by Maria Lúcia, edição
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Lembro direitinho daquele dia.
Entrei em uma loja de sapatos em um shopping da cidade. Loja chique, sapatos caros.
Eu de tênis, camiseta, calça de moletom e rabo de cavalo. Até hoje eu me pergunto o motivo pelo qual eu andava na rua desse jeito. Calça de moletom, minha gente! Eu ia ao shopping de calça de moletom!
Antes de entrar na loja namorei a vitrine. Não só namorei, fiz um pedido de casamento ao sapato mais bonito, alto e caro.
Entrei.
No momento que entrei começou a guerra: uma vendedora olhou para outra e disse:
“Atende lá.”
“Eu não, vai você, é sua vez.”
A moça fez cara ruim, olhou para mim.
Quando elas viram que a da calça de moletom já tinha reparado a batalha, uma delas veio.
Acho que não foi a da vez. Não me lembro, já tem tempo que abandonei essas calças.
Sorrisinho amarelo no rosto:
“Pois não.”
Eu com a cara mais séria e de “estou ofendida” que pude fazer:
“Aquele sapato ali da vitrine, apontei para meu objeto de desejo, você tem 33?”
“Tenho sim.”
“Embrulhe, por favor. É presente.”
Incrível como todas as vendedoras que habitavam aquela loja vazia tiveram tempo para me olhar, oferecer água, café, puxar papo e tudo o mais que é feito quando o objetivo é bajular.
Recusei todas as ofertas com a educação de uma dama criada em colégio suíço.
“Cartão ou dinheiro?”
“Dinheiro.”
Quanto papo, minha gente, quanta atenção. Agora não precisava mais.
Peguei o precioso pacote, empinei o nariz e fui embora.
Um tempo depois a loja já não existia mais.
Escolheu atender, então faz direito, senão a loja fecha.