Crônica de Dandão: Distraídos

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Distraídos

Francisco Dandão – Eu estava lembrando, por esses dias, de histórias de distrações de personagens notáveis do futebol. De como as distrações dessas criaturas proporcionaram momentos do mais puro humor e gozação de quem gravitava em volta delas, seja jogadores, preparadores, dirigentes ou auxiliares diretos.

Nessa linha, conta-se que o falecido treinador Vicente Feola (1909 – 1975), que comandou o São Paulo por várias temporadas e a Seleção Brasileira nas Copas do Mundo de 1958 (Suécia) e 1966 (Inglaterra), de vez em quando tirava um cochilo no banco de reservas, no decorrer do jogo.

Segundo a lenda, ao acordar de um desses cochilos, numa partida da seleção brasileira, Feola teria gritado freneticamente para o time subir ao ataque. Alguém, então, disse pra ele que o Brasil já estava ganhando por três a zero. Aí ele mudou a ordem e passou a gritar: “Volta, volta, segura o jogo!”

Saindo, porém, do geral para o particular, diz-se que o lendário radialista acreano Campos Pereira também dava os seus cochilos de vez em quando, ao fazer reportagens de pista no vetusto Stadium José de Melo. Principalmente nos casos em que se postava sentado atrás de uma das traves.

Esses relatos dão conta de que um certo dia, depois de uma confusão na área do Juventus, quando o time do Atlético reclamava de um pênalti não marcado, o narrador do jogo perguntou: “O que houve, Campos?” Campito, então, acordou do cochilo e disse: “Ouve a Rádio Difusora Acreana!”

Mas a história de distração que eu mais curto, sempre de acordo com a lenda, é uma envolvendo o técnico Alício Santos, gente da mais fina estirpe e o introdutor do “tripé de meia cancha” no futebol acreano. Uma distração que teria causado uma derrota do Rio Branco, time que ele treinava.

O jogo em questão era entre o citado Rio Branco e o Independência. Decisão de alguma coisa. Jogo duríssimo. O Estrelão vencia por um a zero. Eis que, lá pelas tantas, já na metade do segundo tempo, o lateral esquerdo Tião, que vinha jogando bem, deu uma entrada mais dura e foi expulso.

O jogo seguiu e o treinador Alício Santos não tomou nenhuma providência para recompor o sistema defensivo do Rio Branco. E aí, então, pelo lado ali onde o lateral foi expulso, o Tricolor do Marinho Monte fez a festa e virou o jogo rapidamente para três a um, faturando aquele título.

Depois da derrota, o repórter Waldemir Canizio, da Rádio Novo Andirá, perguntou ao técnico Alício Santos por qual motivo ele não reforçou o sistema de defesa, depois da expulsão do lateral Tião. Resposta do treinador: “E o Tião saiu de campo? O Tião foi expulso? Quando foi isso?”

Francisco Dandão – escrito, poeta, cronista, professor e tricolor

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