Por Ana Beatriz – Quem de nós, alguma vez, não se perguntou pelas razões pelas quais as mulheres são sub-representadas na política? Quem de nós, em algum momento, não se questionou acerca dos motivos pelos quais somos maioria como eleitoras e minoria nos cargos eletivos?
Sem dúvida, devemos perguntar quais são os impasses que têm limitado o nosso acesso a esses espaços de poder e quais caminhos podemos percorrer para a maior participação feminina.
(…. espaços de poder ….)
Na obra Gênero e desigualdades: limites da democracia no Brasil (2018), Flávia Biroli, doutora em História pela Unicamp e professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, discute e equaciona muito bem essas questões.
Primeiro a historiadora aborda como a divisão sexual do trabalho afeta o cotidiano das mulheres, principalmente por ser um tema tratado como da esfera privada, e não como uma demanda primordial para a emancipação feminina e democratização do Brasil.
(… divisão sexual… )
Partimos da premissa de que homens e mulheres, em geral, dedicam um tempo diferenciado para a realização de tarefas domésticas, mesmo quando ambos também desempenham trabalhos fora de casa. Segundo a autora, “entre mulheres com mais de 16 anos, 87,6% dizem realizar trabalhos domésticos, o que só se verifica em 45,8% dos homens na mesma faixa etária. Do mesmo modo, entre as mulheres com 10 anos de idade ou mais, o número médio de horas semanais dedicadas ao trabalho doméstico é de 23,8, mais do que o dobro do deles, que é de 10,1 horas” (BIROLI, 2018, p. 40).
(… trabalho doméstico… )
O modo, no entanto, como o trabalho doméstico é dividido entre homens e mulheres não afeta elas de igual modo. Isso porque há a conjugação de outros fatores, tais como a raça e a classe social. Para que se tenha uma ideia disso, ainda hoje, no Brasil, os trabalhos mais precarizados são realizados por mulheres negras e de baixa renda, sobretudo o trabalho doméstico mal remunerado. Tais constatações, em geral, são invisibilizadas, pois as tratamos como um dado natural, e não como um fator profundamente social e político, que incide diretamente no direito à cidadania dessas mulheres.
(…mulheres negras e... )
Outro fator relevante para esse debate é a dimensão do cuidado. Em regra, recai sobre as mulheres a maior responsabilidade de cuidar das crianças, dos idosos ou qualquer outra pessoa que necessite de amparo. É também, pelo fato de estarmos socialmente na condição de cuidadoras, que temos menor tempo para nos engajarmos politicamente, para mobilizarmos as nossas necessidades enquanto grupo e para politizarmos os nossos discursos. Isso evidentemente não quer dizer que não fazemos este enfrentamento, mas
significa que para as mulheres esse caminho é mais árduo e desafiador.
(… menor tempo… )
Flavia Biroli (2018) advoga que o tempo é um recurso material e simbólico necessário para a participação política. Ora, se, em geral, as mulheres estão na posição de quem dedica boa parte do seu tempo aos afazeres domésticos e ao cuidado com os outros, nossas trajetórias certamente serão pautadas por esses misteres, o que dificulta nossas atividades de caráter social e político.
(… afazeres domésticos… )
De todo modo, os caminhos para romper com essas desigualdades podem ser aprendidos emulando a trajetória de mulheres que ousaram acessar os espaços políticos majoritariamente masculinos. Cito, a título de exemplo, a
primeira presidenta eleita, Dilma Rousseff (PT), a vereadora Marielle Franco (PSOL), a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL), a ex-deputada federal Perpétua Almeida (PcdoB) e tantas outras mulheres que lutaram e lutam por uma sociedade com respeito à dignidade humana e com equidade racial e de gênero.
Ana Beatriz, professora