Representantes do governo e comunidade da Floresta do Antimary estiveram reunidos no último sábado, 1, para discutir várias necessidades dos moradores, mas principalmente a aprovação e execução do novo programa de manejo para a região. Numa reunião movimentada, que deu voz a todos que quiseram se manifestar, os moradores aprovaram por unanimidade o programa de manejo florestal para os próximos doze meses.
A proposta do manejo foi oferecida pela empresa Complexo Industrial de Xapuri, que poderá fazer em um ano a exploração e processamento de mil hectares de floresta que estão na responsabilidade de três associações da região: Associação dos Seringueiros da Floresta Estadual do Antimary (Asfea), Associação Unidos da Floresta Estadual do Antimary (Aufea) e Associação Verdes Florestas do Igarapé Sossego (Avefis). O acordo foi fechado por meio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis (Sedens).
Segundo o secretário da Sedens, todos concordaram na forma de pagamento igual à do ano passado, que será de R$ 880 para cada família durante os doze meses, o que dá R$ 10.566 por ano. “O acordo vai beneficiar mais de 50 famílias, o que representa mais de 260 pessoas. Além disso, os moradores do Antimary recebem uma importante novidade este ano: a empresa responsável pela exploração irá fazer cerca de 70% do beneficiamento da madeira direto no Antimary, instalando uma fábrica que deve gerar 40 empregos diretos.
Comunidade comemora
A reserva do Antimary é exclusiva para a exploração a partir de regras específicas de sua unidade, sendo que apenas mil hectares por ano podem ser explorados. “Este é o quarto ano que é feito o manejo florestal na região, e cada vez aperfeiçoamos mais o beneficiamento para a comunidade”, conta o secretário da Sedens, Edvaldo Magalhães.
Para a presidente da Associação dos Seringueiros da Floresta Estadual do Antimary (Asfea), Raimunda Bento, a comunidade estava meio triste com a falta de interesse das empresas na exploração da região. “Mas agora está todo mundo muito feliz, ainda mais com essa possibilidade de gerar empregos aqui dentro mesmo.”
Líder comunitário por muitos anos, “Seu Lira” é outro dos moradores que aprova o acordo: “Está sendo uma coisa boa mesmo. Têm o dinheiro da madeira e agora o emprego. Ninguém imaginava isso. Vai gerar emprego para quem quiser, e quem não souber mexer com as máquinas vai poder aprender”, disse.
Já um dos atuais líderes, Marinaldo de Freitas, fez questão de deixar claro como o modelo de manejo implantado nos últimos anos fez bem para os moradores. “Nos últimos quatro anos ganhamos muitas melhorias, avanços. As coisas estão dando certo. E foi o manejo que trouxe isso. É dinheiro para o povo, ramal arrumado, saúde. Eu tenho orgulho de dizer que sou morador do Antimary”, disse ele.
Melhorias e conquistas
O Complexo Industrial de Xapuri é uma empresa nova que assume não só o manejo florestal do Antimary, mas também a administração e reforma da fábrica de tacos em Xapuri. Antonio José Leal, representante do complexo no Acre, conta que a ideia de construir uma indústria de beneficiamento direto no Antimary partiu da própria empresa. “Fizemos a vistoria e vimos essa oportunidade de criar uma indústria aqui mesmo, com os empregos diretos e um processo que será três vezes mais sustentável”, explica.
A reunião com a comunidade não discutiu apenas a forma de manejo, mas também outros pontos essenciais. Foram dados a prestação de contas dos ramais abertos e o cronograma de piçarramento do ramal principal que corta a reserva. Também foi decidida a montagem de um consultório de atendimento médico para a comunidade, que hoje conta com a presença direta de uma enfermeira. E foi iniciado um diálogo com o Incra sobre uma ocupação irregular de mais de quatro anos na floresta, com o objetivo de encontrar uma solução.
Morador na floresta do Antimary há mais de 17 anos, João Camilo de Assis não esconde a satisfação: “A gente não tem do que falar mal. Tem gente que vem de fora sem conhecer nossa realidade, só para falar mentiras, ofender, mas estamos sendo muito bem atendidos aqui dentro. Hoje na minha casa chega-se de carro, de moto. Antes eram oito horas ‘batendo perna’ para chegar do ramal até a estrada”.