Ambiência organizacional (1)

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(oea)

Por professores Marcus Fleming Ângela Bessa – O considerável tempo de experiência profissional tem sido suficiente para que testemunhássemos e tivéssemos a percepção do quanto é difícil, mas nunca impossível, aprender a desenvolver uma relação capital-trabalho repleta de todos os tamanhos de desafios, embora encontremos oportunidades, avanços e retrocessos, idas e vindas, derrotas e vitórias.

Recomendaria ao leitor, caso demonstre interesse pelo assunto, que não deixe de acompanhar esta matéria jornalística até o fim, publicada às segundas-feiras, neste mesmo matutino, para não perder o fio da meada de uma longa e profunda reflexão, que se debruça sobre as relações interpessoais no trabalho. Alguns conceitos e entendimentos serão bem fundamentados como fruto de nosso aprendizado e observado os depoimentos reais de vida nas relações trabalhistas.

A princípio, é bom relembrar que todos nós temos sonhos. Tão logo saímos da adolescência, vamos nos tornando adultos, e passamos a criar nossos projetos de caráter pessoal. O que acaba se fortalecendo no senso comum, o que diz respeito a casamento, construção de família e aquisição da casa própria. Enquanto cada coisa vai acontecendo a cada vez, no seu tempo, marchamos em frente rumo a um propósito: sofrer influências e influenciar o meio ambiente e, consequentemente, ampliarmos as relações sociais.

E agora, mais do que nunca, uma boa parte da sociedade se encontra focada nos programas televisivos, compartilham mensagens nas redes sociais e, como se não bastassem, a Inteligência Artificial – IA passa a dar sua parcela de contribuição na construção de uma carreira profissional e responder a todas as nossas indagações. E, ainda, quando de frente com a informação e a notícia, muitos são os que se sensibilizam com as opiniões tornadas públicas pelos marqueteiros e influenciadores digitais.

Passamos a ter uma visão própria sobre determinado assunto, além de outros temas interessantes disponibilizados, compartilhados, discutidos e debatidos nas redes sociais. Passamos, então, a observar o que a vida nos propõe e oferece como alternativas. Escolhas são feitas, decisões julgadas importantes são tomadas, diante do futuro que antes esperávamos por ele, agora não, este futuro já chegou. Por vias de consequência, seguimos a diante com criatividade e inovação, esperando pela aprovação dos nossos pares, amigos, colaboradores, gestores, familiares.

Daí, então, ao longo da vida vamos adquirindo e acumulando novos saberes, conhecimentos, desenvolvendo uma cultura própria, no que traz como resultado a organização do pensamento, emitimos opinião, juízo de valor em conformidade com a realidade que se apresenta diante de nossos olhos, em função de nosso autoconhecimento e cultura adquirida.

Quando entramos no mercado de trabalho, na verdade vamos nos defrontando com novas realidades, pois trazemos de fora para dentro desse novo ambiente, um pouco de tudo que continuamente aprendemos pela vida, construindo pensamentos, e moldando comportamentos que passamos a adotar nesse novo tipo de convívio social.

Oportunidades não faltam para que mostremos um pouco do que somos, pelas nossas ações, atitudes que revelam momentaneamente nossa aparência exterior e interior. No nosso interior, estão as emoções, os sentimentos, as frustrações, a razão, a impulsividade, a prudência, as alegrias, o contentamento, até mesmo o sofrimento. É inevitável deixar de fazer parte de um convívio social onde ensinamos, aprendemos, recebemos sugestões, apresentamos ideias, construímos e compartilhamos conhecimentos e saberes que impactam nossa personalidade sob um prisma positivo ou negativo.

Este último, por sua vez dependendo das fontes de informações, estas nos cobiçam a enxergar o mundo por uma visão míope e uma lógica distorcida. Em contrapartida, quando estamos motivados e de autoestima elevada, começamos a realizar o sonho de nos tornarmos mais produtivos, criativos e empreendedores individual e coletivamente, pois queremos mesmo é ser útil à sociedade com ética e idoneidade moral elevada para realizarmos conquistas e obtermos vitórias.

A Bíblia numa visão abrangente sobre o trabalho, assim o vê “como uma forma de expressar a criação, a necessidade de cuidar da terra, do campo, da flora, da fauna, enfim, da natureza. E também uma maneira de desenvolvermos um aprendizado sobre o compromisso de sustentar a família e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária”.

Ao longo de pouco tempo começamos a perceber que podemos dar frutos ao construir relacionamentos mais saudáveis, pois muito bem sabemos que é imprescindível que nos conectemos em sociedade como embaixadores portadores de uma educação com atitudes e comportamentos éticos, responsáveis por construir uma carreira e um perfil profissional exemplar.

É oportuno que citemos uma visão marxista do trabalho. Para Karl Marx, “o conceito de trabalho é fundamental para a compreensão da sociedade e da economia capitalista. O trabalho é visto como uma atividade humana essencial para a produção de bens e serviços, mas também como uma fonte de alienação e exploração sobre o sistema capitalista.

