Crônica de Dandão: O ataque dos pesadelos

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O ataque dos pesadelos

 

Francisco DandãoUm dia desses eu estava assistindo a um programa na televisão sobre os mais incríveis gols perdidos pelos diversos atacantes mundo afora. Lances bizarros, ora pela falta de carinho entre os atletas e a bola, ora por conta de alguma intervenção estranha, como, por exemplo, um defeito no gramado.

Muitas das situações, de tão impossíveis, mais pareciam obras do tal “Sobrenatural de Almeida”, personagem criada pelo impagável e genial cronista Nelson Rodrigues, usada quando este queria externar qualquer coisa sem explicação. Eram gols perdidos do tipo “até a minha avó teria feito”.

Aí, vendo aquelas esquisitices do mundo da bola, eu passei a me lembrar de umas quantas vezes que eu fui testemunha ocular (ao vivo e em cores), de carne e osso, entre as décadas de 1960 a 1980, desses gols perdidos no retângulo de jogo do vetusto Stadium José de Melo, na capital do Acre.

É verdade que no futebol acreano daquela época existiam artilheiros mortais… Nemetala, Paulinho Rosas, Madureira, Danilo Galo, Antônio Júlio, Antônio da Loteca, Bebé, Jangito, Touca, Bico-Bico, Julião, Irineu, Rui Macaco… Uma turma boa. Mas também existiam outros nem tanto assim.

Nessa vibe dos atacantes que perdiam mais gols do que faziam, eu lembrei de três nomes: o Amenu, que passou a carreira toda defendendo o Andirá; o Goiaba, que desistiu de chutar a bola depois de uma passagem pelos juvenis do Rio Branco; e o Baroninho, que vestiu a camisa de Andirá e Floresta.

Do Amenu, o lance que eu mais me lembro foi de um jogo contra o Atlético. Recebendo um lançamento, ele se viu à frente do goleiro adversário. Aí, tocou de lado e ficou na cara do gol. Sob aplausos, ele se virou e acenou para a galera. Nisso, a bola escapou e saiu pela linha de fundo.

Já o Goiaba, o lance insólito aconteceu numa manhã de domingo chuvosa, quando o time adversário faltou. Escalado para a formalidade de “bater o centro”, ele resolveu percorrer o campo e fazer o gol. Mas escorregou na hora de chutar, mandando a bola para fora e caindo na lama.

No que diz respeito ao Baroninho, um dia ele apostou com um goleiro que faria um gol de calcanhar. A oportunidade surgiu quando da marcação de um pênalti a favor do seu time. Ele até tentou cumprir o prometido, mas a bola saiu tão fraquinha que o goleiro fez a defesa com as nádegas!

Amenu, Goiaba e Baroninho jogavam, respectivamente, como ponteiro-direito, centroavante e ponteiro-esquerdo. Não tenho informações se os três jogaram juntos num mesmo time. Teria sido interessante vê-los defendendo a mesma camisa. Teriam formado o “ataque dos pesadelos”.

Francisco Dandão – cronista, professor, compositor, poeta e tricolor

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