Nassif critica proposta do MPF: A arte coletiva de destruir a riqueza nacional

247 – O jornalista Luis Nassif criticou nesta sexta-feira, 20, a proposta defendida pelo Ministério Público Federal do Paraná de punir as empresas, e não os seus controladores, envolvidas nas investigações da operação Lava Jato.

“Uma empresa não é apenas seus ativos. É a inteligência que juntou, a rede de fornecedores, o quadro de funcionários, a marca, a tecnologia desenvolvida. Fechada, a empresa resume-se a um tanto de máquinas e prédios. É uma perda coletiva, não apenas para seu entorno, mas para o país”, defendeu.

“As empreiteiras em questão são peças-chave para a próxima etapa do investimento em infraestrutura. Elas possuem a tecnologia, o know-how das Parcerias Público-Privadas, os quadros técnicos. No entanto, estão sendo destruídas”, afirmou o jornalista.

O argumento de punir as pessoas envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras foi defendida pela presidente Dilma Rousseff nesta sexa-feira, durante entrevista à imprensa em Brasília. “Nós iremos tratar as empresas tentando, principalmente, considerar que é necessário gerar emprego e renda no Brasil. Isso não significa de maneira nenhuma ser conivente ou apoiar ou impedir qualquer investigação ou qualquer punição a quem quer que seja, doa a quem doer. Eu não vou tratar o caso Petrobras como a Petrobras tendo praticado malfeitos. Quem praticou malfeitos foram os funcionários da Petrobras, que vão ter que pagar por isso” afirmou a presidente.

Leia abaixo o artigo de Luís Nassif na íntegra.

A arte coletiva de destruir a riqueza nacional

Some-se a um governo medíocre uma oposição desvairada, uma mídia insensata, que não consegue olhar o país além dos seus próprios interesses, e se terá desenhado o mapa da insensatez, com a destruição de ativos brasileiros preciosos.

Em geral diz-se que a esquerda é antiempresarial e a direita é liberal. No Brasil, a pesada herança da colonização consolidou um enorme sentimento anti-trabalho, anti-atividade produtiva também na direita, da qual os grupos de mídia são os principais arautos. Das novelas da Globo às seções econômicas dos jornais, o rentismo é atividade nobre; a atividade produtiva, uma excrescência tocada por chorões.

Só isso para explicar a inércia com que o país contempla a destruição de ativos relevantes das empreiteiras envolvidas com a operação Lava Jato.

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Esse sentimento obtuso de “punir” empresas – e não seus controladores – não é de agora.

Uma empresa não é apenas seus ativos. É a inteligência que juntou, a rede de fornecedores, o quadro de funcionários, a marca, a tecnologia desenvolvida. Fechada, a empresa resume-se a um tanto de máquinas e prédios. É uma perda coletiva, não apenas para seu entorno, mas para o país.

Por isso mesmo, em qualquer país com um mínimo de racionalidade coletiva, qualquer punição a ilícitos miraria executivos e controladores, não as empresas.

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Tome-se o caso da Lava Jato.

Uma empreiteira não prevarica. Quem prevarica são seus executivos e controladores. Que se processem os controladores, exigindo que vendam seus ativos – incluindo as ações da companhia – para pagar as multas e ressarcimentos. Altere-se o controle, mas não destruam os ativos acumulados.

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As empreiteiras em questão são peças-chave para a próxima etapa do investimento em infraestrutura. Elas possuem a tecnologia, o know-how das Parcerias Público-Privadas, os quadros técnicos.

No entanto, estão sendo destruídas.

No Judiciário, há inúmeros casos de bloqueio da totalidade dos recursos nas contas da empresa, confundindo o capital de giro (essencial para fazer a empresa operar) com acumulação financeira.

A visita do MPF aos EUA

Apesar da seriedade de procuradores que engrossaram a força tarefa que foi aos Estados Unidos, ainda não estão claros os motivos da ida. Seria importante que o Procurador Geral da República Rodrigo Janot esclarecesse, para não dar margem a suposições conspiratórias.

O grupo foi se encontrar com o Departamento de Justiça. Qual a razão? Se a Petrobras está sendo processada nos Estados Unidos, e seu controlador é o governo brasileiro, admite-se a presença da AGU (Advocacia Geral da União), não de procuradores.

A informação de que Janot foi ao Banco Mundial assinar uma convenção contra a corrupção não bate. De acordo com advogados conhecedores da política internacional, esse tipo de protocolo não tem relevância para exigir a presença de um Procurador Geral.

Para esses observadores, a única explicação plausível seria a do PGR mostrar-se como a força que combate a corrupção, e apresentar-se – perante o governo Obama, em princípio contra qualquer disrupção da ordem democrática – como um avalista, para o caso de um interregno na democracia brasileira.

Excesso de visão conspiratória? Pode ser. Mas a falta de esclarecimentos leva a essas desconfianças.

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