Rock in Rio
Francisco Dandão – Depois dos lockdowns que abalaram o planeta nos dois últimos anos, todo mundo ficou louco pra sair de casa. E assim, já com as medidas de prevenção da Covid devidamente relaxadas, os espetáculos públicos tem estado cheios até a tampa. Se cair uma gota a mais do céu, o copo transborda!
Um dia desses eu fui a uma peça do gênero musical, em Copacabana. Me dirigi à bilheteria com quatro dias de antecedência, entendendo que o estava fazendo com tempo suficiente para escolher um lugar na primeira fila. Me enganei completamente e só consegui vaga quase atrás de uma coluna.
Nos estádios de futebol, então, nem se fala. Os ingressos para os jogos dos times cariocas (como em outros estados do país com equipes na Série A) se esgotam com dias de antecedência. Os do Flamengo e do Fluminense, que estão nas cabeças no Brasileirão, nem adianta procurar. É perder tempo!
E tem gente para encher tudo, sem se importar o quanto custa ir num lugar desses. Sei lá onde é que a galera tem conseguido tanto dinheiro para frequentar esses espetáculos. Com a choradeira geral no ar é de se pensar se não poderia estar havendo uma primazia do circo em detrimento do pão.
Neste fim de semana, a propósito, hordas de roqueiros estão a invadir o Rio de Janeiro para participar da nona edição do Rock in Rio. Tenho visto pelas ruas pessoas de todas as faixas etárias se dirigindo para o local do evento. Adolescentes, adultos e idosos, todos reunidos numa mesma tribo.
Criaturas bizarras
Tem umas criaturas bem bizarras, com argolas no nariz e o corpo cheio de tatuagens. Moças vestindo saias tão curtas e coletes tão apertados que eu me ponho a pensar como é que elas conseguem respirar. Mas o mais estranho que eu vi foi um casal do tipo “dark”, com cinco jiboias enroladas no corpo.
Os dois completamente carecas. Ela com a cabeça cheia de gomos, o que a deixava com a aparência de quem carregava um casco de tartaruga no alto do corpo. E ele com uma barba de profeta, toda despontada, de cor vermelha, alongando-se até bem perto da cintura. E as cobras como adorno.
A minha curiosidade me fez chegar perto dos dois para tentar ouvir o que eles diziam. Não adiantou nada. Eles falavam uma língua bem estranha. Talvez de anjos, talvez de demônios. Ou mesmo algum dialeto perdido. Só julguei entender duas palavras saídas das bocas deles: Alice Cooper!
Se é certo que eu ouvi mesmo isso, então ficam justificadas as cobras companheiras do casal. É que Alice Cooper era um roqueiro norte-americano de muito sucesso nas décadas de 1960/1970/1980 que de vez em quando fazia umas performances agarrado com uns ofídios. Bom festival pra eles!
Francisco Dandão – professor, poeta e tricolor