Crônica de Dandão: Minientrevista

cronica

Francisco Dandão –  Um dia desses eu fui repreendido pelo meu amigo Francisco Saraiva por não ter acompanhado a carreira dele enquanto “promessa” de craque, no tempo em que ele era adolescente, lá pelo início da década de 1970, quando ele era titularíssimo da lateral direita do Americano da Cadeia Velha.

Aí, para diminuir esse lapso na minha biografia de escrevinhador e “maníaco das imagens”, via registro fotográfico, resolvi fazer uma entrevista com o citado personagem, cujo resumo vai nas linhas abaixo.

Eu – Conte aí como foi a sua iniciação no futebol.

Saraiva – Eu fui visto numa pelada na beira do rio. A bola era uma melancia. Aí, como eu atravessa o campo dando pancadinhas, o Bugi, que já tinha uma camisa cativa no Americano, me chamou para fazer um teste.

Eu – Como foi o teste?

Saraiva – Rapaz, quando eu peguei uma bola de balata no lugar da melancia foi a maior moleza. Eu tinha uma “bicuda” potente. Eu pegava na bola e metia o tuba. Meu negócio era mandar a bola na fogueira. Só lançamento.

Eu – Fale das suas características.

Saraiva – Eu sempre fui um lateral viril. Comigo, pontinha metido a habilidoso, do tipo que queria fazer graça, não tinha vez. Se a bola passasse, eu dava no meio do gaiato. Só depois é que eu pedia pra ver os documentos.

Eu – Onde é que o Americano costumava jogar?

Saraiva – Havia um campinho no fim da Cadeia Velha, perto do areal do Elói Abud, que a gente usava como alçapão. Ali nós jamais perdemos um jogo.

Eu – E os torneios nas colônias?

Saraiva – Ah, isso aí era show. A gente viajava de batelão, primeira classe, tinha até lugar para armar a rede. E quando chegávamos ao local do jogo, tinha sempre uma charanga nos esperando. Depois do jogo, era cair de boca nas fritadas de mandi, panelada e muita cachaça. Uma alegria!

Eu – E você nunca foi convidado para entrar num time federado?

Saraiva – Sim, fui sim. Fui convidado para jogar no Vasco, o Almirante da Fazendinha. Aí foi o fim de tudo. É que o campo do Vasco ficava perto do boteco do Mané com Sono. E aí, a gente depois dos treinos corria para enxugar umas geladas. Então, já viu, não tinha preparo físico que aguentasse o rojão. Eu poderia dizer que a minha bola perdeu para a cerveja.

Ainda conversamos muito mais. Ainda perguntei muita coisa e ele respondeu tudinho. Infelizmente, não tenho mais espaço para reproduzir  o teor completo do diálogo. Se a minha preguiça deixar, outro dia eu continuo.

Francisco Dandão – cronista e tricolor

Sair da versão mobile