‘Apocalipse nos Trópicos’, o avanço da teocracia no Brasil

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‘Apocalipse nos Trópicos’, o avanço da teocracia no Brasil, em um grande documentário

Luis Nassif, no GGN – Documentário é uma reportagem jornalística que se vale dos recursos da imagem, mas, fundamentalmente, a serviço de um roteiro lógico. Vi muitos documentários em que os autores enfiam sucessão de imagens despregadas de um fio condutor, lembrando bastante as pirações dos anos 70, na qual autores – de música, documentários, artes – jogavam borrões na tela supondo estar fazendo vanguarda.

O documentário mostra a aliança com Bolsonaro, a fé cega movendo multidões para a vizinhança dos quartéis e aponta os riscos de uma teocracia no Brasil

Em contraposição, os documentários de Petra Costa são uma aula não apenas de documentarismo, mas de jornalismo. “Democracia em Vertigem”, de 2019, foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário, retratando a violência política cometida contra Lula.

Seu último documentário, longa-metragem, “Apocalipse nos Trópicos”  – recém-lançado em São Paulo – é uma aula de jornalismo, na melhor linguagem de documentário, sobre o fenômeno do pentecostalismo. E com os temas devidamente divididos em capítulos, para ressaltar o conteúdo e dar sequência à história.

O personagem central é o histriônico Silas Malafaia, que se revela por inteiro, e é a liderança que emerge da teologia apocalíptica, que traz da ultradireita norte-americana a visão de que o mundo precisa ser destruído para, dos escombros, nascer o novo mundo.

O filme traz o alerta tenebroso do risco do país cair sob um regime teocrático. Mas não trata de modo preconceituoso a ascensão do evangelismo nem o próprio Malafaia – cujo histrionismo fala por si próprio. Mostra dados históricos relevantes, o papel da geopolítica norte-americana no apoio a esses grupos, como contraposição ao papel da teologia da libertação católica. Mostra que os evangélicos entregam o que prometem: amparo espiritual e apoio material aos mais desvalidos, conquistando as periferias das grandes cidades e o povo oprimido com pitadas de religião, auto-ajuda e apoio material.

Depois, envereda pela teologia apocalíptica, presente em diversas vertentes do protestantismo e que está na raiz do ativismo político de alas dos evangélicos lideradas por Silas Malafaia (o documentário é anterior à ascensão do fenômeno Pablo Marçal). . Acreditam em um mundo à beira do colapso, cuja salvação estará em uma intervenção divina. Este é o mote para conquistar crentes e eleitores e pavimentar a conquista do poder político.

O documentário mostra a aliança com Bolsonaro, a fé cega movendo multidões para a vizinhança dos quartéis e aponta os riscos de uma teocracia no Brasil. E tem uma entrevista com Lula, avalizando a eficiência do discurso religioso na política.

Assim como em “Democracia em Vertigem”, o fio condutor é a narração da própria Petra, cuja voz doce, atravessando os turbilhões políticos mostrados pelo documentário, é uma espécie de âncora na racionalidade.


Luis Nassif, do GGN

(…)

Grifo meu: não podemos ceder ao fundamentalismo religioso…


J R Braña B.

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