Francisco Dandão – Dentro de mais alguns dias, uns poucos dias, começa outra Copa do Mundo de Futebol. Desta vez, trata-se da vigésima segunda edição do torneio. Aliás, muito mais do que um torneio, a Copa do Mundo é um evento planetário que monopoliza as atenções de gregos, troianos e soteropolitanos.
Algumas pessoas não ligam muito para futebol. Tem, inclusive, quem abomine a ideia de ver vinte e duas criaturas correndo atrás de uma bola, com o intuito de fazê-la ultrapassar aquelas balizas (ou traves, como queiram) e beijar as redes que as adornam como se fossem véus de noivas.
Mas até essas pessoas que não gostam muito (ou quase nada, ou nada) de futebol costumam se tocar quando o assunto é Copa do Mundo. Se não for pela bola e pelos movimentos dos milionários artistas que a tratam com paixão, se deliciam com o espetáculo que ocorre fora dos estádios de jogo.
No meu caso, eu sou tão fissurado numa Copa do Mundo que sequer saberia dizer, assim de súbito, qual a edição da competição que eu elegeria como a minha preferida. Passei por várias emoções, da profunda tristeza, no caso das derrotas, ao estado de exacerbada euforia, nas gloriosas conquistas.
O meu primeiro rito de espanto com uma Copa se deu em 1962, no bi do Brasil. Não que eu entendesse o que estava acontecendo. Pelo contrário, foi exatamente por não entender nada, no clamor dos meus cinco anos de vida, que eu fiquei atônito com o júbilo que tomou conta da população.
Eu morava no interior do Acre, em Brasiléia, na fronteira com a Bolívia. E até então eu não havia visto tanta gente bêbada pela rua. Inclusive uns caras que falavam uma língua estranha, enroladinha, gritando “maricons” e “carajos”, além de um tal “salud por la amistad”. Patrícios!
Depois disso, aí já em plena consciência, em 1966, sobreveio uma grande decepção: aquela frustrada participação do Brasil no torneio da Inglaterra, quando os portugueses desceram o porrete no rei Pelé. Eu pensei em abandonar a minha paixão, mas, ao contrário, ela fez foi se fortalecer.
Como não há mal que dure para sempre, depois da turbulência inglesa o Brasil conquistou três outros títulos (1970, 1994 e 2002). Conquistou esses outros três, mas bem que poderia ter sido pelo menos mais dois (1982 e 1998). Coisas dos desígnios insondáveis dos deuses esses dois insucessos!
Enfim, pesando-se tudo na balança do destino, eis que o Brasil ganha nova chance de fazer o mundo se dobrar ante a exuberância do seu futebol. Eu acredito! Tanto acredito que até já comprei a minha passagem para Brasiléia, onde tudo começou. Vou pra comemorar e lembrar a primeira vez!
Francisco Dandão – poeta, cronista e tricolor