O dilema da aposentadoria no Brasil, por Gregório José

aposentadoria

Gregório José*
– Ah, o futuro. Esse vasto horizonte que o brasileiro insiste em deixar para depois, como quem empurra uma louça suja para a pia de amanhã. Planejar o amanhã? Para quê, se temos o “hoje” para resolver? Mas, de repente, a festa acaba, a banda para e chega o momento da aposentadoria. E aí, meu amigo, quem não guardou para o porvir, dança sem música.

É um dado que parece piada, mas não é: 60% dos brasileiros só começam a pensar na aposentadoria nos últimos cinco anos antes de alcançá-la. É como se estivéssemos correndo para pegar o último ônibus da noite, com a carteira vazia e a gasolina emocional no fim. Resultado? Quase quatro em cada dez aposentados confessam que não se planejaram. E, olha só, entre os que recebem o benefício, mais da metade declara que o valor não dá nem para o básico.

Imagem IA

O curioso — e trágico — é que o brasileiro não é desprovido de sonhos. Quer viajar, descansar, ajudar os filhos e netos. Mas como fazer isso se, antes de tudo, precisa pagar as dívidas acumuladas no presente? O estudo da Serasa revela que 53% dos aposentados continuam trabalhando para complementar a renda. Muitos porque precisam; outros porque, sem trabalho, se sentem desamparados, quase invisíveis.

Mas calma, nem tudo é desalento. Temos uma capacidade criativa invejável, mesmo diante do caos. Um brasileiro aposentado sabe como ninguém transformar a rotina em arte de sobrevivência. É aquele que inventa de vender bolo de pote, que reaprende a costurar ou vira um mestre do delivery. Só que, convenhamos, não deveria ser assim. A aposentadoria deveria ser o auge de uma vida bem vivida, não o início de uma corrida de obstáculos financeiros.

E aí entra a pergunta que ninguém gosta de responder: por que não pensamos no futuro? Será medo? Desinteresse? Ou apenas aquela famosa “fé” de que tudo vai dar certo, mesmo sem planejamento? O brasileiro é um otimista nato, mas, muitas vezes, confunde esperança com negligência.

Planejar, ainda que tarde, é melhor do que nada. Se você está nos 60% que só pensam na aposentadoria perto do fim da linha, não desista de começar. E, se já passou da hora, faça como muitos aposentados fazem: reinvente-se, mas com cuidado, porque as contas não têm criatividade — elas chegam no prazo, religiosamente.

No Dia do Aposentado (24 de janeiro), o convite é simples: olhe para frente, sem medo. Comece hoje, nem que seja com pequenos passos. Porque o futuro, esse camarada que sempre parece distante, está mais perto do que você imagina. E lembre-se: a festa da vida não é só sobre dançar enquanto a música toca, mas garantir que haverá um próximo acorde para seguir dançando.

*Gregório José – Jornalista/Radialista/Filósofo – Pós Graduado em Gestão Escolar – Pós Graduado em Ciências Políticas – Pós Graduado em Mediação e Conciliação – MBA em Gestão Pública

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