E a presidenta falou na internet, o futuro presente da comunicação – J R Braña B. –
Tijolaço
Fernando Brito
A fala de Dilma e a mídia sem ter do que falar
Deu para sentir como nossos jornais se condoeram pelo fato de não terem havido manifestações massivas contra o Governo no Sete de Setembro.
Fora uns poucos fanáticos – Batman, Bolsonaro, Revoltados, carregadores de “pixulecos” e outros que tais – foi como qualquer outro desfile, com as famílias mais preocupadas em assistir à passagem dos militares, suas bandas, da Esquadrilha da Fumaça e dos equipamentos bélicos.
Claro que, mesmo assim, o poder de foco da mídia se voltou para o grupo de alucinados que batia como podia numa cerca que isolava – como é normal – a área diante do palanque presidencial. Não era de se esperar outro cuidado, depois que um facínora ameaçou “arrancar a cabeça” da Presidenta, não é?
Apesar do esforço da mídia, porém, o “acontecimento” do Sete de Setembro, foi a fala de Dilma Rousseff na internet, para driblar o inevitável “panelaço” – mesmo que este seja apenas em áreas mais nobres do país – e que reproduzo abaixo.
A mídia, nela, prende-se à desnecessária frase: “Se cometemos erros, e isso é possível, vamos superá-los e seguir em frente”.
Ora, não existe a hipótese de terem-se cometido erros, pois erros sempre se comete.
O problema do governo Dilma é apontar saídas e apontá-las objetivamente.
Saídas, não milagres.
E nenhuma outra há senão a de voltarmos a crescer, sabe disso e quer isso a Presidenta.
Faltou reafirmar compromissos, como o de não arrochar salários dos mais humildes, os trabalhadores de salário-mínimo, como está sendo cumprido com a proposta orçamentária .
Faltou dizer que, nos “remédios amargos” – como ela própria definiu as medidas necessárias para os ajustes – a dose maior ficará para quem está mais gorducho e não para quem sempre pagou pelas crises no Brasil.
Faltou dizer que, a propósito do desfile das Três Armas, o Brasil não abre mão de defender suas riquezas, de equipar suas Forças Armadas para isso e de tê-las como projeção de nossos propósito de paz e de humanismo, como demonstraram os tripulantes da Corveta Barroso nas águas do Mediterrâneo.
Que lindo o nosso Sete de Setembro ser comemorado lá, naquelas lonjuras, com 220 vidas sendo salvas!
Faltou dizer mais do que foi dito sobre a democracia expressar-se no voto, o dizer que ela não tem medo de grito, porque no grito não se vence discussão.
Faltou, sim, embora não tenha faltado muita coisa, a começar pela menção humanista e generosa sobre o destino de milhões de pessoas que estão balançando nas ondas e fronteiras da morte e que são, afinal, os mesmos que são avós, bisavós, antepassados de milhões de brasileiros de origem árabe, negra, pobre.
A Presidenta da República, entretanto, não tem porque e do que se desculpar: tem de agir.
Não é mais que isso o que espera o povo brasileiro daquela a quem concedeu a legitimidade necessária para dirigir o país.
Que não deve ser exercida com soberba, mas com autoridade.
Se há um erro que a Presidenta possa ter cometido é o de não ser clara e afirmativa, permitindo que a onda golpista semeasse a incerteza no Brasil.
Este é o erro que deve ser superado, com a afirmação clara de para onde se quer ir e e a quem será necessário impor sacrifícios para chegar lá.