Crônica de Dandão: Amenu e Baroninho

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Crônica de Dandão que oestadoacre reproduz neste domingo trata de personagens curiosos do futebol de Rio Branco (Pituba, que não é o centro do texto merece uma crônica à parte…o então goleiro do morcego viveu experiência – ele e equipe – nada agradável (uma violência injustificável, na verdade) em Sena Madureira lá pelo meio da década de 70.

Amenu e Baroninho 

Francisco Dandão 

Teve um tempo, aí pelos meados da década de 1970, que o Andirá, glorioso Morcego do bairro Cadeia Velha, alinhava no seu ataque dois ponteiros que atendiam pelos nomes de Amenu (na direita) e Baroninho (na esquerda). Ambos velozes, agressivos e um tanto atrapalhados com a bola.

Com eles, não tinha esse negócio de voltar para ajudar na marcação, não senhor. O negócio tanto de um como de outro era se mandar para a linha de fundo, para executar os cruzamentos de praxe, ou tentar a jogada em diagonal, entrando por um eventual espaço entre os laterais e os zagueiros.

Pra falar a verdade, embora nenhum deles tivesse esses dotes todos para um dia chegar à alguma seleção estadual, até que não eram assim dos piores atacantes em atividade naqueles tempos românticos do futebol acreano. Tinha muita gente de categoria bem inferior a Baroninho e Amenu.

O que mais irritava os técnicos andiraenses que os dirigiram era a mania deles de querer jogar sozinhos. Os caras eram fominhas como poucos jogadores na história do futebol mundial. Não gostavam de passar a bola pra ninguém. Queriam resolver as paradas sozinhos, sem o auxílio dos parceiros.

Quando havia falta para o Andirá, fosse perto da própria grande área ou no ataque, os dois se apresentavam para bater. E ficavam discutindo por alguns minutos pra ver quem fazia. Na hora dos escanteios, era a mesma coisa. Um se mandava para a posição do outro, brigando para ver quem batia.

Eis que um dia, num jogo contra o Floresta, pintou um escanteio pelo lado direito do campo. Pela ordem natural das coisas, o Amenu deveria cobrar. O Baroninho, porém, cruzou o campo lateralmente e expulsou o Amenu de perto da bola, que saiu irritado. A cobrança seria de pé trocado.

As testemunhas na tarde chuvosa se prepararam para ver a bola sair em curva, de fora para dentro do gol do Floresta. Houve até quem apostasse que poderia pintar um daqueles chamados “gols olímpicos”. Tudo parecia certo, mas o Baroninho escorregou e acabou foi chutando o pau da bandeira.

Ante o fiasco do amigo, dizem que o Amenu desatou numa crise convulsiva de riso. Fato que irritou o Baroninho, a ponto de os dois quase irem às vias de fato. Discussão feia que só não terminou em pancadaria porque os companheiros de time trataram de apartar os dois contendores.

O pior de tudo foi que enquanto os jogadores do Andirá se preocupavam em acalmar os ânimos do Baroninho e do Amenu, o Floresta foi ao ataque e marcou um golzinho no goleiro Pituba. Aí, todo mundo queria bater nos dois que, providencialmente, nunca mais foram escalados juntos.

Francisco Dandão – professor, jornalista e escritor

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