A estudante de medicina Thaís Pordeus Leite Costa, 22 anos, denunciou à Polícia Civil de Maringá (PR), na semana passada, o empresário Jimmy Levy Barbosa Jr., 41 anos, ex-namorado dela, por estupro, tortura e lesão corporal. Ambos são do Acre, sendo que o empresário, filho de uma família influente no Estado, mora em Rio Branco, e a jovem em Maringá, onde estuda numa universidade particular.
Após a descoberta, o empresário teria forçado a jovem a manter relações sexuais contra a vontade dela. O estupro teria sido registrado em vídeo e fotos. Ela relatou ter sido agredida com tapas, socos e cotoveladas. Além disso, o empresário usou uma máquina elétrica, comprada no Paraguai, para aplicar choques no pescoço e nas pernas da vítima.
As agressões não cessaram após o casal regressar para Maringá, na segunda-feira (15). A universitária contou à polícia ter desmaiado após ter o pescoço torcido pelo ex-namorado e de ter sido novamente vítima de socos e tapas para que permitisse o acesso dele ao perfil dela na rede social Facebook.
Segundo a estudante, o empresário Jimmy Levy Barbosa Jr. teria ameaçado a família dela caso o denunciasse à polícia. O empresário chegou a ocupar o apartamento da vítima e a se recusar a sair do mesmo.
A Polícia Civil de Maringá intimou o empresário e abriu inquérito para investigar as acusações de estupro, lesão corporal e crimes contra a pessoa. O empreesário nega todas as acusações. Ambos foram submetidos a exame de corpo de delito no Instituto Médico-Legal da cidade.
Thaís Pordeus procurou o Blog da Amazônia e concedeu entrevista exclusiva sobre o drama dela.
Por que decidiu assumir publicamente a denúncia contra o agressor?
Porque sei que não sou a primeira vítima dele. Se ninguém denunciá-lo, isso nunca vai parar. Depois de tantos choques elétricos que levei, poderia nem estar viva. Mas Deus é maior e me deu essa nova chance. Passei por tudo isso e não vou recuar em nenhum momento. Espero que a justiça seja feita e que nenhuma mulher mais seja agredida por aquela pessoa. Peço que todas as mulheres, vítimas de violência, denunciem, que não tenham medo. Isso tem que acabar.
Quando e onde o conheceu?
Eu o conheci num aeroporto, na Bolívia, em janeiro deste ano, mas nosso namoro havia terminado em agosto.
Como era o relacionamento de vocês?
Era bom, normal. Nunca pensei que ele fosse fazer o que fez comigo. Ele sempre me ajudou muito, mas a distância acabou desgastando o relacionamento e terminamos. Ele é muito controlador. Estava pagando para alguém, na minha sala, fornecer informações sobre com quem eu conversava, que horas eu saía da faculdade, se eu estava ou não dentro da sala de aula.
Ele mantinha você, custeava as suas despesas?
Não. Para isso tenho pai e mãe. Mas ele sempre quis me ajudar financeiramente, sim. Às vezes me ajudava, mas me manter nunca.
Você sabe como eram os relacionamentos anteriores dele?
Não, mas ele sempre falava que a mãe da filha dele tinha surtado de ciúme dele por causa da própria filha e por isso tinha acabado o relacionamento.
Qual foi o pior momento?
Foi quando aplicou choques elétricos. Eu me tremia muito. Eram 5000 volts e pensei que fosse morrer
Onde aplicou os choques?
No pescoço e na perna. Ele também me deu muitos socos na cabeça e eu desmaie.
O que alegava?
Ele viu mensagens de um rapaz no meu telefone. Questionada, confirmei que havia ficado com o rapaz. Ele fingiu que estava tudo bem e fomos para a igreja. Quando voltamos, ele deu um tapa na minha perna e disse que o rapaz iria pagar por ter ficado comigo. Tomou o meu telefone e cada vez que chegava alguma mensagem eu apanhava mais.
Estava com ele quando a máquina de choque elétrico foi comprada?
Sim, estava. Foi comprada no Paraguai, mas também viajei com ele até a Argentina.
Ele explicou o motivo de comprar a máquina?
Ele disse que tinha uma máquina de choque, mas que a mesma tinha ficado com um primo dele, que estava levando uma nova máquina porque não tinha mais a dele.
O seu ex-namorado também usou uma filmadora?
Ele filmou todo o ato sexual, mandou eu fazer varias posições e ficou fotografando. Ele também mandava eu dizer que eu era uma puta. Mandava eu falar no vídeo que eu tinha dado para outro cara no meu apartamento e logo em seguida me dava socos na cara. Ele todo o tempo afirmava ter razão. Negou tudo o que fez contra mim ao prestar depoimento à polícia.
Como você escapou?
Eu fingi que estava tudo bem, que não ia denunciá-lo, que nunca ia falar nada para ninguém. Ele me levou para casa. Na manhã seguinte saí para pagar meu aluguel e ele mandou que eu deixasse o celular. Voltei para casa e fui para a faculdade. Foi ele quem me levou até a faculdade. Depois foi me buscar em um carro locado por ele, placa HIF-4805. Era um Fiat Uno com a placa de Belo Horizonte. Esperei que devolvesse o carro e pegamos um táxi. Ele ficou no meu apartamento e eu fui para a faculdade. De lá, corri com minhas amigas para a Delegacia da Mulher, onde fiz a denúncia.
No Acre, a sua família foi avisada. Como reagiu?
Sim, minha família foi avisada. Estão todos me apoiando e também fizeram denúncia em Rio Branco. Ele ameaçou fazer alguma coisa de ruim contra meus familiares se eu o denunciasse à polícia. Estou com medida protetiva. Ele não pode chegar 200 metros perto de mim porque chegou a me ameaçar de morte. Disse que não precisava sujar as mãos, que tinha quem fizesse o serviço sujo para ele.
Por que não foi preso?
Porque, segundo a delegada, ele só poderia ser preso se fosse pego em flagrante. Do contrário, a delegada estaria cometendo abuso de autoridade.
Quando você fez exame de corpo de delito?
Fiz o exame na sexta-feira, pois não havia médico legista na terça e nem na quarta. O laudo só sai na semana que vem.
Ele já procurou você de novo? Você está no seu apartamento ou protegida na casa de amigos?
Não procurou. Ele já prestou depoimento à polícia, mas negou tudo. Na sexta-feira, também estava no Instituto Médico Legal de Maringá, para fazer o exame de corpo de delito.
Algo a acrescentar?
Ele torceu muito meu pescoço, tentou me sufocar com uma blusa dele e me deu os choques. Ele dizia que ia furar meus olhos e puxava meus olhos com os dedos. Daí pegou uma caneta e colocou do lado do meu olho e perguntava se eu tinha medo de ficar cega. Ele pedia para que eu escolhesse se queria perder um dente ou um olho, me dava cotoveladas na barriga, na escápula e apertava meus seios.
Admirável a sua coragem, Thais.
Obrigada. Foi muito difícil, mas estou viva.