Nicolás Maduro: da vida nas ruas a três vezes presidente

Venezuela

Maduro com 16 anos; o atual presidente já militava em movimentos estudantis / Acervo pessoal

Lorenzo Santiago
Brasil de Fato | Caracas (Venezuela)

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, conquistou neste domingo (28) a reeleição para um terceiro mandato e deve se tornar o chefe do Executivo mais longevo da história do país do período democrático, desde 1958. Conhecido nos últimos 20 anos por sua atuação como deputado, chanceler e vice-presidente durante os governos de Hugo Chávez, o mandatário reeleito tem 62 anos e uma trajetória política que começa ainda na sua infância.

A vida política de Maduro está muito ligada à atuação de seu pai. Nicolás Maduro Garcia era economista e foi dirigente do partido Ação Democrática (AD). Quando a legenda se tornou clandestina, em 1948 durante a ditadura de Marco Pérez Jiménez, Nicolás pai passou para resistência contra o regime militar. Mais tarde, fundou o Movimento Eleitoral do Povo (MEP), um partido socialista que surgiu após a separação da Ação Democrática no período mais duro da ditadura venezuelana.

Foi em meio a este contexto político que Nicolás Maduro se formou. Nascido no bairro de Los Chaguaramos, em Caracas, em 1962, sua família é colombiana e chegou à Venezuela pelo estado de Falcón, no oeste do país. Ele é o único filho homem de Nicolás Maduro García e Teresa de Jesús Moros. Juntos, eles têm outras 3 filhas: Anita, Josefina e Maria Teresa.

Uma das paixões da infância era o beisebol. Torcedor fanático dos Leones de Caracas, escutava com o pai os jogos no rádio e chegou a dedicar-se ao esporte, disputando campeonatos metropolitanos. Certa vez, recebeu uma proposta para fazer um teste em um time nos Estados Unidos, mas recusou porque teria que viver do beisebol, algo que ele não queria naquele momento.

Desde cedo, seu pai incluia ele na política. Com apenas 5 anos, Nicolás já participava de atos e, segundo o próprio, recebia um megafone para entoar gritos a favor da candidatura de Luis Beltrán Prieto Figueroa para senador. Além de atuar na Casa Alta, ele também foi ministro de Educação do país e foi um dos quadros da esquerda naquele momento. A atuação política do pai de Maduro também extrapolava os limites partidários e tinha forte atuação sindical. Já sua mãe era dona de casa e ajudou na formação estudantil de Maduro.

Ele começou a estudar no Colégio San Pedro, onde também formou a sua vida religiosa. Foi coroinha na Igreja do colégio e sua mãe queria que ele seguisse a carreira no catolicismo como padre. Não foi para esse caminho que a história conduziu. Durante a adolescência, se aproximou da música também. O rock foi seu gênero preferido, mas ele também aprendeu a ter um carinho pela salsa, estilo muito marcante na cultura do país.

À medida que Maduro crescia, a cidade de Caracas também passava a receber muitos trabalhadores rurais que buscavam os centros urbanos, abandonados pelo crescimento do modelo econômico petroleiro. A cidade enriqueceu ao passo que cresceram também as zonas populares, que passaram a ocupar os morros do sul da capital.

Aos 14 anos, ele entrou no colégio Luis Manuel Urbaneja Archepol, onde conheceu dois amigos que seriam importantes para o resto de sua vida: Pedro Calzadilla (que foi ministro da Educação) e Roman Chamorro, que mais tarde levou Maduro à Liga Socialista. Os três começaram uma vida ativa na política e Maduro entrou no Partido da Revolução Venezuelana, uma organização clandestina de esquerda. Durante o colégio, Maduro conheceu também Carlos Carillo, que o convidou para ser baixista da sua banda chamada Enigma.

Depois, no Liceu José Avalos, continuou sua participação política no movimento estudantil enquanto começava a se aproximar da Teologia da Libertação – corrente progressista da Igreja Católica que busca conscientizar os fiéis de que sua pobreza não é desejada por Deus, nem é natural, mas consequência de forças sociais e políticas que os exploram.

Maduro com 16 anos; o atual presidente já militava em movimentos estudantis / Acervo pessoal

 

Liga socialista e o Caracazo 

O interesse e a participação foi crescendo e Maduro se tornou cada vez mais linha-de-frente das manifestações estudantis reprimidas pela polícia. Durante a sua militância na juventude, ele encontrou um cenário de reformulação dos partidos políticos. A ditadura havia terminado em 1958 e Rafael Caldera assumiu a presidência com uma “política pacificadora”.

