Combate à fome no Brasil requer urgente apoio científico

oestadoacre.com inf. da Embrapa

Livro sobre segurança alimentar e nutricional aponta como a ciência é essencial para enfrentar desafios que vão da produção ao acesso da população aos alimentos

Com os efeitos das mudanças climáticas cada vez mais sentidos no planeta, o cenário global de produção de alimentos sofrerá alterações. A ciência precisa avançar rapidamente para solucionar o dilema da próxima década – produzir com cada vez menos solo, água, insumos e esforço humano – o que será um dos principais passos para o combate à fome. O alerta é feito no livro Segurança Alimentar e Nutricional: O Papel da Ciência Brasileira no Combate à Fome, lançado este mês de março na sede da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de janeiro (RJ). No dia 18 de abril, a obra será novamente apresentada no Auditório da Bunge, em São Paulo.

Dividido em 18 capítulos, o livro é organizado por Mariangela Hungria, integrante da diretoria da ABC e responsável pelo grupo de trabalho sobre segurança alimentar. Hungria, também pesquisadora da Embrapa, é uma das principais especialistas no tema no país. A obra reúne o resultado do trabalho de 41 autores, de 23 instituições de pesquisa. O objetivo é apresentar um quadro da fome no Brasil e apontar como a ciência pode ajudar a agricultura, o poder público e outros setores a enfrentar a insegurança alimentar – um problema que se agravou no país em meio à pandemia e que pode piorar nos próximos anos com os impactos das mudanças climáticas. “É preciso inovar fazendo uma ciência cidadã, em que há compromisso de diversos setores. Porque só ouvindo toda a sociedade e construindo essa ciência conjunta é que vamos conseguir definir estratégias adequadas para enfrentar a fome”, afirma Hungria.

Atualmente, o Brasil é o quarto maior produtor de alimentos do mundo. Apesar disso, dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (PENSSAN) apontam que, em 2021 e 2022, mais de 33 milhões de pessoas viviam em situação de insegurança alimentar grave, caracterizada por privação de alimentos e fome. Um paradoxo que só poderá ser resolvido com apoio da ciência e com políticas públicas de impacto, apontam os pesquisadores.

“O problema é esse: o Brasil é um grande produtor de alimentos e tem 33 milhões de pessoas passando fome. A fome tem causas múltiplas e requer estratégias multidisciplinares da ciência”, destaca Hungria.

Ciência será essencial para superar desafios na agricultura

Para resolver o problema, o livro aponta a necessidade de cooperação entre diferentes campos da ciência como forma de melhorar a produção de alimentos, valorizar a agricultura familiar e permitir parcerias entre governos, empresas e terceiro setor.

Entre as propostas apresentadas, estão o investimento em agricultura sustentável e regenerativa como forma de garantir melhor uso dos recursos; a adoção de políticas de prevenção de desastres e de gestão de riscos climáticos; o incentivo aos pequenos agricultores; a adoção de política de renda mínima que garanta a segurança alimentar e o investimento em educação no campo.

Nas últimas décadas, a ciência ajudou a agricultura a produzir mais usando novas tecnologias, como o melhoramento de plantas por engenharia genética ou o tratamento de sementes. Mas o setor terá que lidar com novos desafios nos próximos anos. Os três principais são a questão climática, com ações orientadas a reduzir a emissão de gases de efeito estufa e os desmatamentos; o combate à fome e a promoção da transição alimentar justa, com a busca por maior diversificação produtiva e mudanças no uso de insumos; e a inclusão produtiva da população mais vulnerável, com maiores oportunidades a quem precisa.

“Este ano teremos uma quebra enorme na produção devido à seca e das mudanças climáticas. Temos que investir em ciência para ter plantas que resistam a essas condições. Só que o combate à fome não é só produzir”, pontua Hungria.

O papel das mulheres na segurança alimentar é outro ponto destacado pela publicação. Atualmente, elas representam cerca de 43% do total de produtores na agricultura familiar, além de terem destaque no processamento, comercialização e preparo de alimentos. Apesar disso, mulheres têm dificuldade no acesso à terra e enfrentam outras desigualdades de gênero.

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