#cronica
Sortilégios etc. e tal
De qualquer forma, como aqueles bons espanhóis da história famosa, apesar de não crer nessas superstições, muito menos em bruxas, eu sei que tanto uma coisa quanto a outra existem. E, assim sendo, antes de sair de casa numa data dessas trato de reforçar as minhas defesas contra o sobrenatural.
Bater na madeira nove vezes (e não apenas três, como ensinam os manuais dos bons sortilégios), rezar de costas para o sol e botar no pescoço um escapulário estão entre as providências para reforçar essas defesas. Às vezes, até contrato um líbero para ficar de cão de guarda na frente da zaga.
Até o presente momento, tem dado certo. Eu saio e volto pra casa, toda sexta-feira, 13, numa nice. Sem maiores alterações, sem bolas nas costas e sem gols contra. A rigor, para fechar o corpo de uma vez por todas, eu penso que só falta comprar um patuá como aquele do técnico Marcelo Altino.
Eu sei que comprar um patuá desses vai dar o maior trabalho, uma vez que o amuleto do Marcelo Altino foi adquirido na região de Cusco, imediações de Machu Picchu. E sei que ele não o comprou. Ao contrário, lhe foi presenteado por uma feiticeira andina, depois de uma noite de amor.
Eu já estive em Cusco e Machu Picchu várias vezes, mas não vi nem sinal do amuleto. Muito menos consegui sequer um olhar enviesado na minha direção, proveniente de alguma bela feiticeira inca. Certamente, falta-me o carisma peculiar do Marcelo Altino, não por acaso chamado de “mago”.
O negócio é sério. Parece brincadeira, mas não é não. Tão sério que no dia em que o mago Marcelo Altino foi pra rua sem o seu amuleto, quase perdeu um braço num acidente de ônibus. A mídia não relatou nada disso. Não ligou um fato ao outro. Mas eu tenho certeza que foi por isso mesmo.
E o Atlético, que só pega lapada na Série D, não seria por alguma maldição também? Como é que pode, o time mandar tão bem no campeonato acreano e não emplacar quase nada no campeonato brasileiro? Só pode ser macumba da braba, a mandinga do sapo seco, alguma promessa não paga.
Como dizia Shakespeare, existem mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia. Marcelo Altino nunca mais vai sair de casa sem o seu amuleto. Eu vou acender as minhas velas. E o pessoal do Atlético que trate de descobrir uma encruzilhada para destravar o próprio destino!
Francisco Dandão – professor, escritor, jornalista, poeta, compositor…