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Jacinto, a lenda
Francisco Dandão – Em se tratando de massagem, tanto faz se terapêutica ou relaxante, um nome se destacou no Acre, seja na universidade federal ou nos diversos clubes de futebol, nas décadas de 1960 a 1980: o de Jacinto Ferreira da Silva. O cara era considerado um verdadeiro mago nessa arte curativa milenar.
São inúmeras as histórias contadas por atletas dos times acreanos da época do amadorismo que eram dados como incapacitados para um próximo jogo e que, entretanto, contrariando todos os prognósticos, depois de tratados pelas mãos do Jacinto, entraram em campo como se nada tivesse acontecido.
Confesso que não sei onde foi que o Jacinto desenvolveu a sua técnica milagrosa. O que eu sei é que ele chegou em Rio Branco, junto com a sua família, vindo de um seringal de Sena Madureira, na segunda metade da década de 1950. E que poucos anos depois já estava em plena atividade.
E sei também que Jacinto foi um pioneiro da massagem no futebol acreano, levando-se em conta que ele começou numa época em que não se falava em massagista nos times estaduais. E depois dos primeiros trabalhos, ele ficou tão importante que era sempre requisitado pelos maiores clubes.
Mas essa importância e o interesse das diversas agremiações no seu trabalho jamais o impediu de tratar todos os jogadores que o procuravam com algum tipo de lesão. E fazia isso sem cobrar um centavo, se o atleta que o procurava não podia pagar pelos seus serviços. Competente e altruísta!
Jacinto também ficou famoso como um cara de pavio curto. Cansei de vê-lo entrar em confusão, no estádio José de Melo. No início da década de 1970, a proposito disso, lá pelas tantas, inconformado com a marcação de uma falta, um sujeito invadiu o campo para bater nele e no árbitro.
Da arquibancada onde eu estava, não sei qual era a bronca com o massagista. Com o juiz a queixa era a marcação da falta. Com o massagista, só Deus sabe o que era. O resultado, porém, foi catastrófico para o sujeito exaltado. Jacinto revidou e bateu no invasor como quem bate num bêbado.
Fora tudo isso, credite-se ao Jacinto a formação de uma turma de profissionais que o sucederam como massagistas, principalmente no trabalho com jogadores de futebol. Muita gente boa que se integrou a diversos clubes. Casos, por exemplo, dos também competentes Sorriso e Zé Ambrósio.
Jacinto morreu no fim da semana passada. Depois de uma longa enfermidade, ele foi descansar em paz. Acho, porém, que apesar da ausência física, ele pode ser visto no céu das noites como destaque estelar. Cumpriu a sua missão na Terra, mas paira sobre as cabeças dos antigos torcedores!
Francisco Dandão – professor, cronista, poeta e tricolor