Da Redação, com Boletim da Santa Sé
Neste sábado, 28, o Papa Francisco se encontrou com os estudantes da Universidade Católica de Lavaina. A instituição de ensino superior católica é a mais antiga do mundo e, em 2024, completa 600 anos.
No início de seu discurso, o Pontífice expressou sua alegria por estar reunido com todos. Ao abordar as reflexões apresentadas previamente por alguns estudantes, destacou uma que se refere ao futuro e à angústia. “Damo-nos conta de como é violento e arrogante o mal que destrói o meio ambiente e os povos”, manifestou o Santo Padre.
Contudo, ele reiterou a certeza de que a última palavra não cabe ao mal, que tem os dias contados. Por outro lado, observou Francisco, este fato “não diminui o nosso compromisso, muito pelo contrário, aumenta-o: a esperança é uma das nossas responsabilidades”.
Gratidão, missão e fidelidade
O Papa então voltou-se para outra questão apresentada pelos estudantes, referente à relação entre o cristianismo e a ecologia. Diante do que foi exposto, ele apontou três palavras para reflexão: gratidão, missão e fidelidade.
Iniciando pela gratidão, o Pontífice sublinhou a necessidade desta atitude porque a Terra não pertence à humanidade, mas lhe foi dada: “não somos donos, somos hóspedes e peregrinos sobre a terra”, exprimiu, reiterando que Deus é o primeiro a cuidar do planeta, e “nós, antes de mais, somos alvo dos cuidados de Deus”.
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Na sequência, o Santo Padre apontou a missão de preservar a beleza do mundo e cultivá-la visando ao bem de todos, sobretudo as gerações futuras. “Este é o ‘programa ecológico’ da Igreja”, afirmou Francisco, indicando porém que nenhum projeto de desenvolvimento será bem sucedido se a arrogância, a violência e a rivalidade estiverem presentes.
“Temos de ir à fonte do problema, que é o coração humano. É também daí que vem a urgência dramática da questão ecológica: da indiferença arrogante dos poderosos, que colocam sempre os interesses econômicos acima de tudo. Enquanto assim for, todos os apelos serão silenciados ou serão acolhidos apenas na medida em que forem convenientes para o funcionamento do mercado”, pontuou o Papa.
Desenvolvimento humano integral
Diante do desafio do desenvolvimento integral, o Pontífice reforçou o aspecto da fidelidade a Deus e aos homens. Uma vez que este processo diz respeito a todas as pessoas em todos os aspectos da sua vida e opõe-se a qualquer forma de opressão e de descarte, a Igreja denuncia estes abusos, empenhando-se na conversão de cada um dos seus membros à justiça e à verdade. “O desenvolvimento integral apela à nossa santidade: é vocação para uma vida justa e feliz para todos”, exprimiu o Santo Padre.
Papel da mulher na Igreja
Prosseguindo, Francisco abordou também o papel das mulheres na Igreja. Frente à violência e à injustiça, juntamente com os preconceitos ideológicos, ele apontou a necessidade de redescobrir o ponto de partida: quem é a mulher e quem é a Igreja.
“Com efeito, as mulheres e os homens são pessoas, não indivíduos; são chamados desde o ‘princípio’ para amar e serem amados. Uma vocação que é missão”, afirmou o Papa. Desta forma, “não é o consenso nem são as ideologias que sancionam o que é caraterístico da mulher, o que é feminino. A dignidade é assegurada por uma lei original, escrita não no papel, mas na carne”.
O Pontífice recordou também que a mulher, representada por Nossa Senhora, está no centro do acontecimento salvífico. Foi por meio do “sim” da Virgem Maria que o próprio Deus veio ao mundo. “A mulher é acolhimento fecundo, cuidado, dedicação vital”, salientou o Santo Padre, exortando todos a abrir os olhos aos exemplos cotidianos de amor em favor do Reino de Deus e do serviço.
Sentido dos estudos
Aproximando-se do fim de seu discurso, Francisco falou também sobre o desenvolvimento dos estudantes por meio do percurso acadêmico. Neste sentido, apresentou reflexões sobre três perguntas: Como estudar? Porquê estudar? Para quem estudar?
Em relação à primeira questão, o Papa pontuou que o estudo é sempre um caminho para o conhecimento de si mesmo. Entretanto, há um estilo comum que pode ser partilhado na comunidade universitária, estudando com aqueles que chegaram antes – professores e colegas mais experientes – e com aqueles que estão ao lado. “A cultura enquanto autocuidado implica cuidarmos uns dos outros”, ressaltou.
Sobre a segunda pergunta, o Pontífice indicou que existe uma razão que move o homem e um motivo que o atrai. Ambos devem ser bons, porque deles dependem tanto o sentido dos estudos quanto o da vida. “Não se vive para trabalhar, trabalha-se para viver”, expressou o Santo Padre, reconhecendo que para por este conceito em prática é preciso ter empenho.
Por fim, quanto à terceira questão, Francisco declarou que “estudamos para poder educar e servir os outros, antes de mais com o serviço da competência e da autoridade”. Desta forma, o grau universitário atesta aptidão para o bem comum.
Busca pela verdade
Para concluir sua fala, o Papa enfatizou um último aspecto, definido por ele como “ uma realidade maior que nos ilumina e ultrapassa”: a verdade. Sem ela, alertou, a vida humana perde o sentido: “o estudo faz sentido quando procura a verdade e, ao procurá-la, compreende que fomos feitos para a encontrar”.
“A verdade deixa-se encontrar”, prosseguiu o Pontífice: “é acolhedora, disponível e generosa”. Se o ser humano renunciar à sua busca, o estudo torna-se um instrumento de poder e controle sobre os outros. “Sede buscadores e testemunhas da verdade! Procurai ser credíveis e coerentes através das escolhas cotidianas mais simples”, exortou o Santo Padre, encerrando seu discurso.