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Artigo de Fernanda C. Silva, IBRAFE
A agricultura irrigada brasileira tem sido um setor em crescimento contínuo, mesmo diante de períodos instáveis e negativos na economia nacional. O país possui um vasto potencial para explorar a irrigação de maneira sustentável tanto em termos econômicos quanto ambientais. No entanto, o papel da irrigação no aumento da produção agrícola ainda é subestimado, na maioria, devido à falta de dados e informações e à falta de divulgação dessa atividade para a sociedade.
A agricultura irrigada desempenha um papel fundamental na segurança alimentar da população. Para garantir a expansão necessária da produção de alimentos como arroz, feijão e trigo, é crucial incentivar e promover o uso da irrigação, evitando o desmatamento. Além disso, há um vasto potencial para explorar a produção de alimentos de maior valor agregado.
A irrigação é realizada artificialmente para fornecer água quando as fontes naturais não são suficientes para o pleno desenvolvimento das culturas. A quantidade de água necessária varia conforme a cultura, a fase de desenvolvimento e o clima local. A eficiência do método ou sistema de irrigação também é um fator crucial para determinar a quantidade de água a ser captada de mananciais superficiais ou subterrâneos.
Existem quatro principais métodos de irrigação: superfície, subterrânea (ou subsuperficial), aspersão e localizada (ou micro irrigação). A escolha do método depende de uma avaliação integrada de fatores socioeconômicos e ambientais, incluindo disponibilidade e qualidade da água.
Vantagens da Irrigação
A irrigação traz várias vantagens importantes, incluindo o aumento significativo da produtividade das culturas, que pode chegar a duas ou três vezes em comparação com o cultivo a seco. Além disso, possibilita a utilização do solo durante todo o ano, o que permite até três safras anuais, reduzindo os riscos de produção. A modernização dos sistemas de produção, com a introdução de novas tecnologias e maior assistência técnica, é estimulada pela adoção da irrigação. Isso também leva a uma maior oferta e regularidade de alimentos, contribuindo para a segurança alimentar do país. Além disso, a irrigação viabiliza o cultivo de produtos com maior valor agregado, criação de polos agroindustriais e abertura de novos mercados.
O Crescimento da Irrigação no Brasil
Nas últimas décadas, a irrigação no Brasil tem se intensificado, especialmente em regiões com características físicas e climáticas menos favoráveis. As políticas de financiamento e desenvolvimento regional também têm impulsionado esse crescimento, além dos benefícios já observados na prática.
Atualmente, o Brasil possui aproximadamente 8,2 milhões de hectares destinados à fertirrigação (2,9 Mha) e irrigação (5,3 Mha). As áreas irrigadas são diversificadas, com o arroz ocupando 25%, a cana 15%, o café 8%, as culturas anuais em pivôs centrais 27% e as demais culturas e sistemas representando 25% do total.
Potencial Físico-Hídrico e Efetivo da Agricultura Irrigada no Brasil
O potencial físico-hídrico total do país é de 55,85 milhões de hectares (Mha), compreendendo áreas agrícolas de sequeiro (26,69 Mha), áreas de pastagens (26,73 Mha) e áreas agropecuárias com disponibilidade hídrica subterrânea (2,43 Mha).
O potencial efetivo de irrigação é de 13,7 Mha, concentrado principalmente nas regiões Centro-Oeste (45%), Sul (31%) e sudeste (19%). Estados como Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina possuem maior potencial para aumentar as áreas irrigadas. Essas regiões têm demonstrado forte crescimento na adoção da irrigação nos últimos anos.
Atualmente, a agricultura irrigada consome cerca de 965 m³/s de água, com aproximadamente 941 m³/s captados de mananciais e 24 m³/s reutilizados agronomicamente em áreas de cana-de-açúcar. Até 2040, estima-se a incorporação de 4,2 Mha irrigados (+76%), com um impacto menor sobre a expansão do uso da água (+66%) devido à adoção de métodos mais eficientes de irrigação, como os pivôs centrais e a irrigação localizada.
Os pivôs centrais liderarão a ampliação das áreas irrigadas, aumentando sua participação de 27% para 38%. Os 28 Polos Nacionais de Agricultura Irrigada, que representam 50% da área irrigada e 60% da demanda hídrica, são áreas estratégicas para a gestão setorial e dos recursos hídricos.
