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Kairo Araújo
colabora com oestadoacre
Parte da sociedade faz um coro por boas notícias nos meios de comunicação, ecoa nessas hordas certa reprovação ao que é noticiado, em suas alegações comentam a necessidade de enfatizar mais os curados do Covid-19 e demais coisas boas que ocorrem no país. Não há duvidas de que o Brasil é uma nação com muitas coisas boas para serem ressaltadas, mas o foco e o papel da imprensa não é apenas esse, pois a mesma tem historicamente o dever de apontar e mostrar o que está ruim, uma única narrativa e abordagem é o melhor dos mundos para aqueles que nos governam. Apesar das coisas maravilhosas do nosso país, há de se convir que temos muitas mazelas e de maneira alguma podem ser negligenciadas por nós como cidadãos e também pela imprensa.
O fato de ignorarmos as nossas mazelas não faz com que elas desapareçam, é como um enfermo que tem um câncer e resolve não se importar com a patologia, certamente esse cancro com o passar do tempo ceifará a vida do doente que o ignorou. Assim somos como nação, não podemos fingir que não existem problemas e dificuldades a serem resolvidas, seria ótimo se o nosso país tivesse mais igualdade social, oportunidades laborais e condições sanitárias dignas à sua população, mas isso está muito longe de ser uma realidade.
As notícias más sempre tiveram uma utilidade grandiosa, como nos conta o historiador best-seller mundial *[1]Yuval Harari, em seu livro Homo Deus, Uma Breve História do Amanha: “A mente não se limita a reagir a estímulos externos. Por exemplo, quando um homem vê um leão, não reage automaticamente à imagem do predador. Ele lembra que no ano anterior um leão devorou sua tia. Ele imagina como se sentiria se um leão o fizesse em pedaços. Ele visualiza a sina de seus filhos que ficarão órfãos. É por isso que foge. Na verdade, muitas reações em cadeia começam por iniciativa da própria mente e não por algum estímulo externo imediato.
Assim, a memória de um ataque de leão ocorrido no passado pode surgir espontaneamente na mente de um homem, fazendo-o pensar no perigo que aqueles animais representam. Ele pode então reunir todas as pessoas da tribo para juntos discutirem novos métodos de afugentar os leões.”, no exemplo acima, podemos verificar a importância das notícias más. Através das experiências ruins do passado, noticiadas e propagadas, o cidadão e a sociedade podem analisar qual a melhor estratégia para suplantar o problema.
Portanto, a nosso ver a imprensa não tem o papel de ficar apontando apenas coisas positivas, em um país igual o nosso. O último a abolir a escravidão negra no continente Americano, grassou e grassa por aqui a discriminação contra as chamadas minorias e ainda temos uma realidade de periferias e favelas, cuja maioria das pessoas que lá vivem se quer tem o mínimo para viver com dignidade, não é nada respeitoso com os leitores fingirmos que está tudo bem e que não temos problemas, até mesmo para podermos combater essas mazelas, devemos estar absolutamente inteirados de sua existência.
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[1]*Harari, Yuval Noah.(2015) Homo Deus, Uma Breve História do Amanhã. São Paulo. Companhia das Letras.
Sessão na Assembleia Legislativa do Acre 19-Maio