‘Nenhum país julgou construir cultura dos pés para cabeça’

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Fernando Haddad cita o baiano Anísio Teixeira (1900-1971), considerado o inventor da escola pública brasileira, em artigo na Folha.

(…) para haver ensino primário é necessário que exista antes o secundário, e para que o secundário funcione é preciso que existam universidades’)

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Fernando Haddad, na Folha

Se a educação básica é tratada com descaso pelo atual governo, a educação superior é vista como verdadeira inimiga.

A afirmação de que é preciso priorizar a educação básica sempre serviu de pretexto para sufocar a educação superior sem que nada, em geral, fosse feito por ambas.

As eficazes medidas tomadas pelo MEC para facilitar o acesso à graduação, no período 2004-2012, fizeram crer que a prioridade, então, fosse a educação superior. A criação do Prouni, dos Institutos Federais e da Universidade Aberta do Brasil (UAB), a expansão das universidades federais (Reuni) e o Fies sem fiador permitiram ao Brasil dobrar o número de matrículas, de 3,5 milhões em 2002 para 7 milhões em 2012.

Mas o recurso à velha ladainha de que chegou a hora da educação básica desconhece que nunca como naquele período o investimento por aluno deste nível teve um incremento tão substancial.

Gasto público por aluno no ensino básico (2000 – 2014)

Procurei seguir a lapidar recomendação de Anísio Teixeira: “Nenhum país do mundo, até hoje, julgou possível construir uma cultura de baixo para cima, dos pés para a cabeça; para haver ensino primário, é necessário que exista antes o secundário, e para que o secundário funcione é preciso que existam universidades”.

Minha concepção de educação sempre foi sistêmica e integral, da creche à pós-graduação.

Não espanta que, enquanto se abriam as portas das universidades para todas as classes sociais, os indicadores de qualidade da educação básica começassem a reagir de forma inédita.

Enquanto estive à frente do MEC, todas as metas de qualidade, segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), foram rigorosamente cumpridas e o Brasil, entre 2003 e 2012, foi o terceiro país que mais evoluiu no Pisa.

Nos últimos anos, a agenda da educação perdeu impulso. Inclusive na sociedade, outras pautas parecem ter ocupado seu lugar momentaneamente. Isto se refletiu na evolução dos indicadores educacionais recentes.

Pelos piores motivos, Bolsonaro a devolve ao centro do debate. O temor social é que, com ele, tudo venha a piorar e que aquelas conquistas incipientes sejam colocadas em risco.

Que esta ameaça provoque um despertar que recoloque a educação no alto das prioridades nacionais mais uma vez e para sempre.


Ouça a webrádio oestadoacre…música boa toda hora…


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