J R Braña B.
Talvez eu cometa uma deselegância com as outras cidades do Acre.
É bem provável que sim.
Mas comecei a gostar de Tarauacá depois que conheci o sonhador Moisés Diniz, o general Chagas Batista e o sargento Luiz Meleiro.
[As patentes aqui realçadas são aleatórias e, nesse caso, não significam superioridade de uma sobre a outra]
Faz tempo, claro, o apreço por Tarauacá.
Desde um tempo em que militantes sociais apanhavam da polícia e até suas vidas eram ceifadas assim, sem mais nem menos.
Tarauacá viveu períodos sangrentos há duas décadas.
Trabalhadores não tinham vez alguma.
Porque é assim mesmo.
Na sociedade que conhecemos, os de cima fazem de tudo para os de baixo nunca botarem a cabeça para fora.
É uma luta intensa e constante.
Luta de classes.
E nenhuma cidade no Acre expressou melhor esse conflito do que Tarauacá entre as décadas de 80 e 90.
Nem mesmo Xapuri, com sua luta ambientalista reconhecida no planeta.
Tarauacá é ideologia.
É o município de maior consciência política, crítica, avançada do Estado.
É a cidade mais à esquerda que temos por aqui.
As últimas eleições mostram.
Tarauacá é a Havana acreana.
Um povo pobre, sofrido, como o da capital da Ilha Rebelde, mas consciente da luta que tem que travar no dia a dia.
Digo isso com alegria na alma e ao mesmo tempo com um aperto no coração, pois gostaria que o meu principado tivesse esse nível de consciência que há em Tarauacá.
Nesses 102 anos só posso desejar grande futuro para essa cidade.
Que está precisando como nunca.
A Tarauacá dos Moisés, dos Batista, dos Meleiro, dos Rodrigo, dos Jasone, das Pilha, das Fran e agora dos Jenilson segue em frente em busca da sua ilusão.
Porque a ilusão, nos lembra o imortal Galeano, não é para alcançar.
É para não deixar a gente parar de caminhar.
[fotos: arison jardim, gov]