A luta guerrilheira ficou desmobilizada no país. O Partido Comunista da Venezuela deixou a luta armada e aí surgiu a Liga Socialista, como uma organização marxista-leninista para ocupar um espaço de formação e articulação política à esquerda no país. Entre os fundadores estava Jorge Antonio Rodríguez, pai da atual vice-presidenta, Delcy Rodríguez, e do hoje presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez. Nicolás entra na organização em 1980, com 18 anos.

O envolvimento de Nicolás a partir de então é total com a organização e ele tornou a Liga Socialista parte da sua vida. Com o grupo, ganhou uma bolsa para estudar em Cuba e permaneceu, de outubro de 1986 a julho de 1987, como estudante na Escola Superior do Partido Ñico López. A instituição formava parte de um grupo de unidades de formação universitária de graduação e pós-graduação para quadros políticos, sendo o curso mais forte de Ciências Sociais.

Maduro voltou de Havana com o discurso político mais consolidado, como ele mesmo diz, e tendo já em mente uma visão ampla dos movimentos de esquerda da América Latina. Em 1988 ele se casou com Adriana Guerra Angulo, com quem tem seu único filho, Nicolás Ernesto Maduro Guerra.

Um ano depois de voltar, ocorre o Caracazo. O então presidente venezuelano Carlos Andrés Perez assumiu em 1989 e assinou um memorando com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para empréstimos, além de anunciar um pacote que incluía a desvalorização da moeda venezuelana, o bolívar, redução do gasto público e do crédito, aumento nos itens de primeira necessidade e um reajuste que dobraria o preço da gasolina. Tudo isso não estava na campanha e os venezuelanos se revoltaram com o que chamaram de “estelionato eleitoral”.

Por ser uma revolta popular sem uma organização coordenando, os protestos são disseminados por toda a capital e Maduro participa de maneira tímida, sem um envolvimento direto. O movimento, duramente reprimido, não conseguiu derrubar o presidente, mas marcou um ponto de virada para a sociedade venezuelana.

Sindicalismo e relação com Chávez

Em 1990, Maduro é contratado para trabalhar como motorista nos MetroBuses, sistema de ônibus do Metrô de Caracas. A companhia foi fundada em 1975 pelo então presidente Carlos Andrés Perez e o transporte ligava a região leste a oeste da capital. Segundo Maduro contou em entrevistas, o objetivo da Liga Socialista era entrar nas mais diversas estruturas públicas e privadas para formar uma força sindical mais robusta no país.

Maduro então começou a organizar os trabalhadores da empresa em discussões e assembléias até fundar o Sindicato do Metrô de Caracas (Sitrameca). Ali, ele expôs aos trabalhadores a necessidade de começar um processo de transição ao socialismo, mas essa ideia só começaria a ganhar forma em 1992, quando ele conheceu um personagem que mudaria sua vida.

Naquele ano, enquanto operava a linha 472 que ligava San Bernardino a Bellas Artes, Maduro é informado por um amigo que haveria uma manifestação insurrecional de dois militares. O sindicalista olhou com desconfiança porque, segundo ele mesmo, muitos movimentos pediam a participação de sindicatos mas, alguns deles, apenas se utilizavam dessas organizações.

A surpresa de Maduro se deu quando em 4 de fevereiro ele liga a televisão e assiste ao pronunciamento do então comandante Hugo Chávez antes de sua prisão: “Antes de mais nada, gostaria de dar bom dia a todo o povo venezuelano. Esta mensagem bolivariana é dirigida aos valentes soldados que se encontram no regimento de paraquedistas de Aragua e na Brigada Blindada de Valencia. Companheiros, lamentavelmente, por agora, os objetivos que colocamos não foram atingidos na capital”.

Aquele discurso contagiou muitos venezuelanos e mudou a vida de Nicolás Maduro. O motorista de ônibus foi visitar Chávez no presídio de São Francisco de Yare logo pós sua prisão e ali começou a relação entre os dois. Na ocasião, Chávez passou 50 minutos fazendo uma leitura da conjuntura e explicando os próximos passos para mobilizar as pessoas nas ruas e os militares nos quartéis em um movimento bolivariano que, se possível, chegaria ao poder de forma pacífica.

