Por Kairo Araújo –Percebo em alguns amigos e amigas a desesperança, a desilusão com o Brasil e o rumo em que as coisas estão indo no país, devemos nos ater: a que interesses servem o desanimo e a falta de esperança? Quando menciono a esperança, de forma alguma me inclino às pretensões religiosas e metafísicas, mas a deste mundo, a esperança em dias melhores e a atuação para que isso se torne uma realidade.
Como dizia o mestre Paulo Freire: “não quero dizer, porém, que, porque esperançoso, atribuo à minha esperança o poder de transformar a realidade e, assim convencido, parto para o embate sem levar em consideração os dados concretos, materiais, afirmando que minha esperança basta. Minha esperança é necessária, mas não é suficiente. Ela, só, não ganha a luta, mas sem a luta fraqueja e titubeia.”
Ao conversar com alguns amigos e amigas progressistas, e deparar com a desesperança deles, me pareceu era que o Lula é que estava atrás nas pesquisas e que havia recebido menos voto no primeiro turno da eleição majoritária no Brasil, enquanto na realidade é exatamente o oposto disso.
Ora, senhoras e senhores, estamos em uma luta que representa para nós muito mais que a pessoa do Lula na presidência da República, é uma guerra em que o que está em jogo é a própria sobrevivência da democracia brasileira, do respeito às instituições e às autoridades do país. O bandido e bolsonarista ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) recebeu a polícia federal a tiros e granadas, conseguindo ferir dois policiais, a política do ódio esta exercida com êxito sob os auspícios de Jair Bolsonaro, que sempre teve um discurso voltado à discriminação, à segregação e à intolerância.
Por exemplo, quando veio ao Acre em 2018 e disse: “Vamo fuzilar a petralhada aqui do Acre!” É obvio que esse tipo de discurso semeia o ódio e a violência, e mais irônico de tudo, com anuência de muitos “cristãos”, que resolveram abandonar o exemplo do príncipe da paz, para adorar a própria besta na terra.
Sei que o cenário é complicado e por vezes podemos nos inclinar a sentimentos de medo e desesperança, pois muitos dos que votam no Lula, assim o fazem por uma questão mais pragmática, enquanto do outro lado, por muitas vezes, impera o fanatismo e a idolatria cega. Mas, há quase dois mil anos um filosofo estoico já nos alertava sobre os perigos do medo, segundo Sêneca: “Muitos são prejudicados pelo próprio medo, e muitos podem ter chegado a seu destino enquanto o temiam.”
Se o medo nos dominar, há uma grande chance de que aquilo que é objeto do nosso medo se torne realidade. A eleição foi ganha por Lula no primeiro turno por uma margem bem pequena, há ainda em nosso país uma grande quantidade de indecisos e que votaram em branco, nulo ou que simplesmente nem saíram de casa para votar. É necessário ganhar votos, não se arrisque pedindo para um bolsonarista que idolatra o presidente votos para o candidato opositor, mas aqueles que ainda estão indecisos, peça e consiga votos para a democracia.
No mais, gostaria que em qualquer área da vida jamais perdessem a esperança, ela é condição necessária para que realizemos nossos sonhos, sejam eles de ordem pessoal ou quando pensamos na coletividade, não atoa, na obra Divina Comédia, de Dante Alighieri, na parte em que chegam à porta do inferno: “no qual estão escritas terríveis palavras (…) No existir, ser nenhum a mim se avança, Não sendo eterno, e eu eternal perduro:
Deixai, ó vós que entrais, toda a esperança!”
Nessa obra fundamental da cultura Ocidental, o grande escritor Dante (1265 – 1321), descreve o inferno como o lugar onde se perde toda a esperança, talvez porque, se a perdermos já estamos condenados. Lugar terrível é o inferno imaginado pelo escritor italiano, sem a esperança, o que mais nos resta?
*ALIGHIERI, Dante. Dante Alighieri: A Divina Comédia. epubli, 2020.
*FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Editora Paz e Terra, 2014.
*Holiday, Ryan. Diário Estoico: 366 lições sobre sabedoria, perseverança e a arte de viver. Editora Intrínseca, Rio de Janeiro – RJ, 2022.
Kairo Araújo
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