Por Chagas Batista – Qual o futuro da esquerda a curto prazo no Acre ? sinceramente, não sei. Por que essa pergunta é importante? Por que está relacionado também com o futuro do estado e das nossas cidades. Inegavelmente, a maioria das experiências dos governos populares e de esquerda no Brasil , tem sido positivas, além de uma grande esperança de transformação econômica, social, política e cultural.
Historicamente, no Brasil, em que pesem as limitações jurídicas e orçamentárias, os governos do campo democrático e de esquerda, no exercício da administração pública têm demonstrado ricas experiências de gestão participava, inclusão social e, em parte, o resgate do seu papel histórico no enfrentamento da desigualdade social.
Podemos citar exemplos de governos exitosos, na Bahia, em Pernambuco, no Maranhão, no Ceará e no próprio no estado do Acre. Indiscutivelmente, nesses estados e até mesmo em várias prefeituras, o povo foi mais respeitado, com suas demandas encaminhadas e, em muitos casos, protagonistas de projetos sociais inovadores.
No Acre, cabe uma cuidadosa reflexão coletiva sobre como a esquerda alcançou vitórias e conquistas. Em 1990, empolgada pela aliança da Frente Brasil Popular – PT, PSB e PCdoB – que levou Lula ao segundo turno, esses partidos, que no nosso estado que até então, resumia sua presença na universidade, no movimento sindical e comunitário, lançaram a Frente Popular do Acre com um caráter até mais amplo – PT, PSB, PCdoB, PV e PDT. O candidato ao governo, na época, Jorge Viana, a exemplo de Lula, chegou ao segundo turno, e elegeu uma bancada de parlamentares. A partir de então, o caminho para o futuro foi aberto.
Nas eleições seguintes, veio o pleito da prefeitura e Rio Branco e eleição de vereadores em Tarauacá e Xapuri. Logo após, numa aliança ainda mais ampla, alcançou conquista do governo do Estado e ampliação significativa da representação parlamentar na Assembleia Legislativa do Acre e nas câmaras municipais; além da conquista de várias prefeituras. Foram 20 anos de hegemonia política..
Após o quinto mandato, a esquerda sofreu duas derrotas acachapantes. 2018 e 2022.
Mais grave, a segunda derrota foi maior que a primeira. Assim, cai por terra a argumentação que foi muito recorrente nas duas derrotas: o desgaste do PT do governo Dilma, corrupção do PT e a prisão do Lula . O Lula é presidente, enquanto que a esquerda no Acre, eleitoralmente falando, foi praticamente varrida.
É importante frisar que, durante duas décadas sobre a égide do PT, PSB, PCdoB e outros partidos aliados, o Acre alcançou importantes conquistas sociais e políticas. Venceu cinco eleições consecutivas para o governo do Estado. Todavia, os candidatos a presidentes apoiados pela frente popular, nunca venceram no Acre , exceto Lula no segundo turno de 2006. Havia algo errado, foi a aliança nacional que descortinou os primeiros horizontes para a esquerda no acre e viabilizou os grandes investimentos que resultou numa espécie de segunda revolução acreana. O que aconteceu?
Lembro que nas eleições de 2014, o Brasil estava fervendo, a direita nacional não aceitava mais o quarto mandato da esquerda (reeleição da Dilma), a lava jato começava a prender várias dirigentes petistas e Lula já estava na mira. Nesse período, alguns dirigentes da frente popular que também disputavam a eleição estadual, diziam que era preciso evitar o debate nacional para não atrapalhar a na eleição estadual, segundo eles a questão nacional era uma causa perdida. Dilma se reelegeu, mas perdeu feio no Acre. Esses elementos talvez nos ofereça alguns ensinamentos sobre a trajetória da esquerda no Acre.
Como já me referi, o que mais preocupa, é a derrota de 2022, foi muito mais forte e avassaladora do que a de 2018. O a b c para retomar o caminho das conquistas e vitórias, como aconteceu na década de 90, incrivelmente, foi não lido pelos dirigentes da esquerda no Acre. O que fizeram? Não conseguiram chegar a um simples entendimento de que, em política, 1+1 é mais que dois. Que dois bonitos andando, pode espalhar mais boniteza do que só um. E agora, o que fazer? Não é preciso ler obra de Lenin para aprender a dialogar com a realidade. As vezes pasta um pouquinho de humildade, ou poderia ter aprendido com Lula.
Em 2022, o que Lula fez, saiu da cadeia, juntou uma ampla frente com o núcleo tradicional das forças de esquerda e do centro, liderou pesquisas e virou presidente da República no momento mais importante da história do Brasil.
No Acre a incompreensão fortaleceu ainda mais o conservadorismo e o Bolsonarismo. As candidaturas progressistas foram todas derrotadas. Bolsonaro alcançou 70% votos, seu candidato a governador, concorrendo a reeleição, sem obras, enrolado na justiça, com sua base da primeira eleição rachada em quatros candidaturas, ganhou no primeiro turno.
Agora o Lula é presidente. Quem do Acre vai dialogar com as políticas de interesse dos trabalhadores e dos mais excluídos? Quem vai liderar um projeto de reconstrução do campo popular?
Essa é a pergunta para o debate, antes que venham cometer os mesmos erros para as próximas batalhas
Chagas Batista – ex-vereador, vice prefeito de TARAUACÁ formado em gestão pública