LN: Foi uma semana de cão

Autor: Luis Nassif
GGN

 

Foi uma semana do cão para quem esperava algum respiro e início de estabilização política. Uma sucessão de trapalhadas começa a colocar em dúvida a própria governabilidade do país.

É um quadro curioso e atemorizante.

Está-se em um campeonato com uma conspiração pelo impeachment pela frente mas no qual a presidente Dilma Rousseff depende apenas de seus resultados para vencer. Apesar do quadro semi-recessivo, a economia está relativamente em ordem, a não ser FHC e seus vikings da terceira idade, poucos apostam na desestabilização política, há espaço pós-eleições para baixar a fervura política.

Além disso, a campanha eleitoral trouxe a esperança de que Dilma passara por um curso intensivo de país e de governabilidade.

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Mas suas últimas atitudes denotam claramente uma pessoa estressada e perdida.

De certo modo, repete-se no plano federal o travamento do governador paulista Geraldo Alckmin no plano estadual, mas com duas diferenças relevantes.

A primeira, o fato de que a política estadual é muitíssimo menos complexa do que a federal. A segunda, a circunstância de que os grupos de mídia poupam Alckmin e centram fogo diuturno em Dilma. Coloque-se a Lava Jato no caldeirão, e se terá a fervura política do país, exigindo habilidades até agora impressentidas de Dilma.

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Haveria condição de superar o momento e de começar vida nova – para enfrentar um semestre, por si só, duríssimo – se Dilma desse o menor sinal de sair da armadilha na qual se meteu, de uma introspecção e isolamento mortais.

Dilma se enredou em uma armadilha que costuma pegar qualquer um: o aturdimento que acomete pessoas submetidas a uma bateria de problemas simultâneos. Há a necessidade da parada, da freada de arrumação, mas a pessoa se enreda no redemoinho como barata tonta sem conseguir parar.

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Dai a razão de, mesmo antes das eleições, ter-se alertado aqui para a importância de criar um modelo decisório diferente, com conselhos de alto nível que ajudassem a filtrar os problemas, pensar soluções e facilitar a tomada de decisão.

Nada foi feito.

No plano federal, cada decisão tem mil implicações. A apresentação de um plano de austeridade exige todo um planejamento político para não suscitar decepções irreversíveis à esquerda. O discurso social precisa do tempero adequado para não promover desconfiança nos fiscalistas. Equilibrar-se entre movimentos populares e mercado demanda uma habilidade política de gente grande. O relacionamento com o Judiciário, o Ministério Público e demais poderes não pode ser apenas institucional, mas depende de se cultivar relações sociais, de se ter representantes qualificados em cada área.

Cada um desses temas exigiria uma equipe ou, no mínimo, um assessor de altíssimo nível analisando todas as possibilidades e aconselhando uma presidente disposta a acatar conselhos,

Em suma, há uma teia complexa que exige domínio da política, das relações humanas, do acompanhamento de detalhes.

O acúmulo de erros cometidos nos últimos dias espalha um enorme temor: o de chegar o dia em que até os próprios Ministros de Dilma e correligionários percam definitivamente a esperança de que ela consiga retomar as rédeas da politica.

Esse momento está muito próximo, caso Dilma não saia desse aturdimento mortal.

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