piorar, cheia de pregos), o sujeito praticamente quase nem andou. O técnico do Vasco à época lhe deu uma semana para mostrar serviço, mas não saiu nada.

Reprovado nos testes, o atacante foi dispensado. Mas entendeu que não voltaria pra casa. Surgiu, então, um problema: como fazer para comer, uma vez que não estando mais sob a responsabilidade do Vasco, lhe foi cortado também o direito à alimentação, feita numa birosca do mercado?

Aí o carinha bolou uma saída. Escreveu do próprio punho um bilhete para a mulher da birosca, como se fosse o professor Almada. Teor da peça literária: “Dona minina der cumida para o rapaize acina prufeçor Omada”. Claro que o bilhete não passou na censura e o sujeito teve que “pegar o beco”.

Francisco Dandão – escritor, compositor e tricolor

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