Como fica o Brasil no teste da honestidade?

um café

Gregório José* – Uma pesquisa feita com 40 países ao longo de três anos, baseada na devolução de carteiras contendo dinheiro, e publicada pela revista Science, concluiu que Suíça, Noruega, Holanda, Dinamarca, Suécia e Nova Zelândia ocupam o topo do chamado “ranking da honestidade”, enquanto Estados Unidos, China, Portugal e Reino Unido ficaram todos abaixo da vigésima colocação. Segundo uma pesquisa do Korea Herald, um jornal inglês publicado em Seul, a taxa geral de devolução de carteiras com dinheiro corresponde no país a quase 57%.

Honestidade: essa palavrinha que parece saída direto de um livro de autoajuda que ninguém lê, mas todo mundo finge que já aplicou na vida. A tal pesquisa feita com carteiras recheadas de dinheiro (porque, sejamos honestos, quem devolve carteira vazia nem deveria entrar no ranking), colocou os suíços no topo da lista dos mais íntegros. Claro, na Suíça, a maior tentação de uma carteira cheia é decidir qual banco escolher para esconder o dinheiro.

Já o Brasil, com seu honroso 26º lugar, aparece como aquele aluno esforçado, mas que sempre esquece o caderno em casa. Vamos combinar: por aqui, honestidade é um conceito flexível, quase filosófico. Tipo filosofia de boteco: “Eu devolvi a carteira com os documentos, mas o dinheiro… é que eu tava precisando, sabe?”.

E não me venham com a velha desculpa da necessidade. Porque, olha, se honestidade fosse comida, o Brasil estava em greve de fome. É claro que a desigualdade social pesa – como bem lembrou o sociólogo Ródinei Páscoa, com sua análise digna de Victor Hugo e Tolstói – mas sejamos sinceros: não é só o sistema. Tem gente que, se puder roubar a própria sombra, pede o recibo.

Agora, a Coreia do Sul, por exemplo, dá um banho de civilidade. Lá, o povo marca lugar no café com carteiras e celulares. Aqui, você marca lugar com o amigo, e ele ainda cobra R$ 10 pra não pegar o melhor assento. E não adianta dar uma de Darcilene Souza, nossa heroína das vagas preferenciais, que jura devolver qualquer carteira – desde que tenha identificação. Sem identificação, o lema é: “Achado não é roubado, exceto se eu for pego”. Mas calma, temos nossas figuras iluminadas, como o motorista Hélio Geraldo, que proclama: “Honestidade sempre vale a pena!”. Ah, Hélio, que bom se o povo acreditasse tanto nisso quanto no WhatsApp do pastor que promete multiplicar pix.

A verdade é que a honestidade no Brasil é uma questão de perspectiva. Para uns, é devolver a carteira intacta. Para outros, é devolver a carteira e guardar a grana como “taxa de serviço”. Enquanto isso, Noel Rosa continua cantando: “E o povo já pergunta com maldade: onde está a honestidade?”.

No fim das contas, honestidade é quase como dieta: todo mundo sabe que deveria seguir, mas quem resiste a um deslize aqui e outro ali? Afinal, como diria a professora Daiane Filbrich, a honestidade talvez seja 98% esforço e 2% o sonho de viver na Nova Zelândia.

Gregório José
Jornalista/Radialista/Filósofo
Pós Graduado em Gestão Escolar
Pós Graduado em Ciências Políticas
Pós Graduado em Mediação e Conciliação
MBA em Gestão Pública
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