Por Sérgio Silva, Economista, Consultor em Políticas Públicas*
Quando elegeu-se Prefeito da cidade de Rio Branco, capital do Estado do Acre em 2020, Tião Bocalom adotou como slogan da sua administração a frase “Produção, Emprego e Dignidade”. Criticado por muitos ambientalistas, Bocalom sempre se opôs à repressão indiscriminada contra os agricultores do Acre, especialmente os pequenos, que adotam práticas tradicionais de “queima da capoeira” e, após o esgotamento dos nutrientes do solo, “abertura de novas áreas da mata” para garantir o plantio de suas lavouras e o sustento das suas famílias.
Assim que iniciou o seu mandato, Bocalom criou o programa de apoio aos pequenos agricultores do município, lastreado em duas ações principais: disponibilização de maquinário para limpeza da “capoeira” (áreas já desmatadas e cultivadas anteriormente) e distribuição de adubo NPK e calcário, mineral rico em nutrientes essenciais para a agricultura como cálcio e magnésio. Sendo ele mesmo um agricultor, conhece bem as necessidades mínimas para o aproveitamento da terra e um cultivo adequado da lavoura. Resumindo, a estratégia foi simples: levar tecnologia para os agricultores, através de mecanização para os que não têm condição de adquirir tratores e outras máquinas agrícolas, e nutrientes básicos para recuperação do solo já cultivado que, degradado, não se prestaria a novos cultivos.
Em 2021 o programa beneficiou 300 agricultores, número que subiu para 1.300 em 2022, 1.500 em 2023 e 1.800 agora, em 2024. Adicionalmente, foram recuperados centenas de quilômetros de “ramais” – as estradas de acesso às propriedades rurais -, o que permitiu o trânsito ininterrupto em todas as estações do ano. Tudo isso, e mais outras importantes ações que serão objeto de um próximo artigo, envolveram a aplicação de 240 milhões de reais de recursos próprios da Prefeitura. A expressiva maioria dos agricultores beneficiados deixou de usar o fogo para limpar a “capoeira” simplesmente porque realizou essa atividade com o maquinário disponibilizado pela Prefeitura. Da mesma forma, não precisou “abrir” novas áreas na mata utilizando fogo, pois as áreas já abertas podiam ser novamente cultivadas graças ao calcário distribuído pela Prefeitura. Como resultado, milhares de queimadas deixaram de ser realizadas no município de Rio Branco nos últimos anos.
Iniciativas dessa natureza, que conciliam o apoio à produção rural e evitam novos desmatamentos, devem inspirar outros Prefeitos e também Governadores e gestores públicos envolvidos na promoção do desenvolvimento sustentável da Amazônia tendo como elemento central a valorização das populações dessa região!
Amaricanos – OEA, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, FIPE/USP e outras organizações e empresas nacionais e internacionais.