Crônica de Dandão: Promessa é dívida

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Promessa é dívida

 

Francisco Dandão – É muito comum no meio do futebol (ou de outros esportes) um dirigente prometer alguma coisa para os atletas, seja de forma coletiva ou individual, para que o time tenha sucesso. Às vezes, a promessa é para vencer um determinado jogo. Outras vezes, a promessa é para conquistar um título.

No futebol acreano do passado havia um jogador chamado Bico-Bico, atacante do Independência, que gostava como poucos de tomar umas e outras. Dizem até que ele quanto mais bebia, mais jogava. Dizem também que não tinha tempo ruim pra ele e o dito cujo bebia antes e depois dos jogos.

Pois de acordo com a lenda, conta-se que quando o Bico-Bico não jogava bem no primeiro tempo, bastava um dirigente (ou torcedor) chegar no ouvido dele e dizer que se o Tricolor do Marinho Monte vencesse a partida, uma “meiota” (meia garrafa de pinga) seria o presente do craque.

Eu não sei exatamente se isso é verdade. Mas o que eu sei é que cansei de ver o Bico-Bico destruir vários laterais e arrebentar com um jogo no segundo tempo, depois de praticamente se arrastar em campo na primeira etapa. Ou seja: a lenda sobre ele tem tudo para ser verdadeira mesmo.

Independentemente, porém, desses fatos (ou lendas) do futebol acreano do passado, eu fiquei sabendo um dia desses de uma promessa mais recente, já em plena época do profissionalismo. Uma promessa envolvendo dois personagens do Rio Branco. No caso o Natal Xavier e o Juliano César.

Conta-se que o Juliano César, atacante rondoniense que fez história no futebol acreano, teria pedido para dar uma volta no carrão do presidente Natal Xavier. Aí o Natal teria respondido que se o Estrelão fosse campeão e o Juliano fosse artilheiro, ele deixaria o craque ir a Porto Velho no seu carro.

Foi uma promessa de alto risco, levando-se em conta o potencial do Rio Branco e a capacidade do Juliano César. Eis que o tempo foi passando, os jogos foram se sucedendo e, então, ao final do certame, tanto o Rio Branco foi campeão quanto o Juliano César ficou em primeiro lugar na artilharia.

No dia seguinte à conquista do título, o Juliano César estava na porta do Natal Xavier cobrando a promessa. O presidente entregou a chave do veículo ao artilheiro, mas jamais imaginou que este iria mesmo pegar a estrada. Na cabeça do Natal, o Juliano ia só dar uma volta no quarteirão.

O Juliano, porém, acreditando que “promessa é dívida”, entrou no carro e seguiu para a BR-364. Avisado da atitude do craque, o Natal pegou uma carona e saiu em alta velocidade atrás dele. Conseguiu pegar o artilheiro antes da Vila Extrema, tomou o carro dele e o deixou a pé na estrada.

Francisco Dandão – poeta , escritor, cronista e tricolor (esquece ontem à noite)

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