1999: Vitória eleitoral e vida política

O ano de 1994 foi marcante para Nicolás. Após o falecimento de sua mãe, Teresa Moros de Maduro, Chávez deixou a prisão e Maduro conheceu Cilia Flores, então advogada do comandante. Os dois passaram a conviver juntos perseguidos pelas forças de segurança pelo envolvimento com Chávez e os movimentos populares. Cilia tinha já 3 filhos, que passaram a ser criados junto com Nicolás. No entanto, os dois se casariam no papel só em 2013.

Quando Chávez foi solto já contava com um grande apoio popular nas ruas. Em 1997, o comandante decidiu que tentaria, com o Movimento Quinta República (MVR), chegar ao poder pelas vias eleitorais, no pleito de 1998. O movimento era abrangente e aglutinava desde militares aposentados até sindicalizados, grupos de esquerda e religiosos. Nicolás foi um dos membros fundadores do MVR em outubro de 1997.

Chávez venceu as eleições de 1998 e começou um de seus principais projetos: uma reforma da Constituição. Maduro foi eleito então deputado constituinte pelo MVR, defendendo uma democracia participativa e protagônica. Ele foi responsável pela Comissão de Participação Política, que recebia propostas de todo o país para o novo texto. As ideias eram coletadas em um caminhão que passou por todos os cantos do país.

Depois da aprovação da nova Carta Magna, Maduro foi eleito deputado para a Assembleia Nacional em 2000, pelo Distrito de Caracas. A maior bancada já era do MVR, com 92 dos 165 deputados. Pouco tempo depois de assumir, no entanto, veio o golpe contra Chávez. Em 2002, a oposição, que já estava articulada entre as classes médias e setores empresariais venezuelanos, começou uma onda de protestos que passaram a ter maior peso com paralisações no principal setor da economia venezuelana: o petróleo. A partir daí a massificação das manifestações e o apoio empresarial impulsionaram um golpe que forçou a saída de Chávez.

Maduro foi eleito deputado depois do processo constituinte da Venezuela / ANDREW ALVAREZ / AFP

Setores militares e empresários tomaram o poder em um golpe de Estado que desencadeou uma repressão de dois dias contra os apoiadores de Chávez.

Maduro relata que, naqueles dias, ele foi orientado pelo comandante, antes de sua prisão, a tentar se salvar e fugir da repressão com Cilia Flores, o atual procurador-geral, Tarek William Saab, o ex-deputado Pedro Carreño e o deputado Angel Rodríguez. Os cinco passaram a madrugada de 11 para 12 de abril circulando por Caracas para tentar encontrar um ponto para tentar fugir. Eles conseguiram se manter dentro de um carro durante toda a noite. No dia 13, os apoiadores de Chávez vão para as ruas e pedem a volta do presidente, que terminaria voltando triunfante ao poder após uma ação da Guarda Presidencial que não aderiu ao golpe e tomou o Palácio por dentro, expulsando os golpistas.

O deputado Maduro e a relação com os EUA

Depois daqueles dias, a relação entre Estados Unidos e Venezuela ficou muito abalada pelo apoio estadunidense ao golpe. Chávez disse que havia evidências do envolvimento militar dos EUA no golpe de Estado. Por isso foi criado o Grupo de Boston, uma comissão que envolvia congressistas dos dois países para normalizar a relação. Maduro foi um dos 10 deputados que representou o Estado venezuelano e, pela primeira vez, teve um protagonismo internacional.

O grupo teve uma atuação discreta para resolver as questões diplomáticas entre EUA e Venezuela, mas a atuação de Nicolás naquele momento foi determinante para que, mais tarde, ele fosse escolhido como ministro das Relações Exteriores de Chávez.

Enquanto isso, o trabalho dele seguia na Câmara. De todas as leis discutidas no período em que foi deputado, as mais importantes foram as leis de Terras e de Desenvolvimento Agrário e a de Hidrocarbonetos. A primeira buscava uma distribuição justa da riqueza e um planejamento estratégico, democrático e participativo para a propriedade da terra e o desenvolvimento da terra e toda a atividade agrícola.

A segunda exigia que a estatal petroleira PDVSA tivesse participação majoritária em joint ventures com empresas privadas e estrangeiras. A lei também determinava o controle da venda de petróleo pela empresa estatal.

Chanceler e presidente

Maduro foi eleito presidente da Assembleia Nacional em 2005 e ficou no cargo até 7 de agosto de 2006, quando assumiu o Ministério das Relações Exteriores. Ele foi chanceler durante seis anos, em um momento crucial para a política externa venezuelana. O reconhecimento da soberania da Palestina, a aproximação com Rússia, China e Irã e o estreitamento com Cuba foram determinantes no trabalho do hoje presidente.

