Por Marina Silva: A cada dois anos, com os resultados do Ideb, renovamos esperanças e frustrações, comemoramos avanços e lamentamos fracassos na educação.
As opiniões se dividem, dependendo da posição política. Muitos usam a educação como pretexto para constituir ou destituir alguém. Mas os que a têm como valor superior, acima das divisões e interesses políticos, sabem que o caminho é longo e tratam de manter a isenção e o equilíbrio.
Para esses, a avaliação não é o fim do caminho, mas uma oportunidade de analisar, corrigir e aperfeiçoar. Se for o caso, fazer grandes mudanças.
É o caso, sim. O Brasil melhora lentamente. Se quiser evitar o sacrifício de outra geração, tem que se concentrar mais, como aluno em recuperação. O Ideb mostra onde devem ser as maiores mudanças.
Há uma melhoria no ensino básico, significativa em algumas regiões e insuficiente em âmbito nacional, porém acompanhada de uma estagnação no ensino médio. Anuncia-se, assim, um “gargalo” que, em alguns anos, pode invalidar a melhoria atual.
Isso indica melhoria nos municípios, que cuidam do ensino fundamental, e fraqueza nos Estados, responsáveis pelo ensino médio? Em alguns casos, onde essa divisão é seguida, sim. Mas é importante notar que capitais e grandes cidades tiveram desempenho inferior a cidades menores. Há muitos fatores e diferenças regionais em nosso desenvolvimento social tão variado e desigual.
Aliás, a avaliação da educação só pode ser compreendida, de fato, quando vista no interior de todo o quadro social, cotejada com saúde, segurança, trabalho etc. É aí que se percebe como os problemas sociais atrasam a educação e vice-versa. Mas é onde se vê, também, as possibilidades de superação.
Tocou-me o bom resultado de escolas em comunidades pobres, algumas em vilas na Amazônia. Com carinho e cuidado, seus dirigentes e professores superam deficiências materiais e criam um ambiente em que é possível o aprendizado.
O Brasil está longe da sonhada “revolução na educação” que poderia alavancar um novo desenvolvimento em todos os aspectos da vida. Mas tem oportunidade de corrigir deficiências e ampliar melhorias ou ao menos antecipar-se ao agravamento dos problemas.
Só o que não pode é “mudar o teste” para melhorar artificialmente os resultados. É preocupante quando lideranças políticas se insurgem contra a posição de seus Estados e municípios no ranking. Mais grave ainda é que as autoridades –que já demonstram insensibilidade diante da greve no ensino superior– disponham-se a rever a metodologia do Ideb sem corrigir as deficiências que o teste ajudou a revelar.
Colocam, dessa forma, sua disposição no lugar errado. A necessidade do país e o clamor da sociedade é para passar na prova.