Jane: Eu vi o Moa beijando o Juruá

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Jane Vasconcelos

“Mãe, teu presente de Natal é participar da Expedição do Parque Nacional da Serra do Divisor, que o Marcos tá organizando”. E foi assim que a Claudinha me surpreendeu com esse presente inusitado. Fui com muitas dúvidas, e pronta pra superar as dificuldades. Na verdade, não tinha ideia do que iria viver com outras 24 pessoas que participaram da expedição, a maior já organizada pelo fotógrafo Marcos Vicentti , e que já está em sua oitava edição.

Saímos de Rio Branco dia 16 de janeiro, almoçamos em Tarauacá e chegamos a Cruzeiro do Sul no final da tarde. No dia seguinte, partimos para Mâncio Lima onde tomamos o café da manhã e fomos dali, de barco, até o Parque Nacional da Serra do Divisor. Após 7 horas de viagem pelo rio Moa chegamos na Pousada do Miro um lugar simples, com uma equipe muito prestativa e acolhedora.

Saímos para conhecer as cachoeiras do Ar-Condicionado e do Amor, e o Buraco da Central, que ficam próximas à pousada. Chamam a atenção as muitas pedras, a vegetação, a água gelada e a beleza exuberante das cachoeiras. O Buraco da Central, com seus 700 metros de profundidade exige muita coragem e força. Ele foi feito pela Petrobrás, que o perfurou em busca de Petróleo, e hoje virou uma atração turística, com uma peculiaridade: você não afunda.

Nosso grande desafio era chegar na Cachoeira Formosa, para isso era preciso percorrer uma trilha de 14 km, sendo que toda sua extensão é traçada em uma trilha íngreme, passando por igarapés e mata fechada. O percurso exigiu o máximo de todos e, ao chegar no igarapé Anil, os expedicionários não escondiam suas emoções com lágrimas, alegria e a certeza de ter vencido suas limitações. Após um breve descanso, mais uma caminhada de 1 hora e 40 minutos foi iniciada em meio a muitas pedras, passando por dentro do igarapé para poder contemplar toda beleza da Formosa.

Enquanto isso, uma equipe trabalhava na montagem das barracas e do jantar, preparado no local para os expedicionários. A chuva tão comum nesse período, começou na madrugada e durou o dia todo, o que dificultou o retorno para a pousada. O último expedicionário foi recebido com festa no início da noite. Nada tirava a alegria, a vontade de interagir e aproveitar cada minuto da expedição. Teve brincadeiras, jogos e muita conversa.

O último desafio era chegar até o Mirante, de onde se tem uma visão de todo o parque, uma subida muito inclinada que deve ser feita com cuidado e em silêncio, para que não falte oxigênio. Nem todos conseguiram chegar até lá, eu sou uma delas. O joelho não ajudou, a falta de preparação física também não. Agora é se preparar para voltar ao Parque, e saborear as delícias da Vanessa, brincar com a mascote Dóris, uma cachorrinha sapeca, ouvir os sons da natureza e se desligar da correria do dia a dia, fazer silêncio e ouvir a voz de Deus na imensidão da floresta.

Ainda estou em busca de palavras que possam definir o que vivi e aprendi nessa imersão que mostrou minhas fragilidades e também a capacidade de superar meus limites. Ainda estou impressionada com a solidariedade gerada entre as pessoas do grupo. Não faltou alimento, nem medicamentos, nem gargalhadas, nem alegria, nem empatia. Foi um lindo encontro entre irmãos e amigos de jornada que ficará guardado para sempre na memória e no coração de cada um. O Parque Nacional da Serra do Divisor faz parte de nós com toda sua intensidade, beleza e mistérios.


As fotos são do Fagner Delgado e Pedro Devani
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