Pivôs Centrais – Versatilidade na Agricultura Irrigada
Os pivôs centrais desempenham um papel fundamental na agricultura irrigada brasileira, irrigando diversas culturas, com destaque para Feijão, milho, soja, algodão e, em menor escala, trigo e batata. Sua flexibilidade permite a realização de até três safras no mesmo ano-safra, tornando-se uma ferramenta valiosa para maximizar a produção.
A capacidade de realizar duas safras é mais comum, como a safra seguida pela safrinha ou pela segunda safra de longa duração, ou de inverno. Além disso, é possível cultivar culturas diferentes simultaneamente no mesmo pivô, tornando-o ainda mais versátil.
É importante ressaltar que não há uma atribuição específica de culturas aos pivôs centrais, pois eles funcionam como consórcios, variando ao longo do tempo conforme as condições do mercado, a disponibilidade de água e as decisões dos produtores.
A versatilidade dos pivôs centrais contribui significativamente para a produtividade agrícola do país, permitindo o uso eficiente dos recursos hídricos e a maximização do potencial produtivo das áreas irrigadas. A contínua adoção dessa tecnologia é fundamental para impulsionar o desenvolvimento sustentável da agricultura brasileira.
Valor da Produção Irrigada
A produção agrícola de arroz, feijão e trigo, grãos essenciais na alimentação do brasileiro, revela a influência significativa da agricultura irrigada na produtividade. De acordo com indicadores médios entre 2010 e 2019, a produção predominantemente irrigada apresentou rendimentos 3,7 vezes superiores para o arroz, 2,0 vezes para o Feijão e 1,9 vezes para o trigo, quando comparada à produção de sequeiro.
Devido ao elevado aumento de produtividade proporcionado pela irrigação, o Feijão da terceira safra alcançou, em 2019, uma participação de 8,9% na área total de colheita de Feijão no Brasil, no entanto, representou significativamente 22,6% da quantidade total produzida, equivalente a 655,4 mil toneladas em uma área de 245,6 mil hectares. A quantidade de Feijão atualmente produzida é muito ajustada ao consumo, mas esta preocupação pode ser minimizada com maiores estímulos à produção irrigada.
A irrigação é responsável por uma parcela importante da produção agrícola brasileira, ocorrendo em cerca de 7 a 9% das áreas cultivadas. Essas áreas irrigadas agregam entre 13 e 15% do valor total da produção, devido à possibilidade de realizar múltiplas safras no mesmo local e ano-safra, além de proporcionar culturas com maior valor agregado e, consequentemente, mais rentáveis. Em 2019, o valor da produção irrigada atingiu R$ 55 bilhões, e 16 produtos tiveram valores anuais superiores a R$ 1 bilhão.
Embora grãos como arroz, feijão, milho e soja, bem como a cana, se destaquem em termos de produção física, eles agregam menos valor à economia por unidade de área irrigada. Especificamente, a produção desses grãos e da cana gera entre R$ 4 e R$ 7 mil por hectare irrigado.
Desafios
Embora a expansão recente da agricultura irrigada tenha sido em torno de 211 mil hectares por ano, há desafios para mantê-la nos próximos 20 anos, incluindo acesso ao crédito, mudanças climáticas e capacidade de suporte ambiental e hídrico dos polos de irrigação. No entanto, há oportunidades de acelerar essa expansão de forma sustentável, levando o Brasil a incorporar 6 Mha até 2040, 43% a mais do que o projetado no cenário tendencial.
Conclusão
Em conclusão, a agricultura irrigada brasileira representa uma importante fonte de desenvolvimento econômico e segurança alimentar. O país tem um enorme potencial para expandir sua produção agrícola de forma sustentável, garantindo a conservação dos recursos hídricos e promovendo usos múltiplos da água. Investir em pesquisa, divulgação de informações e políticas que incentivem a irrigação é fundamental para aproveitar plenamente os benefícios dessa prática e alcançar um futuro mais próspero e sustentável para o setor agrícola brasileiro.
Fonte: Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (Brasil). Atlas Irrigação: uso da água na agricultura irrigada. 2. ed. Brasília: ANA, 2021. 130 p. il.