Kairo: Adeus, Dudu, amamos-te

Tragédia no Quinari

opinião

Kairo Araújo

O texto que escrevo hoje é diferente dos que produzo habitualmente, geralmente exponho aqui dissertações argumentativas. Agora, faço uma narração, contando uma história real de um menino correto, alegre, respeitoso e cheio de vida. Que no último domingo (18/09/2022) foi brutal e covardemente assassinado por bandidos na cidade de Senador Guiomard, conhecida popularmente como Quinari.

Antes da tragédia, havíamos nos encontrado na última sexta-feira (16/09/2022), como sempre, estava alegre e sorridente. Conversamos bastante, me contou que planejava ter um filho no futuro, que lembrava pouco do pai que perdera na tenra idade. Quando saímos para levar minha mãe ao banco e comprar remédios, conversamos um pouco sobre política e perguntou-me em quem eu votaria, afirmei o candidato que depositaria meu voto e ele, falou: bom, gostei dos seus argumentos, se um dia precisar de um advogado, gostaria que você me defendesse. Bom meu querido primo, parece que esse dia chegou, não sou um advogado, não tenho competência para te defender e nem conhecimento na área do direito para isso, mas serei sua testemunha, expondo a pessoa maravilhosa que você sempre foi.

Meu primo se chamava Eduardo Morais Sousa e tinha apenas 17 anos, era um garoto que gostava de está perto dos familiares e com muita frequência ia à casa da minha mãe. Jamais teve envolvimento com facções e, ainda se tivesse, ninguém tinha o direito de ceifar sua vida. A trágica morte dele é fruto da insegurança pública em que estamos submetidos, mas, não sejamos ingênuos, uns mais outros menos. A população pobre e negra sofre bem mais com a violência, com o abandono e a negligência do Poder Público.

A história que conto do meu jovem amigo, poderia acontecer com muita gente, mas não vejo isso acontecer com frequência em bairros nobres da capital do Acre, não sobrevém a meninos brancos da classe média e média alta o mesmo triste e trágico destino. A violência, o desrespeito à pessoa humana geralmente é praticado em rincões marcados pela pobreza e por uma população majoritariamente preta. O Eduardo para as autoridades é visto como mais um número, aquelas estatísticas alarmantes que estão por aí.

Mas, meu querido primo, espero que no seu caso e nos demais, seja feita justiça. Você merece que os responsáveis sejam punidos na forma da lei. Que haja um basta na violência sem sentido, injustificada, na desumanização do homem e de ações bestiais sendo praticadas por semelhantes. Que as autoridades competentes possam lhe fazer justiça.

Na última sexta-feira, foi a nossa despedida. Tomamos sorvete juntos, naquele momento nós não imaginávamos que seria a última vez que você desfrutaria daquela guloseima. Você, eu e a minha mãe, aquele momento ficara guardado comigo até o meu último suspiro, enquanto existirmos o Eduardo será eterno em nossas memórias. Adeus Dudu, amamos-te.

 

(Kairo Araújo)

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