O trabalho se destaca como uma manifestação de nosso interior, por desejarmos ardentemente sermos produtivos. Nos parece que na visão da psicologia o trabalho passa a funcionar como uma terapia ocupacional que satisfaz nosso ego, pela vontade e o prazer de empreendermos, tanto individual quanto coletivamente e assim levarmos o homem a pensar seriamente em construir uma sociedade melhor, com políticas públicas que atendam aos principais e mais legítimos interesses da população, seja lá por habitação, emprego, renda, segurança, e uma estabilidade sob o ponto de vista social, econômico e emocional.

E qual a ambiência organizacional que, por acaso, pode nos tornar mais produtivos no trabalho?
Podemos assim entender a ambiência como uma atmosfera geral dentro do ambiente de trabalho, no que podemos deduzir quanto às exigências de relações interpessoais, reforço da cultura e dos valores que formam uma personalidade institucional.

O ambiente, assim o consideramos quando nos referimos diretamente ao ambiente interno, à estrutura organizacional, pessoas colaboradoras, sistema operacional, tecnologias à disposição do desenvolvimento do saber, do conhecimento e de um realizar existencial e concreto. E quanto ao ambiente externo, aquele ao qual nos submetemos a avaliar sob o ponto de vista econômico, político, tecnológico, social no que nos baseamos para se traçar os objetivos estratégicos que envolvam direta e indiretamente os colaboradores, os fornecedores, os clientes, os acionistas, o mercado e a sociedade (os stakeholders).

Complementando o entendimento sobre o sentido da existência das organizações, a princípio, há toda uma maneira de proceder, uma preocupação com a integração do novo funcionário em sua equipe de trabalho. Há organizações que têm uma excelente política de gestão de pessoas, contemplando o início de um processo de integração, prevê-se a participação dos colaboradores em programas de treinamento, desenrola-se o processo de qualificação profissional para que haja uma real identificação da personalidade, do perfil profissiográfico, frente às tarefas desenvolvidas e, consequentemente, vindo a resultar na socialização no ambiente de trabalho.

Na linguagem das relações trabalhistas, há um termo familiarizado entre os terapeutas do comportamento que diz respeito ao CONTRATO PSICOLÓGICO. Ou seja, o que a psicologia diz sobre isso? “O contrato psicológico refere-se ao conjunto de crenças e expectativas que um indivíduo tem sobre suas obrigações e direitos em relação a uma organização ou pessoa, mesmo que não haja um contrato formal escrito. É uma “promessa “implícita” que molda as interações e o relacionamento entre as partes”.

Enfim, constatamos por esses longos anos de carreira profissional, uma verdade irrefutável, ocorrendo na vida empresarial, é que o crescimento e o sucesso dependem da capacidade do CEO e de todos os colaboradores em se adaptarem às mudanças.

Tendo passado por empresas da iniciativa privada e setores públicos – municipal, estadual e federal temos sensibilidade para fazer uma leitura dos conflitos organizacionais que ocorrem com relativa frequência. Realmente, se estivermos espertos, no nosso dia a dia, notaremos que nosso comportamento está sempre sendo bem ou mal observado, interpretado nos momentos que nos expomos de forma transparente por gestos, expressões físicas e emocionais, pensamentos, palavras e ideias. Sendo que há momentos que demonstramos também as tendências de caráter ideológico, político-partidário.

Enfim, sob este aspecto há como materializarmos nossos contratos formal e informal de trabalho, ao colocar para fora os sentimentos e emoções, nossas fraquezas e fortalezas para construir uma carreira de sucesso ou insucesso. Não depende exclusivamente de uma iniciativa individualizada, contudo de um alicerce construído sob uma plataforma organizacional fundamentada em políticas que auxiliam poderosamente a formulação de estratégias e a gestão de pessoas.

O respectivo contrato formal, este sim, depois de assinado contempla todas as cláusulas que regem as relações capital-trabalho, além de contar, ainda, com a expectativa de que na empresa estejam disponibilizados o Código de Ética, o Estatuto Social, e demais instruções normativas que regulamentam e servem de regras de orientação.

Oportunamente, estaremos desenvolvendo uma reflexão sobre os vetores considerados primordiais para o implemento de uma política de gestão de pessoas, que no nosso entendimento compreendem: comunicação, espírito colaborativo, respeito e considerações pessoais mútuas, dirimir conflitos, empatia, resiliência e o engajamento como imprescindíveis para se buscar um ambiente laboral agradável para uma melhor convivência.

O planejamento empresarial deve contemplar ações que garantam a SUSTENTABILIDADE, e os objetivos maiores de AGREGAR VALOR a tudo que se produz dentro da organização, dando-se inclusive o devido significado ao papel dos colaboradores que atuam como atores protagonistas e coadjuvantes na condução dos negócios públicos e privados.

A expectativa é de que a visão sistêmica e a visão holística propiciem uma gestão estratégica de qualidade, de modo a se internalizar uma cultura organizacional positiva, construtiva a partir da leitura da vida organizacional no passado, presente e construção de um futuro com perspectivas de aperfeiçoamento da gestão.

* Prof. Adm. Marcus Vinicius de L. Fleming, ex-professor universitário, auditor de controle externo, cursos de extensão universitária, pós-graduação em planejamento e Didática do Ensino Superior, Mestre em Administração pela UFMG.
* Profa. Adm. Msc. Angela Maria Bessa Fleming, pós-graduada em Administração Pública, Mestre em Engenharia Civil – UFF/RJ e Presidente do Conselho Regional de Administração do Estado do Acre – CRA-AC.

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