Estadão
Marcelo Nakagawa é professor de empreendedorismo do Insper
A vida de Elias Charles nunca tinha sido fácil. Fazia bicos, ganhava alguma coisa intermediando imóveis e até entregava jornal. Mas, quase sempre, estava sem dinheiro. O aperto repercutia na vida familiar. Ficava furioso quando algum dos seus cinco filhos fazia algo errado. De todos, o que mais apanhava era Walter. Era distraído, ficava desenhando o tempo todo e adorava pregar peças nos outros. Gostava de vestir roupas velhas só para assustar os irmãos mais novos e certa vez apanhou um rato, improvisou uma coleira e levou o animal para passear na escola. Mas o que incomodava continuamente seu pai era o fato do seu filho desenhar, absolutamente, o tempo todo.
Na escola, fazia uma pilha de livros na carteira e ficava desenhando atrás, escondido da professora. Desenhava em cada espaço em branco dos seus cadernos e livros. Fazia aquilo mesmo sabendo que os outros o olhavam de forma estranha, já que cadernos desenhados era coisa “de menina” para os padrões da época.
Aos poucos, Elias percebeu que o comportamento de Walter não era rebeldia, mas uma forma de talento. E mesmo apertado financeiramente, enviou seu filho para o instituto de artes da cidade onde Walter Disney aprendeu a desenhar profissionalmente.
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Mas havia outro pai, também Edward, que para ficar mais próximo dos filhos decidiu montar seu consultório odontológico na casa em que moravam. “Eu recomendo fortemente isto se isto funcionar para a sua ocupação. Eu pude trabalhar e estar em casa com as crianças ao mesmo tempo.” – explica. Mesmo sendo dentista, Edward era aficionado por computação. Comprou um microcomputador no mesmo ano em que foi lançado. Três anos depois, em 1984, seu filho Mark Elliot, nasceu em uma casa que já tinha computadores e videogames por todos os lugares. E assim, Mark começou a brincar e a tomar gosto pela computação, literalmente, desde bebê.
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