Autor: Dr. Drauzio Varela
Reclama pro Bispo
Os brasileiros não param de engordar.
Estão acima do peso 51% dos adultos (eram 43%, em 2006). São classificados como obesos 17% (eram 11%, em 2006).
O futuro não parece promissor: um terço das crianças de cinco a nove anos tem excesso de peso.
A seguirmos nessa toada, daqui a pouco empataremos com os norte-americanos. Lá, três em cada quatro adultos carregam sobrepeso. Mais de 30% da população caem na faixa da obesidade.
Enquanto as medidas para conter a epidemia no Brasil têm sido tímidas, faz tempo que os Estados Unidos declararam guerra às cadeias de “fast food”, aos alimentos processados, às gôndolas dos supermercados, aos refrigerantes, às cantinas escolares, às porções gigantescas dos restaurantes e às tecnologias que mantêm crianças e adultos sentados o dia inteiro: TV, videogames, internet, computadores.
Guerra perdida. Projeções estimam que em 2030, cerca de 50% dos cidadãos daquele país cairão na faixa de obesidade, isto é, terão índice de massa corpórea (IMC = peso/altura x altura) acima de 30.
Teoricamente, o problema da obesidade pode ser resumido numa equação singela: quem ingere mais calorias do que gasta, ganha peso; quem faz o oposto, emagrece.
Seria ridículo negar que a agitação e as comodidades da vida moderna, a publicidade, a disponibilidade e o baixo custo de alimentos altamente calóricos, conspiram a favor da disseminação da epidemia, mas jogar em fatores ambientais a culpa pela gordura que você acumulou no abdômen, não vai ajudá-lo a evitar as complicações da obesidade.
O McDonald’s, as padarias, os fabricantes de doces, chocolates, refrigerantes, cervejas e sucos adocicados são comerciantes interessados no lucro, como os demais. Atrás dele, vendem o que os fregueses gostam de consumir, não têm o poder de empurrar calorias goela abaixo dos transeuntes. As pessoas é que entram em seus estabelecimentos e escolhem as mercadorias.
O dia em que todos tivermos poder aquisitivo e a consciência de que dietas ricas em vegetais, com quantidades moderadas de carboidratos e gorduras são mais saudáveis, e agirmos de acordo com essa convicção, eles mudarão a composição de seus produtos ou cairão fora do mercado.
A responsabilidade não é só deles, é nossa. Assumi-la é o primeiro passo para enfrentar a obesidade. A única exceção é a das crianças, que ainda não amadureceram o suficiente para resistir à tentação dos comerciais de TV e das ofertas das cantinas escolares, muito menos à orgia de balas, bombons e biscoitos recheados que guardamos no armário de casa.
Há carros que fazem vinte quilômetros com um litro de gasolina, enquanto outros não chegam a dez. Da mesma forma, existem organismos que consomem muita energia para manter as funções vitais (circulação, respiração, digestão, atividade cerebral, etc.); outros são mais econômicos, capazes de executá-las com menor gasto energético.
Estes engordam só de pensar no bolo de chocolate; aqueles podem comer à vontade, são os “magros de ruim” (se os gordinhos pudessem, esganariam todos).
É justo? Lógico que não, a natureza é injusta e impiedosa.
Se você vive revoltado com seu metabolismo, vai fazer o quê? Reclamar pro bispo? Xingar a mãe dos que te conceberam?
O corpo humano é uma máquina construída para o movimento. Se você precisa ou faz questão de passar o dia sentado, a liberdade à mesa fica comprometida.
Se no seu dia não sobra um minuto para fazer exercício, você está vivendo errado, está deixando de levar em consideração seu bem mais precioso: o corpo.
Enquanto não dá um jeito nessa vida miserável, aumente a atividade física no local em que estiver: suba escada, fale ao telefone dando volta na mesa, alongue os caminhos a pé, abaixe e levante o tempo inteiro, não ande a passos de lesma. No começo, vão achar que você perdeu o juízo, mas o povo se acostuma.
Sejamos claros: a medicina não sabe tratar obesidade. Descontados os conselhos dietéticos ou as cirurgias bariátricas indicadas para os casos extremos, quase nada temos a oferecer.
Se os médicos não dispõem da pílula mágica, a responsabilidade com o peso e a sobrevivência é individual. É cada um por si e Deus por ninguém, porque gula é um dos pecados capitais.
Vídeo – 3 minutos com Drauzio Varela