Luís Nassif, do GGN, traz uma reflexão importante neste texto abaixo…não concordo com tudo, especialmente por achar que o governo Lula poderia avançar com pautas nacionais e populares e até agora não avançou porque faz um governo neoliberal…está entregue ao modelo financeiro excludente e não dá sinais de que quer se desgarrar…mas vale saber o que pensa o grande jornalista mineiro de Poços de Caldas – J R Braña B.
Por Luís Nassif
É o presidente brasileiro de maior prestígio internacional, atualmente reconhecido como uma das principais lideranças globais pela paz.
O Brasil é um país de paradoxos. O reconhecimento, ainda que tímido, dos méritos de Lula pela mídia nacional só ocorreu após a consagração internacional do Bolsa Família e sua liderança no G20 e entre países agrícolas durante a crise de 2008.
O mesmo padrão se repete agora.
Desde o início de sua trajetória presidencial, Lula revelou características políticas marcantes:
- É um democrata, por convicção e prática.
- É um social-democrata, que jamais tentou confrontar os pilares do sistema financeiro que herdou.
- Avança pontualmente ao buscar brechas no orçamento para incluir os mais pobres e fortalecer os movimentos sociais — vistos por ele, corretamente, como pilares da democracia.
- Mas tem dificuldade em consolidar planos estratégicos de desenvolvimento nacional.
- Cede excessivamente nas negociações políticas, dentro do modelo de presidencialismo de coalizão.
- Seus dois primeiros mandatos foram favorecidos pelo boom das commodities, que ampliou o orçamento e permitiu atender simultaneamente ao mercado, aos grandes grupos e às políticas sociais.
- É, sobretudo, o presidente brasileiro de maior prestígio internacional, atualmente reconhecido como uma das principais lideranças globais pela paz.
- Contudo, não é o estadista disposto a reformar profundamente o Estado.
A polarização política, intensificada com a ascensão de Lula e do PT, atingiu níveis de irracionalidade preocupantes. Em vez de ser reconhecido como o líder que ajudou a consolidar a democracia, suavizar os excessos do capitalismo e fortalecer os movimentos sociais, Lula passou a ser rotulado como esquerdista e estatista — inclusive por setores da opinião pública considerados racionais, que se informavam pelos grandes veículos de mídia.
Foi alvo da mídia, do Supremo Tribunal Federal, do chamado “partido do TRF4” e de diversos atores institucionais que, apenas recentemente, passaram a reconhecer sua relevância para a democracia brasileira.
Lula tinha o potencial de ser o grande conciliador nacional — capaz de unir uma esquerda moderada e uma direita não radical em torno de um projeto que fortalecesse a classe média, promovesse a ascensão social sem rupturas e equilibrasse regras de mercado com estímulo à organização dos pequenos. Impedido de realizar esse papel no Brasil, sua vocação conciliadora encontrou espaço no cenário internacional, onde hoje é reconhecido como um dos líderes mais influentes do mundo, com uma dimensão geopolítica que ultrapassa a do próprio país.
Em seu discurso no encontro de lideranças internacionais, intitulado “Em Defesa da Democracia, Combatendo Extremismos”, sua conclamação em defesa da democracia soou quase como uma autocrítica. A direita cresceu porque a esquerda parou — não soube como atender às demandas da população. No poder, preocupou-se mais em atender aos interesses dos poderosos do que às necessidades dos oprimidos.
Reeleito, não se deve esperar de Lula as reformas estruturais profundas que o Estado brasileiro necessita para se tornar uma verdadeira democracia social. No entanto, sua presença no poder representa, mais uma vez, a salvação da democracia brasileira — ainda que no limite do tempo.
(Luís Nassif, do GGN)
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