Mas um dos pontos principais foi a articulação regional. O fortalecimento de grupos como a  Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América -Tratado Comércio dos Povos (Alba-TCP), União de Nações Sul-Americanas (Unasur) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) foram cruciais para a colocação da Venezuela como uma liderança caribenha.

Maduro assumiu o Ministério das Relações Exteriores de Chávez em 2006 / DAVID MARIS / AFP

Outro ponto de destaque do chanceler Maduro foi o uso do petróleo para o desenvolvimento dos povos. O Petrocaribe é o grande exemplo disso. O programa de fornecimento de petróleo a países caribenhos foi criado em 2005 e durou 14 anos, sendo interrompido apenas depois das sanções estadunidenses contra a indústria petroleira venezuelana em 2019. Esse mecanismo era forma de garantir a estabilização da economia dos países caribenhos, que sempre foram dependentes da exportação de produtos primários para poder comprar outros insumos.

Mesmo com uma relação tensa hoje com os EUA, naquele período Maduro era peça-chave na relação entre Venezuela e o país norte-americano. Ele funcionava como uma espécie de despressurizador em uma relação bem incendiária. Naquele momento, não haviam sanções duras contra a economia venezuelana, mas sim problemas diplomáticos já notáveis pela troca de declarações entre os presidentes estadunidenses e Hugo Chávez. A relação, no entanto, foi piorando ao longo dos anos.

O golpe contra o ex-presidente de Honduras José Manuel Zelaya, em 2009, também foi uma página importante da chancelaria de Maduro. Ele coordenou um rechaço internacional àquele movimento e aprofundou as relações com o hondurenho, que se aproximou do chanceler até no período em que foi eleito.

Mas em 2012, Chávez anunciou que padecia de um câncer. Maduro foi um dos que esteve no hospital para receber a notícia do diagnóstico , diretamente do ex-presidente. Segundo ele, foi um dos dias em que mais chorou na sua vida. Eles começam então a discutir os próximos passos e Chávez decide se candidatar para mais um mandato.

Nicolás é escolhido como candidato a vice-presidente na chapa logo depois da vitória eleitoral, em 7 de outubro de 2012. O câncer se agravou e Chávez foi se tratar em Cuba. A partir desse momento, o rosto de Maduro, que era figura marcada em fóruns internacionais, passou a ser protagonista em Caracas e nas cidades do interior. Maduro vai assumindo cada vez mais responsabilidades e o ofício de presidente.

Naquele momento, a imprensa nacional começou a desenhar uma possível divergência entre Nicolás e o então presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello. De acordo com os jornais, eles estariam travando uma “disputa pelo poder”, algo que não se concretizou na prática.

A última aparição pública de Chávez na televisão naquele momento foi em dezembro de 2012. Em discurso, o ex-presidente afirmou que, para a continuidade da revolução, era preciso votar em Maduro. O anúncio foi feito em rede de televisão e pegou muitos de surpresa. O perfil mais discreto de Maduro, apesar da experiência, fez com que analistas internacionais apostassem em outros nomes para a candidatura do governo em 2013.

morte de Chávez foi anunciada em cadeia nacional pelo próprio Maduro. Em discurso emocionado, o então vice afirmou que aquela era a “informação mais dura e trágica que poderia transmitir ao nosso povo”.

“Depois de batalhar duramente contra uma doença durante quase dois anos, com o amor do povo, com as bênçãos do povo e com a lealdade absoluta de seus companheiros e companheiras de luta e com o amor de todos os seus familiares”, afirmou Maduro. A morte gerou uma comoção nacional e internacional. Maduro então assume o bastão e é eleito em 14 de abril como presidente da Venezuela, dando início a uma nova fase do país.

Primeiros – e duros – anos

Em 2013, Maduro assumiu prometendo “lealdade absoluta ao Comandante Chávez”. Ele havia sido eleito com 50,61% dos votos contra 49,12% de Henrique Capriles e teria que enfrentar uma oposição interna muito forte. Ainda sem o apelo que a figura de Chávez tinha, Maduro teve que se firmar na própria esquerda, para conquistar a confiança do eleitorado chavista.

A pressão interna cresceu e, naquele momento, as críticas da oposição ganharam cada vez mais eco em atores internacionais como os Estados Unidos, União Europeia e Organização dos Estados Americanos (OEA). Esse bloco pediu a recontagem dos votos, que foi garantida pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

No primeiro momento, Maduro se baseou em uma espinha dorsal do governo de Chávez, mantendo 18 ministros. Era uma estratégia para ganhar força em uma estrutura que já estava montada.

