Médica cubana, em Sena: ‘Aprendi que medicina é para ajudar a quem precisa’

Yali Romero – Ela é apenas uma dos milhares do Mais Médicos espalhados pelo país.

 

J R Braña B. –
Conversei muito com Yali Romero durante o intervalo do almoço no fim de semana, na reserva ambiental Cazumbá, em Sena Madureira.

Na comunidade que recebeu atendimento por parte da prefeitura tem até energia, posto de saúde, campo de futebol e até uma pousada desativada.

Fui conversar com Yali para saber dela, uma médica cubana, o que pensava sobre sua vinda para o Brasil.

Os problemas enfrentados na chegada.

A discriminação.

O ódio de classe de alguns brasileiros que não aceitam que o governo traga médicos cubanos que não são ricos (ou não têm cara de rico) e que parte dos salários deles é enviada para ajudar o estado cubano a se manter.

Tudo isso Yali falou comigo.

Não sou bobo e vi que Yali media as palavras e eu compreendo isso muito bem.

Ela não tem o menor interesse em criar conflito entre os dois governos nem dar  munição aos coxinhas de plantão.

Afinal de contas ela sabe que no Brasil a direita e os trolls atuais – se aproveitam de qualquer coisa para prejudicar qualquer tentativa de inclusão social por parte do governo Dilma Rousseff.

É uma luta de classe intensa e que segue o seu curso natural.

Yali sabe disso como ninguém.

A seguir os principais trechos da conversa com a médica cubana Yali Romero.

Yali Romero, médica do Mais Médicos, que atua em Sena Madureira, na zona rural – foto: oestadoacre.com

 

Oestadoacre.com – Vinda para o Brasil

Quando me inscrevi para trabalhar no Brasil a primeira coisa que pensei foi nas pessoas das localidades necessitadas. Nas pessoas que precisam, que estão longe da cidade e não têm esse tipo de atendimento.

Oestadoacre.com – Motivação

Como cubana sempre tive esse tipo de motivação de prestar esse tipo de ajuda. Antes eu trabalhei fazendo essa mesma coisa na Venezuela. Foi na época do presidente Chávez. Sempre com esse mesmo objetivo: ajudar.

Oestadoacre.com – Falando bem o português…

Mais ou menos…Então é isso que move o meu coração…atender as pessoas que precisam. Como médica, sempre, fazer o melhor possível como clínica-geral.

Oestadoacre.com – Acre

Eu vou falar uma coisa: eu gostei. Em Cuba faz também muito calor, só que um pouco menos. Mas, enfim, o Acre, Rio Branco, Sena Madureira, tô gostando muito… as pessoas são legais.

Oestadoacre.com – Família

Deixei meus pais, meu esposo e dois filhos (3 e 7 anos).

Oestadoacre.com – Visitas dos parentes?

Não. Eles não vão vir porque estou  numa missão.

Oestadoacre.com – Morar no Brasil

Não está nos meus projetos. Eu gosto do meu país, do meu sistema. Da minha cultura  cubana.

Oestadoacre.com – Recepção de alguns médicos nos aeroportos que xingaram os cubanos

Não prestei atenção a isso. Eu vim para ajudar os brasileiros e as pessoas que mais precisam.  Agora eu falo: Cazumbá (ela pronuncia cassumba)..Ninguém sabe onde fica.

Oestadoacre.com – Não se preocupe: a maioria dos médicos do Acre (e da população)  também não sabe onde fica a reserva Cazumbá.

Quando nos inscrevemos sabíamos que viríamos para lugares como este. Estava preparada para um lugar até pior (Cazumbá tem energia elétrica instalada pelo Luz Para Todos) e acesso por ramal no verão e o Rio Caeté no inverno desde Sena)

Oestadoacre.com – Aldeias indígenas

Vou te falar uma coisa: eu pedi para ir para uma zona indígena. Porém, não fui selecionada. Mas eu gosto daqui. Tem sido uma experiência muito  rica.

Oestadoacre.com –  Medicina no Brasil como trampolim para ser rico

Isso me deixou muito triste. Eu gosto de atender o paciente e conhecer o paciente. E que ele tenha um retorno para que continue avaliando o paciente porque o meu objetivo é que ele fique bom. Alguns pacientes, por desconhecimento, pensam que têm doenças crônicas, e não são doenças crônicas.  Tenho consultado muitos pacientes com esse tipo de pensamento e filosofia. E eu digo, não! Você vai fazer o tratamento, a dieta e vai se curar. Eu tenho feito esse tipo de trabalho com meus pacientes e eu gosto de fazer isso. Fui ensinada e aprendi a fazer isso. É a minha filosofia como médica. Por isso me senti triste com o que vi (medicina como negócio). Também fico muito triste quando receito um medicamento e no posto não tem e o remédio é muito caro (em Cuba a população não paga para ter acesso a remédio, hospital nem a médicos. No Brasil só o SUS atende gratuitamente)

Oestadoacre.com -Salários dos médicos cubanos parte vão para o estado cubano (aqui isso seria escândalo pela mentalidade e pela filosofia)

Eu não ligo para isso porque quando assinei o contrato eu sabia como seria. Não me falta nada, graças a Deus. Tenho casa, comida e vivo bem.

Oestadoacre.com – Retomada das relações Cuba X EUA

Muito bom. Só o tempo vai mostrar o resultado. Mas eu acho que vai trazer benefícios para o nosso país. Até porque Cuba foi a grande prejudicada nesses anos todos com o bloqueio econômico imposto pelos EUA.

Oestadoacre.com – Futuro de Cuba

Aprofundar o socialismo. É esse o objetivo final.

Oestadoacre.com – Felicidade

Sou feliz com o que faço. Claro que longe da minha família não posso ser totalmente feliz, mas com meu trabalho, com o que estou fazendo, sou e estou feliz. Eu gosto da minha profissão.

Oestadoacre.com – Religião

Eu sou cristã e acredito em Deus.  Em Cuba têm cristãos, macumbeiros, católicos, tem de tudo no meu país. Como aqui. Agora eu acho que os cristãos cubanos são mais  devotos.

Oestadoacre.com –  Aqui no Brasil há ‘igrejas’ onde o fiel paga para entrar e paga para sair…

Em Cuba não há isso…

Oestadoacre.com –  Por enquanto…elas vão chegar lá no seu país, não se preocupe (Yali ri muito com a previsão). Obrigado pela entrevista, Yali.

De nada.

 

 

 

Sair da versão mobile