Crônica de Dandão: Cerveja no armário

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Francisco Dandão – O futebol está cheio de historinhas pitorescas. Aquelas narrativas que não saem na mídia e que só circulam entre as criaturas que estavam mais próximas do fato. Com o tempo, nessa de passar de boca em boca (ouvido em ouvido), às vezes acabam ganhando contornos de lenda ou de folclore.

Por estes dias, eu fiquei sabendo de uma dessas historinhas. No caso, envolvendo uma das maiores duplas de zaga do glorioso Ceará Sporting Club, o famoso Vozão de Porangabussu: Pedro Basílio e Artur Pai d’égua. Dois zagueiros que botavam fogo pelas narinas e batiam até no vento.

Pedro Basílio teve uma carreira longeva, permanecendo em campo de 1969 e 1988, vestindo as camisas de grandes clubes brasileiros, como o gaúcho Internacional (1972) e o carioca Botafogo (1973). Mas os seus melhores dias foram mesmo nos rivais Fortaleza e Ceará (ídolo em ambos).

Artur Pai d’égua (Ribeiro do Carmo), que inclusive virou treinador e chegou a trabalhar no acreano Rio Branco, jogou de 1965 a 1984. Vestiu inúmeras camisas desde o início no Calouros do Ar (CE). Migrou do Nordeste para o Sudeste (Botafogo) e passou pelo Norte (Fast Clube-AM).

Tanto Pedro Basílio quanto Artur Pai d’égua, assim como um grande contingente de jogadores do futebol brasileiro, gostavam de enxugar umas geladas. Escreveu, não leu, de testa, meia dúzia desse néctar dos deuses descia pelas goelas. Eram ótimos jogadores e, talvez, melhores farristas.

Acontece que a sua condição de atletas de times grandes não lhes permitia saírem tomando todas assim tão abertamente. Se os torcedores os vissem, ia ser um Deus nos acuda. Seriam logo acusados de cachaceiros, irresponsáveis e quaisquer coisas desse nível. Tinham que beber na surdina.

Deu-se, então, que um dia, às vésperas da decisão do campeonato cearense de 1978, em plena concentração, a dupla dinâmica, com a garganta berrando por uma gelada, pediu ao técnico Moésio Gomes que os liberassem para tomar “só meia dúzia” do líquido preciso. Só pra lavar o peritônio.

Mesmo a contragosto, sabendo o quanto era absurdo aquele pedido, mas entendendo que sem “tomar uma” os seus zagueiros corriam o risco de não jogar toda a bola que sabiam/podiam, o técnico os liberou, mas os advertindo que eles não poderiam ser vistos por absolutamente ninguém.

Quando chegaram ao boteco, os zagueirões tomaram um susto. O local estava lotado. Aí eles chamaram o dono de lado e explicaram a situação. O homem logo deu um jeito, alojando a dupla dentro de um velho guarda-roupa. Perfeito. Eles tomaram todas e no outro dia o Ceará foi campeão!

Francisco Dandão – cronista e tricolor – do amador ao profissional, Dandão sabe tudo de futebol e um pouco mais

 


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