No entanto, a oposição partiu para uma saída extremista e organizou as chamadas “guarimbas”, manifestações violentas nos bairros nobres da capital. Ao mesmo tempo, o país já enfrentava uma alta na inflação, mas empresários começaram a aumentar os preços acima do ritmo inflacionário para ampliar a margem de lucro e colocaram o país em uma espiral de preços ainda maior.

Somado a isso, o então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sancionou a Lei de Defesa dos Direitos Humanos e da Sociedade Civil da Venezuela, que bloqueou ativos de mais de 50 venezuelanos no exterior. Mais tarde, com a eleição de Donald Trump nos EUA, as sanções se intensificam e a Casa Branca bloqueou completamente o setor petroleiro venezuelano. A partir daquele momento, quem quisesse negociar petróleo venezuelano não teria acesso ao mercado estadunidense.

As sanções aumentaram de ritmo e Maduro começou a lidar com uma situação incontrolável, já que cada vez mais setores da economia eram afetados. Com o setor petroleiro bloqueado, a principal entrada de dólares se fechou e Maduro passou a ter menos ferramentas para contornar uma crise que já vinha se agravando.

O governo ainda perdeu as eleições legislativas de 2015 e Maduro teve que enfrentar uma oposição que agora ocupava a maior parte das cadeiras da Assembleia Nacional. A partir daí, a articulação dos opositores em torno da extrema direita cresceu. O congresso tentou a derrubada de Maduro em 2016 com base no artigo 233, de “abandono de cargo”, mas não teve êxito.

Em 2017, novas “guarimbas” foram realizadas e a violência permanente da extrema direita se tornou um desafio cada vez maior para Maduro e as forças de esquerda.

Segunda eleição e mais sanções

Mesmo com todo esse cenário, Maduro foi para uma segunda eleição e venceu em 2018. A oposição boicotou o pleito e o presidente ganhou com 67,84% dos votos. A partir do seu segundo mandato, Maduro viveu um começo instável com mais violência interna, uma oposição que não o reconheceu como chefe do Executivo e sanções cada vez mais duras dos Estados Unidos.

Maduro foi eleito pela segunda vez em 2018 e assumiu segunda gestão em meio ao aumento das sanções dos Estados Unidos e uma pressão interna violenta da oposição / Juan BARRETO / AFP

Em 2019, o ex-deputado Juan Guaidó se autoproclamou presidente, ganhou apoio dos EUA e do Brasil –então presidido por Jair Bolsonaro (PL)– e tentou derrubar Maduro. Ele no entanto, viu fracassar a sua liderança e deixou o país em 2023 para viver em Miami.

Além disso, Maduro enfrentou a pandemia de covid-19, que colocou o país em uma recessão ainda maior e passou a ter que ampliar os gastos do Estado para comprar e distribuir vacinas, melhorar a estrutura de hospitais e implementar políticas sanitárias. Os esforços deram certo e o país contabilizou 5.856 mortes em uma população de quase 30 milhões de pessoas.

Maduro agora enfrenta uma eleição em meio a uma recuperação econômica e utiliza a superação da crise como principal bandeira. Se nos anos duros da crise a inflação acumulada de 12 meses chegou a 130.000%, no primeiro semestre de 2024 a taxa não passou de 2% ao mês.

Além disso, o mandatário conseguiu estabilizar o câmbio. Há seis meses o dólar custa 36 bolívares e a circulação da moeda nacional voltou a aumentar. Apesar da recuperação dos dados macroeconômicos, os salários não são reajustados há dois anos, e o governo reduziu os gastos públicos e colocou à venda algumas ações de empresas estatais.

Com a melhora na perspectiva econômica, Maduro segue investindo em programas sociais. Um deles foi a Missão Moradia. O programa foi criado em 2012 e tinha como objetivo construir 2 milhões de casas para as pessoas atingidas pelas chuvas, mas o projeto cresceu e se estendeu também para a população que, por motivos econômicos, não podia comprar suas casas. Em maio, o presidente entregou a casa de número 5 milhões.

Agora, diante da possibilidade de um terceiro mandato, analistas acreditam que o desafio do mandatário será driblar as mais de 900 sanções impostas pelos EUA dando continuidada às medidas de recuperação econômica, ao mesmo tempo em que aprofunda o chavismo e recupera direitos sociais afetados pela crise dos últimos anos.

Edição: Lucas Estanislau

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