‘Com Lula, Brasil não se curva a Washington’

opinião

Por Cláudio Ezequiel – Na noite de 7 de julho de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou suas redes sociais para fazer uma defesa pública e escancarada de Jair Bolsonaro, afirmando que o Brasil estaria cometendo uma “terrível injustiça” ao processar o ex-presidente por crimes relacionados ao golpe de 8 de janeiro de 2023. Trump tentou criar um clima de desconfiança sobre o sistema judiciário brasileiro.

A declaração não foi apenas um gesto de solidariedade. Vinda de um chefe de Estado estrangeiro, vai muito além de uma opinião pessoal. Trata-se de um ato explícito de interferência política nos assuntos internos do Brasil — um gesto de prepotência internacional típico de quem age como se fosse o xerife do mundo.

O problema não é apenas o conteúdo da fala de Trump, mas o que ela representa. Quando um presidente estrangeiro critica diretamente o Supremo Tribunal Federal, questiona os processos judiciais e trata as instituições brasileiras como manipuladoras, ele está desafiando a nossa soberania jurídica.

Jair Bolsonaro está sendo julgado por crimes graves, incluindo tentativa de golpe de Estado e falsificação de documentos oficiais. As investigações têm base jurídica muito forte, provas documentadas e correm dentro da lei, e sem atropelar o devido processo legal.

O que Trump chama de “caça às bruxas” é, na verdade, a justiça em ação. Algo que ele próprio tentou sabotar nos EUA, ao estimular a invasão do Capitólio em 2021, num episódio que o mundo inteiro condenou — e que agora serve de espelho ao que Bolsonaro tentou repetir no Brasil em 8 de janeiro de 2023.

O comentário de Trump é uma reação à repercussão internacional, diga-se de passagem, muito positivada, da última reunião dos BRICS — bloco que hoje ganha nova projeção global com a inclusão de países estratégicos e isto tem incomodo muito a Donald Trump.

Durante o encontro, o presidente Lula reforçou a autonomia da justiça brasileira e afirmou, com segurança, que nenhuma pressão estrangeira irá interferir nos processos judiciais internos.

Embora não tenha citado diretamente nem Trump nem Bolsonaro, a fala de Lula soou como uma resposta à tentativa de internacionalizar a narrativa de vitimização do ex-presidente Bolsonaro. A tentativa de Donald Trump de “blindar Bolsonaro” é vista por muitos como um aceno à extrema direita global e uma provocação ao campo progressista latino-americano e ao BRICS.

Mas o fato é simples e direto: Donald Trump não manda no Brasil. Ele pode ser presidente dos Estados Unidos, pode gostar de Bolsonaro, pode fazer discursos inflamados — mas não tem qualquer autoridade sobre o sistema judiciário brasileiro. Trump não é dono do mundo. O Brasil é uma nação soberana, e quem decide os rumos do país é o seu povo, por meio das instituições democráticas e da Constituição.

Bolsonaro enfrenta investigações e processos por crimes graves, como tentativa de golpe, incitação ao caos institucional e uso indevido da máquina pública. Esses processos estão fundamentados em provas, documentos, delações e atos públicos. Ele terá de responder por isso perante a Justiça, queira Trump ou não.

A justiça brasileira não se curva a pressões nem do Norte nem do Sul, e muito menos a discursos vazios de líderes que vivem de marketing político. Trump fala muito, mas entrega pouco. O que ele diz hoje, amanhã pode mudar.

As palavras de Trump, como de costume, soam mais como propaganda do que como realidade. Já Bolsonaro, cada vez mais isolado, precisará de mais do que discursos estrangeiros para escapar das consequências de seus atos.

Donald Trump pode falar e fazer o que quiser, mas não dita os rumos do judiciário do Brasil. O Brasil não será governado por mensagens nas redes sociais, nem por nostalgia de alianças autoritárias. Não seremos arrastados por quem tenta manipular a verdade para proteger aliados golpistas. O Brasil tem soberania jurídica e popular. E não se curva a Washington.

Por fim, quero destacar duas situações que me chamam atenção:  a primeira, em matéria publicada na Folha de S. Paulo pela jornalista Mônica Bergamo, o governador Tarcísio de Freitas, teria atuado nos bastidores do Supremo Tribunal Federal para liberar Bolsonaro a viajar aos Estados Unidos com o argumento de que ele iria negociar diretamente com Trump, como se o Brasil não tivesse um Ministério de Relações Exteriores para tratar de assuntos dessa natureza.

A tentativa de Tarcísio de convencer os ministros do STF a liberar Bolsanoro, levanta suspeita de ser uma ação coordenada de bastidores para livrar Bolsonaro da cadeia, um plano de fuga transformando-o em um exilado de luxo, típico de um roteiro de filme barato de Hollywood.

A segunda situação que quero frisar diz respeito a mátria publicada pelo jornal online “poder 360 do dia 10” que traz na capa uma publicação comentada de um artigo do vencedor do prêmio Nobel de Economia em 2008, Paul Krugman, que classificou como “perversa” e “megalomaníaca” a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Segundo ele, a medida “seria motivo suficiente para um processo de impeachment” do presidente norte-americano.

Nessa direção, penso que o Itamaraty deveria agir no território do inimigo, conversando com o empresariado norte-americano e mostrando que os argumentos de Donald Trump, de déficit comercial dos EUA em relação as importações de produtos brasileiros não são verídicas.  Mostrar também que taxação de produtos brasileiros velaria escassez de produto ou elevação de preço no mercado interno dos EUA.  A medida também vai trazer prejuízos aos americanos.

Outro caminho a ser seguido seria conversar com os parlamentares de oposição a Trump e motivai-los a seguir a sugestão de Paul Krugman assim, estaremos devolvendo na mesma moeda o ataque feito por Trump ao Brasil.

 

Claudio Ezequiel – Professor

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