Hora do adeus

histórias

Por Chagas Batista

Minhas raízes e a hora do Adeus à Santa Maria

Era 1973, o preço da borracha em queda, não havia escolas para tirar os filhos do analfabetismo e da servidão, sem nenhuma atenção de saúde no seringal, o filho mais novo havia morrido à míngua, todo o esforço e suor derramado quase não dava mais para pagar a conta ao barracão. Meus pais chamaram filhos para dizer que não dava mais para continuar em Santa Maria.

(… 1973 …)

Era preciso vender tudo para comprar uma casa na cidade. Vendemos gado, porcos, ovelhas e os equipamentos de trabalho da colocação. Chegou um batelão e começamos embarcar a bagagem da mudança. Junto também foi embarcado gado, porcos, galinhas, patos, periquito e papagaio.

Chegou a hora de desatar o barco e dar Adeus à Santa Maria. O silencio e a incerteza do nosso destino, misturava-se com o desconforto e o fedor dos amimais. O barco virou a proa pra baixo e começou descer o Rio Tarauacá. Foram três dias de Viagens até desembocar na foz do Murú, “à boquinha na noite”.

(… fedor dos animais …)

Quando avistei a cidade, fiquei impressionado com a luminosidade da noite. Era apenas umas três Lâmpadas fixadas na frente do prédio da Leal Maia (Casa de aviação da família Leal). A luz da lamparina a querosene nas noites de Santa Maria contrastava com Luz eléctrica da cidade que brilhavam forte nos meus olhos. Pensei que estávamos chegando num mundo de luzes e facilidades, mas o dia seguinte foi muito diferente do que parecia.

(… luzes e facilidades …)

Começamos desembarcar a bagagem e colocar em cima do barranco, para em seguida transportar nas costas até nossa nova casa. Eu estava ansioso para conhecer minha nova moradia. Quando chegamos à casa foi pura decepção. Encontramos uma tapera no meio de um aningal (vegetação de igapó). Tinha apenas uma cobertura, uma parte de assoalho e duas paredes laterais. Todos os anos de trabalho do meu pai com a nossa ajuda se resumiram em nada.

(… anos de trabalho …)

A casa media 7×5, não tinha quarto nem cozinha, mas tinha que abrigar oito pessoas. Nossa família estava começando um novo desafio: Morar na cidade sem emprego, sem parentes importantes e vindos do seringal. No dia seguinte começou o desespero: arrumar trabalho e dinheiro para o sustento da família. Minha mãe era costureira, meu pai e meus irmãos tinham a profissão de seringueiros e a disposição de enfrentar o “trabalho pesado”. Começou uma nova luta.

Chagas Batista, Tarauacá

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